FAO no Brasil

Renovar padrões de produção e consumo pode ser antídoto à epidemia de obesidade, diz Graziano da Silva

Foto: Unicamp
02/08/2018
  • Obesidade é questão ainda não equacionada e que afetará futuro da alimentação de maneira que ainda não conseguimos dizer, diz Graziano da Silva.

 

Campinas - Temas como a demanda global de alimentos, a epidemia de obesidade e as novas tendências de mercado foram pautas da participação do Diretor-Geral da FAO, José Graziano da Silva, durante a 56º edição do Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural (SOBER), promovido pela Unicamp, na última terça-feira (31/07). 

Durante o evento, Graziano da Silva frisou a necessidade de um novo olhar para o setor agrícola em questões importantes, como o futuro encontro da demanda de alimentos com o traço do crescimento populacional.

Ele usou como exemplo o prognóstico lançado pela FAO em relatório lançado conjuntamente com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em julho desse ano, em Paris, no qual se preveem os desafios impostos pelo crescimento populacional em todos os níveis da segurança alimentar – não apenas aqueles relacionados à fome, mas também às outras formas de má nutrição.

“O maior problema do mundo já não é mais a fome, a fome hoje é algo bem equacionado, a gente sabe onde está, e sabe porquê. Ela está basicamente nas regiões de conflito e seca. Uma epidemia que afeta tantos países desenvolvidos, como os em desenvolvimento, é a obesidade, que é uma questão ainda não equacionada e que vai afetar o futuro da alimentação de uma maneira que nós ainda não conseguimos dizer. Hoje, projetar o consumo da demanda de commodities ao passo do crescimento da população parece um erro”, alertou.

Dentro desse contexto, o Diretor-Geral destacou a importância de se olhar para novas visões de logística, transporte e armazenagem que podem impactar na própria questão da demanda por alimentos e no combate a má nutrição.

Ainda segundo Graziano da Silva, as tendências da “gourmetização” da alimentação caseira, com pessoas querendo cozinhar cada vez mais e melhor em casa, cultivando seus próprios temperos e atentos para a qualidade e para o preço do que consomem, devem mudar, cada vez mais, as formas de produção e a dinâmica do mercado. Com o bônus de que tais mudanças também podem trazer, aos poucos, impactos positivos contra a epidemia da obesidade. Nesse contexto, citou a popularização da quinoa como referência:

“O produto fresco, legumes, verduras, carnes, são fundamentais em uma dieta para prevenir a obesidade. Na Europa, ninguém come mais para matar a fome, come por prazer. É o gourmet que influencia. A FAO atuou maciçamente para colocar a quinoa no mercado internacional. Hoje a quinoa é parte desse mercado gourmet. Quinoa que aqui você compra por menos de um dólar, na Europa não compra por menos de 10. Essa logística, essa transformação da marca, esse lado gourmet do prazer da alimentação, conectado à questão da obesidade, pode transformar completamente a forma da produção da alimentação do futuro”, concluiu.