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Dia Mundial da Água: FAO apela à inovação nas tecnologias da água para aumentar a eficiência do uso da água

22/03/2019

Roma/Praia - Com a mudança climática e o crescimento populacional pressionando cada vez mais os recursos hídricos finitos, a FAO incentiva os países a intensificar esforços para aumentar a eficiência hídrica e fornecer acesso a água potável para todos. Garantir a segurança hídrica global é fundamental para alcançar o Fome Zero e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, de acordo com a agência da ONU, em declaração para o Dia Mundial da Água.

“A água é universal, cruza fronteiras e alimenta toda a vida - a água é um direito humano”, disse a vice-diretora geral de Clima e Recursos Naturais da FAO, Maria Helena Semedo, durante a cerimônia de encerramento do primeiro Fórum Internacional sobre Escassez de Água na Agricultura. (WASAG), coorganizado pela FAO na cidade de Praia, em Cabo Verde (19-22 de março). "Assim como a água, precisamos seguir em frente - não deixar ninguém para trás, como o tema deste ano, que reflete a aspiração da Agenda de Desenvolvimento Sustentável de 2030", falou.

Bilhões ainda vivendo sem água potável

Em seu pronunciamento, Semedo alertou sobre numerosos desafios relacionados à água que estão dificultando os esforços globais de desenvolvimento, especialmente em países com escassez de água, onde “bilhões de pessoas ainda vivem sem água potável, lutando para sobreviver”.

De acordo com o recém publicado World Water Development Report - um esforço conjunto das agências da ONU e parceiros da UN-Water - existem mais de duas bilhões de pessoas vivendo em países com alto estresse hídrico.

“À medida que a disponibilidade de água doce diminui devido ao crescimento populacional, à urbanização e à mudança dos padrões de vida, vemos um aumento nas exigências agrícolas, industriais e energéticas. Essa luta pelo equilíbrio é o nosso maior desafio ”, alertou Semedo, observando que até 2050, a demanda global de água aumentará de 20 a 30%, enquanto a oferta diminuirá de forma alarmante.

Impactos adversos da mudança climática na segurança alimentar e hídrica

Semedo destacou que os impactos adversos das mudanças climáticas continuam a prejudicar a segurança alimentar e hídrica.

“As áreas secas tendem a se tornar mais secas; as estiagens tendem a se tornar mais frequentes e severas; e áreas costeiras serão mais afetadas pela intrusão da água do mar devido ao aumento do nível do oceano. A agricultura é de longe o setor mais afetado em períodos de seca, levando a perdas de safra e redução da produção ”, disse ela. "Tais perdas afetaram os agricultores e a população rural, especialmente para os pequenos proprietários que controlam 80% das fazendas do mundo em áreas menores que dois hectares", acrescentou.

Ela argumentou que, de acordo com estudos recentes, as secas afetaram mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo num período de dez anos, ressaltando que a escassez de água, as secas, o aumento do nível do mar, a desertificação e a perda de ecossistemas são fortes estressores sociais que também contribuem para a migração forçada.

Como lidar com a escassez de água

Semedo apontou para a necessidade de encontrar fontes inovadoras de água, incluindo reciclagem de esgoto e coleta de água da chuva, e aumentar a eficiência da água, especialmente nos setores agrícolas.

“Na FAO, promovemos medidas como a seleção de espécies resistentes à seca e salinidade, manejo sustentável do solo e captação de água. Essas inovações podem ajudar muito os agricultores, especialmente os pequenos produtores, a garantir a produção de alimentos em períodos de escassez de água ”, explicou Semedo.

A agricultura responde por 69 por cento das captações de água, disse ela, observando que cerca de 80% das terras cultiváveis ​​do mundo são alimentadas pela chuva, produzindo 60% dos alimentos.

Cabo Verde é um bom exemplo

Semedo referiu-se à experiência de Cabo Verde como um exemplo positivo que outros países podem usar quando lidam com a escassez de água. “Cabo Verde é uma pequena ilha em desenvolvimento com um clima seco e imprevisível. Isso nos expõe a riscos significativos para o setor primário, especialmente a agricultura.”

Ela elogiou a determinação do país em garantir a gestão sustentável da água implementando múltiplas estratégias de adaptação relacionadas à segurança da água, incluindo a gestão integrada de recursos hídricos, produção de alimentos, ecossistemas e turismo; desenvolvimento de sistemas de produção agro-silvo-pastorais; e proteção das zonas costeiras.

“Apesar do clima árido do país, adotando tecnologias inovadoras como a dessalinização, a energia solar, a reutilização de águas residuais para a agricultura e até mesmo a colheita de nevoeiro, 90% da população tem acesso a água potável. Essa é uma situação altamente louvável ”, acrescentou Semedo. Em conclusão, Semedo assegurou que a FAO continuará apoiando os governos com estratégias de sobrevivência em cultivos resistentes à seca, captação de água, agricultura salina e outras técnicas.

“Há um provérbio africano - Quando toda a água já passou, apenas as maiores pedras permanecerão no leito do rio. Nós não queremos ver a água passar, então vamos pensar nessas pedras grandes como a base da nossa colaboração ”, disse ela.

Um evento especial para celebrar o Dia Mundial da Água também foi organizado na sede da FAO em Roma com representantes do Senegal, da Espanha e do Vaticano para aumentar a conscientização sobre a importância da água no contexto da pobreza rural.