FAO no Brasil

O tempo está se esgotando para as florestas: sua superfície continua se reduzindo

06/07/2018

Santiago, Chile - A América Latina é uma das três regiões onde o desmatamento continua, de acordo com O Estado das Florestas no Mundo de 2018, publicado hoje pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, FAO.

O relatório da FAO indica que, entre 1990 e 2015, a área florestal mundial diminuiu de 31,6% da área terrestre do mundo para 30,6%, embora o ritmo de perda tenha sido abrandado nos últimos anos. Essa perda ocorreu principalmente nos países em desenvolvimento, particularmente na África subsaariana, na América Latina e no sudeste da Ásia.

Segundo o relatório, o desmatamento é tido como a segunda principal causa das mudanças climáticas – depois da queima de combustíveis fósseis - e responde por quase 20% de todas as emissões de gases de efeito estufa. Isso é mais do que todo o setor de transporte do mundo. Entre 24% e 30% do potencial total de mitigação pode ser obtido por meio da interrupção e redução do desmatamento tropical.

Demanda de carvão vegetal pressiona recursos florestais

Nos lugares em que a demanda de carvão vegetal é alta, sobretudo na África Subsaariana, sudeste da Ásia e América do Sul, sua produção exerce pressão nos recursos florestais e contribui para a degradação e desmatamento, especialmente quando o acesso às florestas não está regulamentado.

Segundo o estudo da FAO, a proporção de pessoas que dependem de lenha varia de 63% na África a 38% na Ásia, e 16% na América Latina.

As florestas manejadas para a conservação dos solos e das águas têm aumentado em todo o mundo nos últimos 25 anos, com exceção da África e da América do Sul. Apenas 9% da área florestal da América do Sul é manejada com o objetivo de proteger o solo e a água, bem abaixo da média global de 25%.

Relação estreita entre florestas e pobreza

As florestas e as árvores fornecem cerca de 20% da renda das famílias rurais nos países em desenvolvimento. No entanto, de acordo com o relatório, existe uma forte relação entre as áreas de cobertura florestal extensiva e as altas taxas de pobreza: no Brasil, por exemplo, pouco mais de 70% das áreas de florestas fechadas (densas, com grande cobertura de copa) apresentavam taxas de pobreza elevadas.

De acordo com o SOFO, na América Latina, 8 milhões de pessoas sobrevivem com menos de 1,25 dólares por dia nas florestas tropicais, savanas e seus arredores.

Mundialmente, mais de 250 milhões vivem abaixo da linha de pobreza extrema nessas áreas: 63% estão na África, 34% na Ásia e apenas 3% na América Latina.

Embora a participação da América Latina no total global seja baixa, cabe destacar que a grande maioria (82%) das pessoas que vivem abaixo da linha de pobreza nas áreas rurais da América Latina vivem em florestas tropicais, savanas e seus arredores.

Com um total de 85 milhões de pessoas vivendo em florestas tropicais, savanas e em seus arredores na América Latina, cuidar das florestas será um fator-chave para avançar rumo aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Parque Tijuca no Brasil: a importância de conservar áreas urbanas protegidas

O Parque Nacional da Tijuca, localizado no Rio de Janeiro, tem uma superfície de 4 mil hectares e foi declarado paisagem cultural Patrimônio da Humanidade pelo Unesco em 2012.

Segundo o relatório da FAO, para enfrentar a proliferação de espécies exóticas e a expansão urbana, o parque foi reflorestado com árvores nativas e foram construídas infraestruturas recreativas para envolver a comunidade local e aumentar a conscientização sobre a importância da proteção das florestas urbanas.

Desde 1999, o parque é administrado conjuntamente pela Prefeitura do Rio de Janeiro e pelo Ministério do Meio Ambiente: hoje é um ambiente natural excepcional para seus 2,5 milhões de visitantes anuais, e a restauração da Mata Atlântica que hospeda o transformou em um santuário para uma grande diversidade de espécies endêmicas.

Empresas florestais comunitárias na Guatemala e México

O relatório da FAO aponta que na Guatemala – país onde 70% das terras florestais estão sob algum tipo de proteção - as empresas florestais comunitárias gerenciam mais de 420 mil hectares dentro da Reserva da Biosfera Maia.

O Estado concedeu a essas empresas concessões florestais. Em um ano (2006 a 2007), estas obtiveram receitas de 4,75 milhões de dólares pelas vendas de madeira certificada e 150 mil para a venda de produtos florestais não-madeireiros.

Estas empresas florestais geraram mais de 10 mil empregos diretos e uns 60 mil indiretos. Além disso, pagavam aos trabalhadores mais que o dobro do salário normal (Instituo de Recursos Mundiais, 2008).

No México, a partir de 1997, deu início um importante programa para ajudar as comunidades a criar empresa florestais. Hoje, mais de 2.300 grupos comunitários manejam suas florestas para a extração de madeira, o que gera importantes rendas para as comunidades e as famílias.

Costa Rica: florestas como atrativos turísticos

Costa Rica é um dos principais destinos eco turísticos do mundo: em 2016, 2,9 milhões de turistas estrangeiros visitaram o país e 66% deles afirmaram que o ecoturismo era um dos seus principais motivos da visita.

Os turistas gastaram em média 1 309 dólares por pessoa, trazendo renda para o país de 2,5 bilhões de dólares, relacionados em parte ao turismo de natureza, o que equivale a 4,4% do Produto Interno Bruto (PIB) da Costa Rica.

Estima-se que, em 2015, apenas as áreas de conservação florestal receberam aproximadamente um milhão de visitantes não residentes e 900 mil visitantes nacionais