FAO no Brasil

Mulheres da América Latina e Caribe enfrentam mais pobreza e obesidade que os homens

@MaxToranzos/FAO
07/03/2017

FAO empodera as mulheres rurais para erradicar a fome em véspera do Dia Internacional das Mulheres

Santiago/Chile – Amanhã é comemorado o Dia Internacional da Mulher e a FAO destacou a necessidade de empoderar as mulheres para diminuir as taxas de pobreza e obesidade, e avançar até o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Os ODS destacam a igualdade e o empoderamento das mulheres não somente como uma meta, mas como parte da solução dos grandes problemas de desenvolvimento que enfrenta o mundo, já que as mulheres exercem um papel importante na economia rural e na segurança alimentar.

Segundo a FAO, se fosse intensificado o papel das mulheres rurais e se investissem em atividades que aumentam significativamente a produtividade, seria possível diminuir de forma significativa a fome e a má-nutrição.

 “Para alcançar os ODS, todos os países devem incorporar o enfoque de igualdade de gênero nas políticas públicas, garantir a efetiva implementação e colocá-lo como um tema do mais alto nível político”, afirmou Claudia Brito, Oficial de Gênero da FAO.

Em janeiro deste ano, a América Latina e Caribe deu um grande passo nesse sentido, quando a Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (CELAC) adotou a estratégia de gênero no maior acordo regional de luta contra a fome, o Plano SAN CELAC.

Taxas elevadas de má-nutrição e pobreza

Segundo o Panorama de Segurança Alimentar e Nutricional na ALC  2016, a obesidade impacta de forma desproporcionada as mulheres da região: 26,8% em comparação com 18,5% dos homens.

Existem múltiplos fatores por detrás dessa tendência regional, como a pobreza e a falta de acesso aos recursos produtivos, serviços de saúde integrais, pouco acesso à educação nutricional, somados a uma excessiva carga de trabalho, em especial no caso das mulheres rurais.

Apesar da pobreza geral da região ter diminuído, a pobreza das mulheres, tem aumentado. Segundo o índice de feminilidade da pobreza, para cada 100 homens indigentes na América Latina e Caribe há 121 mulheres indigentes.

Na América Latina, 40% das mulheres rurais maiores de 15 anos não possuem renda própria, mesmo que trabalhe diariamente de forma não remunerada. Além disso, as mulheres rurais da região somente possuem uma fração de terra, crédito, insumos produtivos e educação em comparação aos homens.

Garantir acesso à terra

O ODS 5 reconhece a importância do acesso das mulheres à terra e outras formas de propriedade, já que lhes permite gozar de direitos humanos críticos como segurança alimentar, saúde, acesso à água, trabalho descente e um lar seguro.

Um estudo com seis países apontou que a porcentagem de mulheres proprietárias é maior no México (32,2%) e no Paraguai (29,7%), e 20% na Nicarágua e 14% em Honduras.

Para as mulheres indígenas – que representam cerca de 10% das mulheres rurais na região- os direitos à terra muitas vezes significam direitos de propriedade coletiva e são chaves para sua segurança alimentar.

 “É necessário fortalecer o acesso à terra das mulheres indígenas na região, de acordo com o mandato da Conferência Mundial de Povos Indígenas de 2014 que estabeleceu o compromisso de apoiar o empoderamento das mulheres indígenas”, disse Brito.

Iniquidades no mercado de trabalho rural

Na América Latina e Caribe, a população rural soma cerca de 121 milhões de pessoas, o que representa aproximadamente 20% da população total. Dessas, 48% são mulheres, um total de 59 milhões.

Ainda que representem 20% da mão de obra agrícola na América Latina e Caribe, as mulheres enfrentam uma série de iniquidades que afetam tanto seu desenvolvimento econômico, como sua segurança alimentar.

Os censos agrícolas indicam que na América Latina e Caribe as mulheres responsáveis por uma propriedade agrícola (majoritariamente áreas para cultivo) vão de 8% em Beluze e Guatemala a não mais que 30% no Chile, Jamaica e Santa Lúcia. Entretanto, em geral, as propridades chefiadas por mulheres são menores e possuem terras de qualidade inferior.

Um estudo da FAO que analisou as cadeias de valor da yuca (Belize), Quinoa (Bolívia), milho (Guatemala) e o cultivo de algodão a nível regional a partir de uma perspectiva de gênero revelou que no âmbito rural as mulheres realizam grande parte das atividades nas propriedades, além do trabalho doméstico e o cuidado não remunerados das casas.

Segundo o estudo, a participação das mulheres é mais marcante em atividades que envolvem tempo e esforço físico, como o plantio, capina e colheita. Por outro lado, participam menos nos elos da cadeia produtiva associada ao aumento da geração de renda.

O estudo “Mulheres do Algodão” identificou diversos fatores de desigualdade nas cadeias de valor do algodão na Argentina, Bolívia, Colômbia, Paraguai e Peru, como o limitado acesso à créditos e programas de apoio financeiro, a falta de controle sobre os lucros obtido, e o baixo poder de decisão sobre bens produtivos.

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