OBJECTIVO
No fim desta sessão, os extensionistas terão ajudado as comunidades a conceber um projecto e um plano de acção realistas com vista a melhorar a horta e a nutrição |
FIGURA 10.1
Preparação de planos de acção com a comunidade
ABORDAGEM GERAL
Os princípios estudados na sessão anterior são agora aplicados de forma a que sejam elaborados planos de acção que tenham em conta as condições e necessidades locais. Certas acções podem ser planificadas e executadas isoladamente pelas famílias, enquanto que outras podem ser conduzidas colectivamente. A opção escolhida depende largamente do que a comunidade decide fazer e do modo como se organizam as pessoas.
ACTIVIDADES
Selecção das questões prioritárias. De acordo com o potencial e as limitações da região, recomenda-se aos membros da comunidade que escolham as soluções que querem implementar em primeiro lugar, classificando-as por ordem de importância. As acções consideradas de prioridade igual podem ser colocadas em conjunto na lista.
Preparação do projecto e do plano de trabalho. Os técnicos de campo deverão em seguida animar as discussões comunitárias e trabalhar com a comunidade, etapa por etapa, nos diferentes elementos do plano de acção. Para facilitar o diálogo aquando da planificação de cada uma das acções escolhidas, os técnicos de campo devem examinar com um grupo da comunidade a seguinte lista de questões:
Porque quer implementar a acção? (justificação e objectivo geral)
O que deseja atingir? (objectivo)
Como vai implementar esta acção? (estratégia)
Quais são os resultados imediatos das diferentes actividades que prevê obter? (resultados)
O que deve ser feito e por quem? (actividades)
Quais os meios necessários (por exemplo, material de plantação, conselhos técnicos, equipamento) para que as acções previstas sejam realizadas? (inputs)
Quais os artigos ou serviços a financiar, e qual o seu custo? (orçamento)
Quem pagará estes artigos ou estes serviços? (fonte de inputs / financiamento)
Quando é que começará cada uma das actividades previstas e quanto tempo será necessário para completar cada uma delas? (calendário ou plano de trabalho)
Quais os problemas que prevê durante a implementação e como evitá-los ou minimizá--los? (factores de risco)
Como é que a comunidade vai verificar se a acção progride na boa direcção? (acompanhamento)
Como é que a comunidade poderá determinar se a intervenção atingiu o seu objectivo? (avaliação)
Aperfeiçoamento final do plano. Durante o processo de discussão e de resposta às questões acima mencionadas, a comunidade deverá decidir se esta ou aquela solução em particular é realista, nomeadamente depois de feita a estimativa de custos dos inputs. Isto permitirá aos membros da comunidade decidirem se podem permitir-se escolher uma opção a curto prazo ou se deverão esperar para terem recursos suficientes, provenientes da comunidade ou do seu exterior.
Acompanhamento do desenvolvimento do plano de acção comunitário. Depois de ter o aperfeiçoamento final do plano de acção comunitário, cada grupo, pessoa envolvida ou responsável pela execução de uma actividade em particular, pode começar a trabalhar, como indicado no plano de acção. Os membros da comunidade precisam de criar um mecanismo através do qual se assegurem de que as actividades que implicam diferentes sectores e responsabilidades são bem coordenadas pela pessoa nomeada pela comunidade para esta tarefa. (Pode tratar-se, por exemplo, de uma demonstração culinária para a qual os técnicos de campo - nomeadamente agentes de saúde, técnicos de economia doméstica e nutricionistas - e as famílias participantes serão convidados, e para a qual os utensílios de cozinha e os géneros alimentares deverão estar preparados). Os técnicos de campo deverão fornecer apoio técnico e ajudar as comunidades a acompanharem os progressos, utilizando para tal os indicadores escolhidos pela comunidade.
Avaliação da visita de campo e avaliação da formação. No fim da visita de campo, os técnicos de campo avaliam as actividades do dia e discutem a acção de acompanhamento a empreender quando regressarem às suas comunidades.
NOTAS TÉCNICAS
Mensagens prioritárias |
1 Para serem eficazes, os planos de acção devem ser pequenos e fáceis de gerir 2 A estratégia mais eficaz consiste em trabalhar com a população e com os recursos disponíveis |
Para serem eficazes, os planos de acção devem ser pequenos e fáceis de gerir
É preferível empreender uma actividade e levá-la até ao fim a iniciar várias actividades sem as poder completar. Demasiados projectos comunitários começam com boas intenções, mas acabam por não se conseguir concretizar. Isto deve-se a numerosas razões, mas a mais comum é o facto de as actividades planificadas serem demasiado ambiciosas, não terem em conta as necessidades e as oportunidades das famílias que participam, ou exigirem demasiado dos técnicos de campo e das famílias.
Aquando da planificação dos projectos comunitários, os técnicos extensionistas devem pois visar objectivos simples e fáceis de alcançar, assim como actividades que possam ser realizadas num prazo realista e adaptado ao contexto local. A título de exemplo, os dois objectivos para o presente curso de formação, poderiam ser os seguintes:
80 % das famílias que participam no curso devem ser capazes de aplicar pelo menos duas novas técnicas para melhorarem a produtividade da suas hortas;
80 % das famílias que têm crianças desnutridas deverão ter seleccionado duas novas culturas, a fim de diversificarem significativamente a alimentação da família.
A estratégia mais eficaz consiste em trabalhar com a população e com os recursos disponíveis
Para serem bem sucedidos, os projectos comunitários devem ser planeados consensualmente com as famílias envolvidas. Devem também ficar-se nos limites dos recursos disponíveis. Vejamos alguns exemplos de recursos locais disponíveis habitualmente:
hortas bem tratadas da região;
competências, conhecimentos e boas práticas em matéria de horticultura, assim como de processamento e de preparação dos alimentos;
recursos naturais, como terra, solos, água e florestas;
viveiros locais;
serviços locais de investigação e de divulgação do ministério da agricultura;
grupos e associações comunitárias;
governo local;
organizações não governamentais;
universidades e institutos superiores locais;
informações recolhidas durante as visitas às hortas.
ESQUEMA DE PROJECTO 2
PROMOVER UMA DIETA DE ALTO VALOR NUTRITIVO ATRAVÉS DA EDUCAÇÃO NUTRICIONAL E DAS HORTAS
JUSTIFICAÇÃO
É evidente que os habitantes da aldeia sofrem de malnutrição, o que constitui uma ameaça ao crescimento e desenvolvimento das crianças. As carências alimentares devem-se, em parte, à falta de conhecimentos dos habitantes acerca das culturas adequadas e dos métodos correctos de preparar refeições nutritivas, que possam satisfazer as necessidades de todos os membros da família. A educação nutricional dos horticultores e das suas famílias permitirá à população cultivar plantas mais variadas, utilizar melhor as fontes alimentares disponíveis e preparar refeições nutritivas para as suas famílias.
OBJECTIVO GERAL
Melhorar a produção alimentar e a nutrição através de uma melhor utilização das hortas e da educação nutricional.
OBJECTIVO ESPECÍFICO
Ajudar 50 famílias a adquirir conhecimentos sobre alimentação e nutrição adequadas e sobre a forma de se alimentarem bem, utilizando os alimentos localmente disponíveis.
ESTRATÉGIA
Os horticultores e as suas famílias não tiveram, anteriormente, a oportunidade de se informarem sobre a importância de cultivarem plantas alimentares variadas e de terem refeições nutritivas. Para os encorajar a diversificarem a produção da horta e a utilizarem melhor os alimentos produzidos localmente, os técnicos de campo organizarão sessões de educação nutricional nas comunidades. As sessões de formação e educação começarão por uma avaliação do que as pessoas já sabem sobre os produtos que cultivam, armazenam, processam, preparam e consomem. Será elaborado um questionário sobre os conhecimentos, o comportamento e as práticas, de modo a permitir que os técnicos de campo conheçam melhor as crenças ligadas à cultura local, a atitude sobre os alimentos e sua repartição no seio da família, assim como as preferências e as restrições alimentares. Com base nestas informações, podem ser preparadas mensagens de educação nutricional e material didáctico, a transmitir, por exemplo, através das unidades sanitárias, serviços de extensão agrícola, mercados e outros locais públicos da aldeia.
As sessões de educação serão sobretudo práticas e privilegiarão a aprendizagem pela prática. As sessões de educação nutricional usarão meios como imagens, quadros de conferência, o teatro local, as canções ou a dança; deverão também incluir demonstrações simples de preparação e de processamento dos alimentos, ou de preparação de novas receitas, em que todos os membros da família possam participar.
RESULTADOS E FINS A ATINGIR
Participação de 50 famílias, que avaliam os seus conhecimentos e o seu saber-fazer no domínio da alimentação e da nutrição;
Preparação de um livro ou de um quadro de imagens que mostre o valor nutritivo dos diferentes alimentos disponíveis localmente;
Inserção da educação nutricional prática no programa da escola primária, para rapazes e raparigas;
Composição de duas canções e respectiva interpretação durante a representação de pequenas peças de teatro, na aldeia e durante os dias de mercado, no sentido de encorajar as famílias a darem às suas crianças mais fruta e vegetais de folhas verdes;
Organização, na aldeia, de sessões semanais de demonstração culinária sobre como preparar alimentos nutritivos de desmame.
ACTIVIDADES
Preparação de folhetos ou de quadros;
Composição de canções, preparação e representação de pequenas peças de teatro na aldeia;
Preparação de demonstrações sobre o modo de processar e preparar os alimentos e realização destas demonstrações;
Preparação de materiais de educação nutricional, para uso nas escolas primárias, sobre o que é uma refeição nutritiva; sobre a importância de um regime alimentar nutritivo e o seu efeito na saúde; sobre o valor alimentar das plantas locais geralmente cultivadas; sobre técnicas simples de processamento dos alimentos; sobre o modo de reconhecer e de ter um regime alimentar satisfatório no plano nutricional.
INPUTS
Impressão do material: 1 semana.
CALENDÁRIO
Formação de um grupo de teatro local: 10 dias;
Formação de animadores para mobilizarem a comunidade para demonstrações culinárias: 10 dias;
Formação de professores para explicarem como planificar e integrar a educação nutricional no currículo da escola primária: 10 dias;
Preparação de material de formação: 10 dias;
Preparação de cartazes com imagens: 10 dias;
Impressão dos cartazes com imagens: 5 dias;
Formação, educação e sessões de teatro nas aldeias, escolas e outras estruturas: meio dia por semana durante 52 semanas.
ORÇAMENTO
A comunidade fornece os alimentos para as demonstrações culinárias;
A assistência técnica é fornecida por uma organização não governamental da região.