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SESSÃO 6: ESTUDO DE CASO


OBJECTIVO

No decurso desta sessão, os técnicos de campo aplicam os seus conhecimentos em nutrição e horticultura a um estudo de caso, a fim de se prepararem para aplicar estes conhecimentos a uma situação real.

FIGURA 6.1
Algumas culturas hortícolas típicas

ABORDAGEM GERAL

Até ao momento, a maior parte das informações técnicas contidas neste módulo de formação foi abordada de forma teórica. As outras sessões de formação preparam os participantes para pôr em prática os conhecimentos adquiridos. Esta sessão revê de forma dinâmica os conhecimentos e conceitos já desenvolvidos, aplicando-os depois num estudo de caso sobre a situação concreta de uma família.

Os participantes são "convidados" a analisar um caso e a discutir sobre as soluções e acções possíveis que as pessoas nele envolvidas poderiam pôr em prática para melhorar a produtividade da sua horta, aumentar e diversificar o seu aprovisionamento alimentar, e melhorar o valor nutritivo do seu regime alimentar. Devem ser examinadas várias soluções possíveis, incluindo acções que os membros da família estudada podem iniciar imediatamente (por exemplo, aconselhar a mãe e o pai da família a dar uma refeição suplementar ao seu filho todos os dias) e outras acções que podem exigir mais tempo para melhorar a nutrição da família (por exemplo diversificar a produção vegetal).

ACTIVIDADES

O estudo de caso descreve a situação de uma família numa região semi-árida da África Austral. É aconselhável que os formadores de outras regiões africanas, em particular das zonas tropicais húmidas, criem o seu próprio estudo de caso, ou adaptem este de forma a que reflicta a situação agrícola, alimentar e nutricional da região e tenha em consideração os obstáculos com que as famílias rurais se confrontam, assim como as possibilidades de os ultrapassarem.

Estudo de caso. O exercício deve começar em sessão plenária. Os participantes devem dispor de 20 minutos para rever as notas sobre o estudo de caso e discutir o significado de cada informação, identificando e enumerando, num «papel gigante», os principais problemas levantados no estudo. O formador deve assegurar-se de que os problemas que se inter-relacionam sejam reagrupados, a fim de que cada grupo possa identificar mais facilmente os principais problemas. Não se devem identificar mais do que quatro ou cinco problemas principais. Os técnicos da extensão agrícola dividem-se então em pequenos grupos, e cada grupo selecciona um dos problemas principais que considere como o mais importante no contexto local.

A análise aprofundada de cada problema pode então iniciar-se. O formador explica que, nas situações de campo, a análise das causas dos principais problemas identificados é feita tendo em vista certos grupos alvo (por exemplo, mulheres responsáveis pelas hortas, camponeses pobres, mulheres com crianças pequenas). A formação de um grupo alvo permite garantir que as pessoas mais afectadas por um problema em particular e aquelas que nos podem informar melhor sobre esse problema trabalhem em conjunto para analisar as suas causas e encontrar soluções.

Os participantes devem trabalhar em grupos para elaborar um modelo causal do problema identificado. Este exercício será realizado tendo por base a informação disponível relativamente ao estudo de caso e o conhecimento que cada participante tem da situação local, de forma a determinar as causas de cada problema. Ao analisarem as causas de um problema, os participantes deverão também considerar alguns dos meios que podem permitir às famílias ou às comunidades ultrapassarem esse problema (por exemplo, através de grupos locais de ajuda mútua, trabalhando em conjunto ou repartindo os recursos), e deverão reflectir nos obstáculos que os impedem de resolver eles próprios esses problemas. Quando as famílias não possuem os meios para resolver por elas próprias os problemas ou quando a ajuda da comunidade não é suficiente, será necessário recorrer a uma apoio exterior do governo ou de outras instituições.

Assim que os grupos tenham terminado a sua análise, cada um deles será convidado a escolher uma ou duas causas do problema que, segundo eles, possam ser eliminadas ou pelo menos atenuadas.

Cada grupo apresentará, então, em sessão plenária, o seu modelo causal e as soluções propostas. O representante de cada grupo deverá explicar porque é que o seu grupo escolheu determinadas causas e soluções para resolver o problema.

Na última etapa, os participantes devem chegar a acordo sobre as causas principais dos problemas que desejam resolver através de intervenções locais. As causas são enumeradas num quadro de conferência. Se não se conseguir chegar a um acordo na discussão em sessão plenária, o formador pedirá aos membros do grupo para votarem a decisão final.

O formador explica que o objectivo principal da análise causal é identificar as causas principais ou as causas subjacentes dos problemas identificados, de modo a poder propor acções e intervenções que possam ser postas em prática para eliminar essas causas. É, no entanto, irrealista determinar acções para cada causa identificada. Os grupos são encorajados a reagrupar sob a forma de temas as causas estreitamente ligadas entre si, como por exemplo:

O formador distribui o diagnóstico do estudo de caso para que os participantes possam compará-lo com o seu próprio diagnóstico da situação.

Fundamentando-se nos resultados das discussões, os grupos deverão preparar uma lista de recomendações prioritárias para a família estudada, visando melhorar a sua situação alimentar e nutricional. Deverão igualmente ser capazes de explicar e justificar a escolha das acções ou das intervenções propostas.

MATERIAL NECESSÁRIO

NOTAS SOBRE O ESTUDO DE CASO

1. A família Fonseca tem seis membros (o senhor Fonseca, a senhora Fonseca e os seus quatro filhos, José, Francisco, Madalena e Maria, com 14, 12, 5 e 1 ano de idade, respectivamente). O senhor Fonseca trabalha longe de casa e só pode participar nos trabalhos da horta e da quinta durante as suas férias anuais, que coincidem com o início da estação das chuvas. Normalmente, ele ocupa-se da preparação da terra e da plantação das culturas de campo aberto. O resto do trabalho agrícola, nomeadamente a monda e a colheita, assim como todas as actividades pós-colheita, tais como a armazenagem, o processamento dos alimentos e a sua comercialização, é feita pela senhora Fonseca com a ajuda dos dois filhos mais velhos, José e Francisco, que vão à escola todas as manhãs cedo e ajudam a sua mãe quando regressam a casa e durante as férias escolares.

2. Há oito anos, a família Fonseca vivia numa aldeia situada a 400 km de distância, num vale muito fértil. Foram realojados nesta localidade por causa de um projecto de construção de uma barragem. O resto dos seus parentes permaneceu na aldeia de origem porque os seus campos não se situavam na zona escolhida para a construção da barragem.

3. A família recebeu 2,5 hectares de terra agrícola, dos quais 90% situados num planalto e os restantes 10% num vale húmido. Os Fonsecas instalaram uma horta de 300 m2 neste vale, de solo argiloso e com várias termiteiras; as outras terras da quinta têm solo arenoso e, portanto, estéril, com uma fina camada de terra arável. A região compreende uma estação de chuvas bem precisa (de Novembro a Março) e uma longa estação seca bastante quente, só com dois ou três meses relativamente frescos. As terras estão situadas a 4 km de distância da habitação.

4. As principais culturas pluviais de campo aberto praticadas pelos Fonsecas são o milho--miúdo, o milho, um pouco de mandioca, a batata-doce, o amendoim, o feijão-nhemba, o feijão, o feijão-bambara e a abóbora. Como o milho-miúdo é uma cultura que exige uma grande intensidade de mão-de-obra e de fraco rendimento se comparada com o milho, a família está a reduzir pouco a pouco a superfície reservada ao milho-miúdo. No início das chuvas, rebentam espontaneamente variedades locais semi-selvagens de legumes de folha verde, e a senhora Fonseca deixa-as crescer entre as plantas cultivadas. O girassol e o algodão são as principais culturas comerciais praticadas pela família.

5. O milho é plantado na horta durante a estação das chuvas. Durante a estação seca, os Fonsecas utilizam somente 25% da horta e plantam diferentes legumes: tomate, pimento, cebola, amaranto, repolho, couve verde, quiabo e feijão. Os legumes de folha são muitas vezes atacados pelos insectos como, por exemplo, os gafanhotos. Na horta, existem também três grandes mangueiras, duas papaieiras de cinco anos e cana-de-açúcar. Pouco tempo depois da chegada da família à aldeia, o senhor Fonseca fez um poço pouco fundo que fornece água para regar, para beber e para uso da família. Os dois filhos mais velhos ajudam a mãe nos trabalhos da quinta e de horticultura e vão buscar água para a casa. O Quadro 6.1 enumera as principais culturas praticadas na horta e na quinta dos Fonsecas.

QUADRO 6.1
Culturas praticadas na horta do estudo de caso

Cultura

Número de plantas

Área
(m2)

Plantas productivas
(%)

Abóbora, folhas


10

100

Amarantos


10


Amendoim


100

50

Batata-doce


150

70

Cana-de-açúcar


100

Colheita segundo a procura

Cebola


10


Couve verde


20

Em continuidade

Feijão


150

50

Feijão-nhemba


50

100

Mandioca


300

100

Manga

1


100

Milho


500

75

Milho-miúdo


300

70

Repolho


10


Papaia

2


60

Quiabo


20

100

Tomate


5


6. Um técnico extensionista visita os Fonsecas duas vezes por ano (uma vez no início da estação agrícola e outra perto do período da colheita). Para além de avaliar o estado das culturas e preparar relatórios para a sede de distrito, o agente dá conselhos técnicos sobre a cultura do milho, do algodão e do girassol.

7. Na quinta dos Fonsecas pode haver escassez sazonal do alimento de base. A colheita de cereais satisfaz as necessidades da família apenas cinco meses. Depois da colheita, a família come três vezes por dia, mas dois meses depois da colheita o número de refeições é reduzido a duas, para que as reservas permitam esperar pela próxima colheita; por fim, durante uma boa parte dos quatro meses da estação das chuvas, a família não faz mais do que uma refeição por dia. Geralmente, a mandioca não é utilizada para preparar o prato principal, a não ser quando as reservas de cereais são escassas. Du-rante a estação das chuvas, o processamento da mandioca torna-se um problema porque muitas vezes não há sol suficiente para a secagem da mesma, uma vez moída. Quando não há farinha de mandioca para preparar o prato de base, a senhora Fonseca tem de utilizar os legumes de folha verde (folhas de abóbora, e de feijão-nhemba e de vários legumes semi-selvagens), abundantes nesta altura do ano. A senhora Fonseca poderá apenas juntar um pouco de pasta de amendoim ao prato de vegetais dado que, nesta altura do ano, as reservas de feijão e amendoim estão no ponto mais baixo.

8. Durante a estação seca, a família não tem ingredientes suficientes para preparar o prato de acompanhamento. As culturas da horta têm baixos rendimentos devido à falta de água e de mão-de-obra, bem como aos prejuízos causados pelos insectos. De vez em quando, a senhora Fonseca compra um peixe grande ao vendedor que passa periodicamente na aldeia.

9. Para além dos artigos não alimentares, como livros e vestuário para a escola, o sabão ou o combustível para a cozinha, a senhora Fonseca compra, com o dinheiro proveniente da venda do algodão e do girassol, outros géneros alimentares como óleo para cozinhar, sal e açúcar. O senhor Fonseca compra habitualmente pequenas quantidades de adubo e de sementes de milho, girassol e algodão, que leva consigo quando regressa a casa para as suas férias anuais, no início da estação das chuvas.

10. O regime alimentar da família inclui milho, milho-miúdo ou mandioca, que servem para preparar uma papa espessa servida com um prato de acompanhamento composto de legumes. Durante a estação das chuvas, o prato de acompanhamento é preparado com legumes de folha e, conforme as disponibilidades, com pasta de amendoim, de tomate ou de cebolas e de óleo. Durante a colheita e algum tempo depois dela, a senhora Fonseca varia muitas vezes o prato de acompanhamento, alternando feijão, feijão-nhemba e peixe. Contudo, três ou quatro meses depois da colheita, à medida que a reserva de leguminosas diminui, utiliza-as menos frequentemente para o prato de acompanhamento e serve-se de novo dos legumes de folha da horta. Como estes últimos são frequentemente insuficientes, ela compra de vez em quando peixe seco para os complementar. A família não consome carne a não ser em ocasiões festivas (na maior parte das vezes frango).

11. Os filhos dos Fonsecas comem muitos frutos da época (de Janeiro a Fevereiro mangas, e de Maio a Dezembro, papaias). Os frutos são habitualmente consumidos entre as refeições. Outras refeições ligeiras incluem milho verde cozido ou grelhado e, segundo a estação, batatas doces ou mandioca cozidas, cana-de-açúcar e amendoins. Como as mangas são muito abundantes e as crianças não as podem consumir todas, grande parte desperdiça-se. Não há mercado local para as mangas uma vez que a maior parte das pessoas possuem mangueiras. Além disso, a senhora Fonseca não pode ir até à cidade mais próxima para as vender, pois não tem ninguém com quem deixar as crianças pequenas na sua ausência.

12. Quando a Maria atingiu os 7 meses, a senhora Fonseca começou a completar a sua alimentação dando-lhe duas vezes por dia uma papa de milho ou de milho-miúdo, ligeiramente salgada. Quando havia açúcar, a senhora Fonseca juntava a essa papa uma ou duas colheres de açúcar. Aos 9 meses, Maria começou a comer os alimentos do prato familiar, por exemplo papa grossa com um pouco de líquido do prato de acompanhamento, batatas doces ou abóbora cozida. A senhora Fonseca continuou a amamentar a Maria; só lhe dava a papa uma vez ao dia, de manhã. A Maria tem agora um ano e vários dentes, comendo a maior parte dos alimentos dos pratos familiares. A senhora Fonseca deixou de lhe preparar a papa de manhã.

13. É a estação das chuvas e a senhora Fonseca leva com ela para os campos as duas crianças mais novas, Madalena e Maria. A Maria ainda é amamentada. Quando é possível, a senhora Fonseca leva os restos da refeição da véspera para dar às crianças, antes de regressar a casa para preparar a única refeição do dia. Além disso, ela também lhes dá mangas da horta. Madalena e Maria são pequenas para a idade, sobretudo quando comparadas com outras crianças da mesma idade.

14. A família não dispõe de latrinas. Os resíduos domésticos, incluindo as cinzas, são despejados num canto do terreno. O centro de saúde mais próximo é a 10 km de distância. A senhora Mulale só leva lá as crianças quando elas estão extremamente doentes. Para queixas de saúde menores, como dores de barriga ou tosse, leva-as ao curandeiro tradicional da localidade.

15. Durante a estação das chuvas, Maria, a filha mais nova, tem muitas vezes diarreia, vómitos e febre. Durante o período de escassez, as crianças mais velhas vão frequentemente para a escola de estômago vazio. Muitas vezes queixam-se de dor de cabeça e, quando não estão bem, ficam em casa.

16.A família tem três bois e algumas galinhas que andam à solta no terreno. O senhor Fonseca fez um acordo com os vizinhos, que ajudam muitas vezes a mulher a olhar pelo gado.

DIAGNÓSTICO DO ESTUDO DE CASO

1. Há seis membros nesta família, e devia ser possível alimentá-los bem com os produtos dos campos e da horta. Contudo, o senhor Fonseca vive longe da aldeia e só contribui parcialmente para a produção alimentar e cuidados da família. A senhora Fonseca, ajudada pelas duas crianças mais velhas, faz a maior parte dos trabalhos agrícolas, para além das actividades pós-colheita e do trabalho doméstico de preparação dos alimentos e de dar atenção às crianças.

2. Como a família deixou a sua aldeia de origem, a senhora Mulale já não beneficia da ajuda dos membros da família alargada, que inclui a educação e a assistência por parte das mulheres mais idosas da família.

3. Antes de se mudar, a família praticava culturas num vale fértil atravessado por um curso de água, nunca tendo de se preocupar com o enriquecimento do solo. As chuvas traziam sedimentos férteis para o vale, factor que a família aproveitava. Os Fonsecas não têm a experiência necessária para melhorar a fertilidade do solo. Por outro lado, a água de rega não era até então motivo de preocupação. No início da estação seca, a humidade residual era suficiente; após esse período os poços pouco fundos garantiam água para o resto da estação.

4. Embora o milho-miúdo se adapte melhor do que o milho às regiões semi-áridas, a família prefere cultivar milho, quer pelo seu maior valor comercial, quer porque o seu cultivo é relativamente fácil para uma mulher. A família é, neste aspecto, encorajada pelos agentes de divulgação agrícola, que dão conselhos técnicos sobre o milho e outras culturas comerciais. Contudo, o milho híbrido tolera mal a seca, e, ao cultivá-lo, a família arrisca-se a perder a sua colheita principal devido às incertezas climatéricas e às secas periódicas.

5. Na aldeia de origem dos Fonsecas, a erva era suficientemente abundante durante a estação seca, devido à humidade residual; os gafanhotos e outras pragas não representavam uma ameaça séria para a horticultura durante a estação seca. Actualmente, na sua horta, a senhora Fonseca não sabe como é que se pode livrar das pragas.

6. Como os conselhos dos agentes de extensão agrícola se centram apenas no milho e nas culturas comerciais, é dada pouca atenção à produção de outras culturas importantes para o consumo da família, nomeadamente certos cereais (por exemplo, o milho-miúdo e o sorgo), as leguminosas, as oleaginosas, os legumes e os frutos.

7. A frequência das refeições diárias é fortemente influenciada pela disponibilidade do alimento de base. À medida que as reservas do alimento de base diminuem, no fim da estação seca e durante a estação das chuvas, o número de refeições quotidianas diminui igualmente. Embora haja bastantes legumes e frutos durante a estação das chuvas, o que melhora a qualidade nutritiva das refeições, o consumo alimentar no seu conjunto continua a ser insuficiente e não satisfaz as necessidades nutricionais.

8. A possibilidade de completar os produtos da horta com peixe depende sobretudo de dois factores: do dinheiro disponível para o comprar e da frequência com que os vendedores de peixe passam na aldeia.

9. A maior parte do rendimento proveniente da venda de culturas comerciais (algodão e girassol) destina-se a cobrir as despesas não alimentares da família. Uma parte bastante reduzida é utilizada na compra de produtos alimentares de base que a família não produz, particularmente óleo e açúcar. O essencial do rendimento do senhor Fonseca destina-se a cobrir as suas próprias despesas, durante o período em que trabalha fora de casa, assim como a comprar anualmente os factores de produção agrícolas.

10. O regime alimentar da família durante e pouco tempo depois da colheita cobre as necessidades energéticas, e é bem equilibrado no plano nutricional. Contudo, nos meses seguintes, piora gradualmente, situando-se o seu período mais crítico durante a estação das chuvas. Como esta estação é igualmente um período de doenças infecciosas e de grande procura de trabalho agrícola, a alimentação consumida, além de ser em quantidade insuficiente, também não é bem utilizada pelo corpo, o que contribui para deteriorar ainda mais o estado nutricional dos membros da família, em particular das crianças.

11. As variedades de árvores de fruto são bastante limitadas, o mesmo acontecendo com as refeições ligeiras das crianças. Há uma mangueira, mas a sua produção é sazonal. A pesada carga de trabalho da senhora Fonseca durante a estação das chuvas e a necessidade de cuidar das crianças pequenas não lhe permitem ir vender ao mercado o excesso de mangas. Além disso, a procura de mangas é fraca porque toda a gente pode obter mangas, uma vez que as mangueiras são propriedade pública. Por outro lado, as papaieiras são velhas e deveriam ser substituídas, mas não se encontra material de plantação na região, e o viveiro de árvores de fruto fica a 50 km de distância.

12. A senhora Mulale ainda amamenta a Maria, a criança mais nova, mas já começou a dar-lhe alimentos sólidos. Porém, deveria melhorar a frequência das refeições e a qualidade dos alimentos. A papa espessa e a porção líquida do prato de acompanhamento não fornecem à Maria a energia e os micronutrientes de que ela precisa para crescer e se desenvolver bem.

13. Os períodos de escassez de alimentos, a par da pesada carga de trabalho na estação das chuvas, afectam seriamente a quantidade e a qualidade dos alimentos consumidos pelas crianças. As duas crianças mais novas são vulneráveis à má nutrição e mostram sinais de crescimento lento. As fichas de crescimento das crianças não são preenchidas de forma regular. O centro de saúde é longe, e a senhora Mulale utiliza os seus serviços mais para remediar do que para prevenir. Ela não leva lá as crianças a não ser quando estão extremamente doentes, e de cada vez que elas apresentam um peso abaixo do normal.

14. As condições de higiene na quinta são fracas. As doenças infecciosas e o paludismo constituem problemas e, por causa do seu fraco consumo alimentar, as crianças mais crescidas não podem ajudar muito a mãe nos campos, nem beneficiar plenamente do programa escolar.

15. Três bois não chegam para assegurar a continuidade da criação de gado. Se ao menos houvesse uma vaca em vez de três bois, o leite poderia servir para alimentar a família e ainda ser vendido. A criação de aves de capoeira poderia também ser melhorada. As culturas estariam melhor protegidas se as galinhas estivessem guardadas numa zona vedada. Além disso, o estrume proveniente das galinhas poderia ser mais facilmente aproveitado para enriquecer o solo arenoso e pobre, o que permitiria melhorar a produção vegetal.

CONCLUSÕES

Com base na informação dada no estudo de caso e nos resultados dos trabalhos de grupo, pode tirar-se como conclusão principal que existem numerosas possibilidades de melhorar a situação. O ponto de partida deve ser uma boa compreensão dos problemas locais de alimentação e de nutrição, assim como das suas causas. A equipa local de divulgação e a população envolvida devem esforçar-se por compreender bem os problemas antes de tentar solucioná-los.

A natureza dos problemas colocados no estudo de caso faz apelo a um método intersectorial na procura de soluções, isto é, uma colaboração entre os sectores da agricultura, da saúde, da educação e do desenvolvimento comunitário. A análise do estudo de caso e do seu diagnóstico conduziu às seguintes sugestões para melhorar a nutrição através da horticultura:


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