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RUBRICA TECNOLÓGICA DE HORTICULTURA 6: TÉCNICAS ESPECIAIS PARA MELHORAR A GESTÃO DO SOLO E DA ÁGUA


COMPOSTO

O composto é uma substância semelhante ao solo, resultante da decomposição de matérias orgânicas. A compostagem é uma maneira natural de reciclar as plantas, fácil e barata. Só é preciso tempo, algum espaço na horta, acesso a materiais de desperdício que se decomponham facilmente e água.

A compostagem leva cerca de 3 meses, dependendo das condições criadas para facilitar a decomposição rápida da matéria orgânica, evitando a perda de nutrientes.

Como fazer composto

As plantas e outras matérias orgânicas (como por exemplo estrume de animais) são empilhados sobre uma superfície ampla. Picar, ripar ou partir o material que é colocado na pilha, acelera a decomposição da matéria orgânica transformando-a em composto, ou seja uma substância fina e de cor escura, semelhante ao húmus. Este composto será mais tarde aplicado no solo para o enriquecer .

Quaisquer materiais naturais, designadamente restos da cozinha, como cascas de fruta e de legumes, cinzas de lenha e resíduos de plantas da horta e do campo, podem ser usados para fazer composto. Pode mesmo usar-se ervas daninhas, mas é preciso certificarmo-nos de que as suas sementes não se misturam com o composto. O estrume e as farinhas de ossos ou de chifre são igualmente materiais muito úteis para fazer um bom composto.

Para evitar que o composto seque, o monte deve estar situado num lugar sombrio. Em contrapartida, devem evitar-se espaços muitos húmidos. Embora o composto possa ser feito numa fossa, é melhor fazer o monte numa superfície plana. O ar facilita o processo de decomposição e precisa de circular livremente à volta do monte.

O monte de composto tem de ser construído cuidadosamente, se desejarmos um produto de boa qualidade. Não se trata de uma lixeira. Antes de fazer um monte de composto, devem juntar-se os materiais adequados e escolhê-los, retirando os pedaços maiores e mais lenhosos. Os materiais submetidos a este processo devem ser colocados em camadas, começando pelos mais grosseiros. Isso permite uma boa drenagem quando chove. As camadas de materiais macios partidos alternam com as de materiais mais fibrosos. Cada camada deve ter cerca de 15-20 cm de espessura. A Figura 1 mostra a secção de corte de um monte de composto.

FIGURA 1
Exemplo de um monte de composto

Uma camada de terra de 2 a 3 cm, sobre cada camada de materiais, como mostra a figura 1, serve de inoculante, adicionando microorganismos ao monte.

O monte de composto não deve ter mais do que 1 a 1,5 metros de largura ou de altura. O comprimento depende da quantidade de materiais. Deve haver espaço livre suficiente à volta do monte para permitir a circulação das pessoas. Em condições secas e quentes, o monte deve ser coberto com folhas de bananeira ou outros materiais adequados. O ar é essencial para o processo de compostagem. Para permitir a penetração do ar no monte, devem colocar-se molhos de erva seca na vertical ou canas de bambu espetados.

Uma vez constituído, o monte de composto começa a aquecer, atingindo temperaturas entre 60-80º C. Esta temperatura alta vai pasteurizar o composto, destruindo os elementos patogénicos. Passados cerca de 15 dias, a temperatura diminui, e o monte deve ser virado, de modo a que as camadas do fundo sejam viradas para cima.

Cerca de 5 semanas depois, o monte deve ser virado de novo. Os materiais que se encontram na parte de fora do monte devem ser colocados no meio; o teor de humidade deve ser verificado, e, se necessário, adiciona-se água. Um monte de composto deve ser mantido sempre húmido (cerca de 45 a 65 % de humidade), visto que a humidade é necessária ao processo de fermentação. Contudo, o excesso de água causa a compactação e o apodrecimento dos materiais. Cobrir o monte com folhas de banana pode ajudar a evitar a penetração excessiva de água, durante a estação das chuvas. Se se tornar húmido demais, o monte deve ser virado ou corrigido, juntando materiais secos.

No fim do terceiro mês, o composto está normalmente pronto para ser utilizado. Deve ser castanho escuro, granulado e ter um odor a húmus. Se o composto ainda contiver materiais que não estão transformados, isso significa que só está parcialmente decomposto. Se aplicar este composto parcialmente decomposto no solo, pode reduzir a quantidade de azoto disponível para o crescimento das plantas. Assim, é necessário separar as partículas que não estão completamente decompostas ou deixá-las mais tempo até terminarem o processo de decomposição.

FIGURA 2
É necessário virar o monte de composto

QUADRO 1
Guia de uma compostagem eficaz

Sintomas

Problemas

Soluções

O composto tem um mau odor

Insuficiente ar ou demasiada humidade

Volte-o. Junte material seco se o monte estiver muito molhado

O centro do monte está seco

Água insuficiente

Molhe o monte e volte-o

O composto está húmido e quente só no centro

O monte é demasiado pequeno

Junte mais materiais e misture-os ao outros para constituir um novo monte

O monte está húmido e cheira bem, mas não aquece

Falta de azoto

Misture-lhe uma fonte de azoto, por exemplo estrume fresco ou farinha de sangue

Há ainda uma boa parte de materiais não decompostos

O período de compostagem foi demasiado curto

Deixe o monte de composto mais alguns dias, peneire-o e utilize as partículas mais finas

Utilização do composto e de estrume animal

Tal como o estrume, o composto deve estar bem decomposto antes de ser utilizado. O estrume fresco pode queimar as plantas, se for espalhado demasiadamente próximo delas. Deve pois deixá-lo secar à sombra, conservando-o assim para ser utilizado mais tarde. O composto é de melhor qualidade quando se esfarela, tal como a manta-morta da floresta. Não deve ser pesado ou pegajoso. No momento da sua utilização, tanto o composto como o estrume devem cheirar bem.

O composto e o estrume animal podem ser misturados ou aplicados separadamente. Am-bos soltam os nutrientes lentamente, devendo ser aplicados imediatamente antes de plantar ou semear. Para a plantação de árvores, misture o composto ou estrume com parte do subsolo que foi cavado; use depois a mistura para encher as covas à volta das plantas jovens. Um rego de composto é útil para alimentar uma fila de novas plantas ou de culturas já estabelecidas. O composto e o estrume podem também ser espalhados à superfície do solo, mas devem ser protegidos da luz intensa do sol.

O composto totalmente transformado, quando misturado com solo arenoso, é ideal para uso num viveiro, se tiver sido esterilizado primeiro, de modo a matar bactérias indesejadas. Para esterilizar o composto, misture uma parte de água com nove de composto num grande contentor. Cubra este com material adequado, como por exemplo folhas de bananeira, e aqueça a mistura até a água deitar vapor e matar todas as bactérias indesejáveis. Este processo leva várias horas.

Para determinar o fim da esterilização do composto, coloque uma batata-doce ou qualquer outro tubérculo em cima do composto a evaporar. Se o vapor cozer o tubérculo, o material do composto pode ser considerado de confiança quando o tubérculo ficar macio. O composto pode então misturar-se com o solo e utilizar-se num viveiro de plantas.

A proporção de composto relativamente ao solo depende da fertilidade do solo, mas considera-se que 10 % de composto é o mínimo, 30 % a quantidade ideal e 50 % o máximo para a plantação de arbustos ou de árvores.

Para o caso das hortas, espalhe uma camada de composto a uma profundidade não superior a 1/3 da espessura do solo lavrado e misture bem com a camada arável para evitar perdas. Se usar material menos decomposto, junte azoto (como por exemplo estrume ou fertilizante comercial) para assegurar que as plantas não terão falta de azoto durante o crescimento.

ADUBO VERDE

Outra maneira de alimentar o solo é cultivar espécies que fornecem adubo verde e misturá--las no solo depois de cortadas. Incorpore culturas de crescimento rápido (especialmente leguminosas) antes da sua maturação, para melhorar a fertilidade do solo e o seu conteúdo em matéria orgânica. Tal como com o composto, se os terrenos precisarem de ser usados antes de o adubo verde estar totalmente decomposto, junte azoto, de modo a que as plantas não sofram mais tarde de deficiência de azoto.

As culturas como as do feijão-mucuna, do feijão-congo, do chícharo e do tremoço são todas adequadas para adubo verde. Todas captam o azoto do ar através das raízes e libertam-no depois da sua decomposição. Estas plantas são cultivadas isoladamente ou associadas a outras plantas de crescimento rápido, como o capim-guiné, o cânhamo ou as crucíferas, para aumentarem a quantidade de matérias orgânicas. Um grande número de culturas que podem ser utilizadas como abubo verde (por exemplo, Cajanus cajan ou Leucanea sp.), podem também servir para outros fins, por exemplo para construir sebes ou latadas, para forragem, para lenha ou para estacas de jardim (ver a Figura 3).

Para obter bons resultados, seleccione espécies bem adaptadas às condições agro-ecológicas da região, designadamente ao clima e ao solo. As principais espécies fornecedoras de adubo verde são as seguintes:

Acacia sp.
Albizia parkia
Flemingia sp.
Gliricidia sp.
Leucaena sp.
Cajanus cajan (feijão-congo)
Sesbania sp.
Setaria sp.
Tephrosia

Para melhorar o solo e controlar as ervas daninhas podem-se associar, como culturas intercalares, leguminosas rasas ou rastejantes ou culturas alimentares ou perenes.

FIGURA 3
Utilização de sebes como adubo verde

A PROTECÇÃO COM FOLHAGEM SECA

A protecção com folhagem seca consiste numa camada de folhas, de erva, de palha ou de outro material orgânico que se espalha entre as plantas para alimentar e proteger o solo. Se for bem aplicada, para além da sua função de protecção, também fornece nutrientes ao solo à medida que se vai decompondo. Ajuda a reduzir a erosão e o crescimento de ervas daninhas, retém a água e contribui para manter a humidade. Mas uma camada espessa em demasia pode às vezes servir de refúgio a animais roedores.

É sempre necessário ter a certeza de que os materiais destinados a este tipo de protecção não contêm sementes, porque elas poderiam germinar depois da aplicação. A protecção que for aplicada sobre uma camada de sementes deve ser retirada quando as plantas jovens começam a crescer. Depois de a ter retirado, é preciso proteger as plantas jovens do sol demasiadamente forte. Para isso, basta fazer um pequeno abrigo de palha ou bambu, ou de qualquer outro material adequado, e colocá-lo sobre o canteiro. Ver também a Rubrica Tecnológica de Horticultura 16, "Técnicas de multiplicação das plantas".

FIGURA 4
Protecção das árvores com uma camada de folhagem seca

RECOLHA E CONSERVAÇÃO DA ÁGUA

Um princípio fundamental na conservação da água é fazer a recolha durante a estação das chuvas para poder utilizá-la durante a estação seca. As técnicas de poupança de água permitem o seu uso mais eficaz durante a estação seca.

Sempre que possível, a água da chuva nos telhados pode ser recolhida em recipientes. Do mesmo modo, a água usada na lavagem da roupa e da louça ou no banho pode ser utilizada na horta, se não contiver muito sabão.

FIGURA 5
Recolha da água dos telhados

A água pode ser recolhida também do leito das ribeiras, ou retirada dos poços ou dos furos dos oásis secos. Nalguns países do Sahel, o orvalho da noite é recolhido em panos que depois são espremidos sobre as culturas hortícolas.

Durante a noite, o orvalho acumula-se nas rochas e nas pedras e depois infiltra-se lentamente no solo, o que reduz a evaporação. É por esta razão que, nas regiões áridas, muitos agricultores deixam pedaços de rochas e pedras nos seus campos.

Se o abastecimento de água à comunidade for demasiadamente reduzido, podem ser construídas pequenas barragens, lagos ou poços. No Niger, tradicionalmente, a água é recolhida em pequenas lagoas durante a estação das chuvas. Quando o fundo da lagoa fica de novo seco pode ser utilizado para cultivar legumes de folhas, tomate ou outros legumes, especialmente durante a longa estação seca. É essencial aconselhar-se para saber se, do ponto de vista técnico, a região é adequada para a construção de uma barragem.

Os poços feitos à mão são comuns. Os anéis de betão ou de metal, instalados no interior dos poços, ajudam a reforçar as paredes. Estes anéis são caros, mas podem durar cerca de meio século.

MICRO-IRRIGAÇÃO

Existem numerosas técnicas de micro-irrigação de baixo custo adequadas para a rega de pequenas parcelas, especialmente onde a água rareia. Uma destas técnicas é a irrigação ao balde. Dois baldes, de 20 litros cada, são pendurados a cerca de 2 metros acima do solo e duas linhas de gotejo, ou tubos, asseguram, graças à gravidade, a rega da horta gota a gota. Um tal sistema permite irrigar 25 m2 de horta com 40 litros de água por dia.

FIGURA 6
Rega de legumes pelo método de irrigação ao balde

A bomba de pedal constitui um outro sistema de irrigação fácil e de pequena envergadura, muito eficaz e barato, apropriado para agrupamentos de horticultores. Trata-se de um engenho simples, accionado com dois pedais de madeira, e utilizando um tubo em PVC, uma haste em bambu ou um tubo flexível para bombear a água. A bomba de pedal serve para elevar a água de lagoas, lagos, canais ou bacias de represas, pouco profundas. Uma bomba destas é de fácil instalação e ideal para a cultura de legumes durante a estação seca, ou para outras plantas que precisem de ser regadas (por exemplo, a palmeira do óleo de dendém). Contudo, é necessário ter formação para garantir a manutenção da bomba de pedal, a fim de evitar avarias.

Se o solo for regado à superfície, deve-se tomar cuidado para evitar a salinidade, que ocorre quando as plantas são regadas com pouca água durante períodos quentes. A água evapora-se imediatamente, trazendo pouco a pouco os sais minerais à superfície do solo. Se esta situação persistir, o crescimento das plantas atrasa-se ou pode mesmo estagnar. Para minimizar a evaporação, as plantas devem ser regadas ao fim do dia. Sem água nenhuma planta pode crescer.

BOA UTILIZAÇÃO DA ÁGUA EM CLIMAS SECOS OU NA ESTAÇÃO SECA

Nas regiões secas, a água deve ser usada com parcimónia. Para economizar água o horticultor deve:

À superfície do solo

A utilização de matérias orgânicas ou de protecção com folhagem seca pode prolongar a duração das culturas anuais, mantendo a frescura da superfície do solo e evitando assim a evaporação. Os horticultores devem:

Abaixo da superfície do solo

A matéria orgânica do solo absorve a água, retendo a humidade. Os horticultores devem incorporar composto ou matérias orgânicas no solo. Um saco grande de matérias orgânicas decompostas deve ser suficiente para uma superfície de cerca de 10 m2. De acordo com o teor do solo em matérias orgânicas, um segundo saco pode ser utilizado no início da estação seca.


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