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Capítulo 11 Execução da intervenção em comunicação

11.1. O sinergismo dos meios

Em várias ocasiões, tem-se dito que nenhum meio pode, por si mesmo, ter um impacto decisivo sobre a comunicação social e, portanto, sobre os hábitos relacionados com a nutrição. As intervenções devem utilizar diferentes meios que se reforçam mutuamente, uns aos outros. Isto é absolutamente essencial para o sucesso do programa. Para alcançar a eficácia da comunicação com multimeios, a Comissão de Planejamento enfrenta uma imensa tarefa de coordenação.

Os programas que têm obtido sucesso na mudança de hábitos nutricionais, têm demonstrado a necessidade de complementar o canal interpessoal com outros métodos.

Dois projetos bem sucedidos: O Programa Indonésio para a Melhoria da Nutrição e o Projeto Integrado de Nutrição em Tamil Nadu.
Em ambos os casos, uma equipe eficaz de voluntários foi responsável pela comunicação interpessoal da população sobre a qual se exercia a intervenção. Os Kaders, na Indonésia, receberam treinamento em Vigilância Nutricional e Educação Nutricional. Em Tamil Nadu, grupos femininos de trabalho dirigiram as sessões sobre educação nutricional.
Estes agentes de mudança desempenharam uma função direta na mobilização do público para o programa e na introdução de novas práticas de alimentação nas famílias. Eles também reforçaram a credibilidade das mensagens, utilizando os meios de difusão de massa.
Na Indonésia, empregou-se o rádio, enquanto em Tamil Nadu, o cinema, por sua popularidade entre o público local.
As pessoas encarregadas pelo projeto de Tamil Nadu fizeram curtas-metragem que foram exibidos em cinemas populares antes do filme principal.

11.2. A importância da comunicação interpessoal

A comunicação interpessoal é uma forma muito eficiente para estudar o problema nutricional e para adaptar as mensagens necessárias. Os agentes de desenvolvimento devem ser treinados para escutar ativamente a populaçãoalvo. O jogo de papéis é um bom método para desenvolver esta habilidade.

Além destas intervenções interpessoais, é aconselhável trabalhar com “grupos”, não só para economizar tempo e dinheiro, senão também para beneficiar-se da dinâmica que todo grupo produz. Nos trabalhos com grupos, deve-se evitar as tradicionais “palestras” frente a um grupo passivo de pessoas, por sua ineficácia na busca de mudanças de atitudes ou de hábitos. Há meio século, o psicólogo Lewin demonstrou a inutilidade deste método, com relação ao que ele chamou de as “decisões do grupo”.

O agente de desenvolvimento nutricional deve estar bem informado do conteúdo da mensagem a ser comunicada. Portanto, escutar ativamente implica na capacidade de entender e de repensar o problema desde a perspectiva do cliente, com a finalidade de ajudá-lo a descobrir as causas do problema.
Ele também deve ser capaz de ajudar o cliente a encontrar a solução de seus problemas.
A mensagem deve, portanto, ser adaptada ao estilo de vida do cliente.
Isto é diferente de uma atitude dogmática, autoritária, na qual se impõem soluções pré-fabricadas ao cliente.

O grupo toma determinada decisão para mudar algo, a sua própria maneira. Isto implica numa discussão de grupo, a qual descreve-se mais adiante (Ficha Técnica No 14).

Esta seção também tratará sobre o uso de materiais de apoio à comunicação, como os slides, o teatro popular, o rádio e a televisão (Fichas Técnicas No 15 a 19).

Ficha técnica No 14
A exposição - discussão - apresentação

A exposição
O tema
O tema deve ser claramente definido. Uma das razões do fracasso de muitas palestras tradicionais é que não se definiu adequadamente a meta a alcançar. Na investigação preliminar para uma intervenção em comunicação, as mensagens a serem transmitidas deveriam ser provadas e validadas. Seria então mais fácil centrar a discussão nos temas pertinentes.
O público
O público orienta o curso da comunicação e dirige o expositor na exposiçãodiscussão. O expositor deve conhecer seu público, saber o nível de familiaridade que tem com o tema tratado. Durante a exposição, ele deve prestar atenção às reações do público para adaptar seu enfoque sempre que necessário.
O propósito
A pessoa responsável pela exposição deve estar plenamente inteirada do propósito da mesma. Até certo ponto, este foi definido de forma mais geral pela Comissão de Planejamento, quando estabeleceu os propósitos da intervenção. Estes serão diferentes, dependendo se a intenção é modificar atitudes, melhorar conhecimentos, motivar ou outros.
O plano
O plano deve ser preparado antecipadamente. Na introdução, o expositor dá as boas vindas ao público e apresenta o tema. Os expositores devem tratar de estimular o interesse do público.
O corpo da palestra consiste na elaboração e expressão ordenada dos pontos principais, de modo que o público possa captar facilmente o que o expositor está tratando de dizer. O expositor deve fazer referência aos outros canais que estão sendo usados para a transmissão das mensagens. Por exemplo, pode convidar o público a escutar os programas de rádio sobre o tema.
A conclusão deve ser suficientemente extensa de modo a permitir uma revisão dos pontos principais. Deve-se fazer a conclusão de forma a captar a atenção e o interesse do público, na espera de mobilizá-los para a busca das metas desejadas.
A discussão
A discussão que se segue à exposição desenvolve-se em três etapas:
Na primeira etapa, deixa-se o público fazer perguntas de compreensão e de esclarecimento.
Na segunda etapa, há um debate do público, analisando as causas dos problemas específicos e as possíveis soluções. Os expositores podem orientar o público a encontrar as soluções para seus problemas, adaptadas ao meio.
A terceira etapa é para tomar decisões. O grupo busca encontrar novas formas para fazer as coisas. Deve buscar um acordo sobre as inovações a experimentar. Por exemplo, as pessoas podem decidir provar uma nova receita em suas casas. Na próxima reunião, deveriam discutir o sucesso ou o fracasso relativos à inovação.
Outras considerações para enriquecer a exposição-discussão:
Os recursos de comunicação, auditivos ou audiovisuais, podem melhorar a exposição. Os slides e o vídeo podem estimular o interesse do público. Pode-se usar também outros recursos, tais como fichas, flanelógrafo e telas de projeção.
As demonstrações são um modo prático de explicar ao público como realizar uma tarefa em particular. São muito apropriadas para ensinar a preparar receitas e mostrar as formas mais higiênicas de manipular os alimentos.
A narração de contos é uma maneira de expressão particularmente conveniente, sobretudo em um meio muito tradicional, já que agrega uma nova dimensão à imaginação e pode animar uma exposição, tornando-a mais divertida e interessante.
O canto agrega uma nota de alegria, estimula a participação do público e possibilita lembrar da mensagem mais facilmente.
As “palestras” podem ser substituídas por reuniões que contem com a participação alegre e divertida do público. Com este enfoque é mais provável que se obtenha uma resposta positiva para resolver os problemas da comunidade.

Ficha técnica No 15
Vídeo

Aplicação
A televisão é um meio excelente para modificar atitudes e melhorar os conhecimentos e habilidades: pode-se usá-la, também, para motivar o público a adquirir novas habilidades.
Quando a mensagem é apresentada diretamente através de vídeo, sua efetividade é ainda maior do que a da televisão.
Porque isto acontece?
Isto se deve ao fato de que o som e as imagens móveis agregam-se à dimensão da interação entre o apresentador e seu público. Isto permite a retroalimentação e conseqüente adaptação da mensagem.
Existem limitações de custo. A produção de vídeos é muita cara, mais do que a de qualquer outro recurso de comunicação. Por esse motivo, os produtores devem garantir que as fitas de vídeo sejam usadas pelo maior número de grupos possível. A educação nutricional, por sua vez, tem que usar ao máximo os vídeos disponíveis.
Nesta ficha técnica, insistimos no uso dos programas já existentes. A propósito, os leitores podem consultar o excelente texto escrito por Von Stedinck.
A seleção de programas de vídeo
Existem numerosos programas de vídeo disponíveis em quase todos os países. No campo da educação nutricional e da saúde, as organizações internacionais e unidades de educação para a saúde são responsáveis pela produção dos vídeos. Os serviços nacionais de televisão freqüentemente possuem seus próprios recursos, os quais podem colocar à disposição dos agentes de desenvolvimento. Em alguns países, foram criados centros especializados para a produção de vídeos, os quais podem produzir estes materiais e ainda encarregar-se do treinamento de produtores de vídeo.
Para decidir sobre um programa apropriado de vídeo, o educador deveria fazer-se as seguintes perguntas:
  1. Quem é o expositor? É importante identificar não somente o produtor, mas também aqueles que são utilizados como expositores (médicos, nutricionistas, mães, jovens, etc.).

  2. Para quem se fala? Quem compõe o público para o qual está dirigido o programa de vídeo? Quais são os níveis requeridos de alfabetização e de educação? O público para o qual foi elaborado o vídeo corresponde ao da intervenção?

  3. De que se fala? Qual é o tema principal? Existem outros temas? Qual é a mensagem principal? O conteúdo a tratar é tecnicamente correto? Existe algum viés ou fontes de erro? A informação é atual? O conteúdo é apropriado para a intervenção educacional?

  4. Qual é o objetivo educacional? O programa relaciona-se com a mudança de conhecimentos, atitudes ou condutas? Os objetivos correspondem aos da intervenção nutricional?

  5. Quais são os métodos pedagógicos a utilizar? Que métodos pedagógicos são usados para estimular o interesse pela aprendizagem? Este programa pode ser apresentado sob a forma de vídeo?

  6. Quais são os pré-requisitos necessários? Necessita-se de um certo nível de conhecimento prévio para entender o material? A população para a qual se dirige a intervenção possui este nível? O vocabulário técnico é apropriado?

  7. Quais são as condições de uso? Este recurso requer de condições especiais para seu uso? Esta condições estão relacionadas ao lugar, extensão, tamanho do grupo e competência do apresentador? Pode-se satisfazer estas condições nas situações educacionais em que o recurso será usado?

  8. Qual é a qualidade audiovisual do documento? Desenho animado? entrevista, documentário, ficção, relato de testemunha visual, debate, conversa? Qual é a qualidade técnica da imagem e do som? As cenas refletem o talento da equipe de produção?


Vídeo
Para o uso do vídeo, necessita-se de uma filmadora e de um monitor.
Deve-se usar fitas VHS. Os sistemas de vídeo diferem de um país para outro. Contudo, as unidades centrais geralmente facilitam a transmissão do original para o sistema requerido.
O uso do vídeo geralmente compreende os seguintes passos:
  1. Introdução do tópico pelo apresentador. Este capta a atenção do público para o programa que será apresentado.

  2. Projeção do vídeo.

  3. Debate mediado pelo apresentador: O que o produtor deseja dizer? Que mensagens quis transmitir? Que pensamos sobre elas? Como nos atingem? Que partes desejaríamos assistir outra vez?

  4. Repetição de partes que interessam ao público: congelamento de uma determinada imagem (examinar, mais detalhadamente, as expressões faciais do público, suas atitudes, etc…). Passar a fita novamente, conforme o apresentador ou o público solicitar. Discussão.

  5. Conclusão: Que lições foram aprendidas com este vídeo? O que se deve modificar em relação à técnica? Quando o grupo se reunirá novamente para avaliar mudanças no cotidiano de seus membros?

    Fonte: Von Stedinck M. Applied video. Guide for using video in the field, Rome, FAO, 1990.

Ficha técnica No 16
O uso de slides (a “linguagem” dos slides)

Aplicação
Durante muito tempo, os agentes de desenvolvimento têm usado slides para a motivação e a educação para a saúde. Em geral, o slide é usado como um recurso visual de uma exposição. Contudo, ele tem outras aplicações: a “linguagem” dos slides. O slide pode ser útil para mobilizar as pessoas treinadas. Estas inteiram-se do problema relacionado com a nutrição, interessam-se por ele e medem as conseqüências de modificar as condutas pertinentes. Então podem provar a conduta, avaliar e decidir se a adotam ou não. Também podem decidir sobre a maneira mais conveniente de fazê-lo.
Papel e perfil do facilitador
O facilitador não é somente um “provedor de conhecimentos”. Seu papel é o de motivar e de valorizar os participantes, fazer com que o grupo seja capaz de utilizar seus próprios recursos para resolver seus problemas. A tarefa do facilitador varia, dependendo da fase de mudança em que se encontre o grupo. Estas fases são indicadas a seguir:
Fases de concepção
  • Sensibilização. O facilitador busca criar condições para aumentar a compreensão do problema. Também incentiva a discussão do grupo para obter soluções. Nesta etapa, os slides proporcionam uma visão global da situação antes de passar para uma discussão mais focalizada do problema. Esta técnica é chamada de audição ativa e proporciona aos participantes uma oportunidade de expressarem-se entre si de maneira livre e plena.

  • Etapa de auto-diagnóstico. O facilitador convida o grupo a observar suas práticas e comenta as conseqüências, tanto positivas como negativas. Revelamse também as razões subjacentes para as práticas tradicionais.

Os slides utilizados nesta fase estão mais dirigidos ao assunto e mostram formas locais de fazer as coisas dentro do contexto da vida da comunidade. O método busca encontrar os “porquês” e os “comos” das práticas tradicionais.
Fase de formulação
O grupo trata de encontrar outras práticas mais apropriadas. Combinam quais os princípios que lhes permitirão por em prática a nova idéia. Esta é uma fase decisiva. Deve-se vencer a resistência para que a mudança aconteça. Os slides usados aqui mostram as razões para adotar as novas práticas e as condições necessárias para isso. O facilitador deve incentivar a discussão dos “prós” e dos “contras”, mas devese chegar a uma decisão e, além disso, definir a maneira de levar a cabo esta decisão.
Fase de execução
Na promoção de uma nova prática, pode-se usar os slides para mostrar os aspectos técnicos da mudança. Por exemplo, pode-se descrever uma receita passo a passo. O facilitador deve organizar sua apresentação cuidadosamente, permitindo a discussão do grupo sobre cada ponto essencial. Na análise final, é o próprio grupo sobre o qual se intervém, quem decidirá se adota ou não uma determinada conduta relacionada com a nutrição ou se empreende uma ação coletiva para promover uma idéia, produto ou prática especifica.
Fase de avaliação
Realiza-se a avaliação com o grupo envolvido. Os slides mostrados durante a fase de execução permitirão aos participantes analisar qualquer obstáculo enfrentado durante o processo e encontrar formas para vencê-lo.
O uso de slides não se limita à execução de uma estratégia. Esta técnica estimula a participação da comunidade na obtenção de soluçães para os problemas que enfrenta. Não obstante, necessita-se de algum treinamento preliminar para o uso efetivo desta técnica.
Os elementos chave em uma sessão de slides:
Observação
O facilitador dará a palavra a todos os participantes, para que descrevam o que eles vêem. Insistirá para que eles se escutem uns aos outros e expressem seus pensamentos e sentimentos.
Sentimento
O facilitador deve fazer com que os participantes percebam que podem falar livre e plenamente e que os outros escutarão e respeitarão suas opiniões.
Reflexão
O facilitador favorece a discussão, permitindo que todos se expressem. As soluções propostas são objeto de debate.
Decisão de atuar
O facilitador estimulará os participantes a tomarem uma decisão que comprometa o grupo. Os resultados desta resolução serão avaliados quando o grupo se encontrar novamente.

Ficha técnica No 17
O teatro popular

Aplicação
O teatro narra um conto. Apresenta e dramatiza o estilo de vida das pessoas. Acrescenta diversão a uma mensagem inspiradora e, assim, mantém a atenção do público.
Este meio é particularmente válido para as zonas rurais. O teatro é tradicional na maior parte das culturas. O teatro popular interpreta e descreve a realidade da vida contemporânea enquanto usa formas tradicionais de expressão. É um meio que permite às pessoas interatuarem em temas que atingem à comunidade.
O teatro incita o público a refletir sobre a conduta, enquanto identifica personagens específicos que se encontram em uma situação dificil, comum para a população-alvo. Deste modo, o público pode encontrar um modelo para adotar novas condutas e integrá-las em sua vida cotidiana. É importante notar que a identificação com os autores é facilitada se existe alguma semelhança fisica e psicológica. Entretanto, em vários casos, outras figuras tradicionais bem conhecidas também podem estimular a mudar uma conduta.
O palco
Os planejadores de uma intervenção em comunicação social fariam bem recrutando atores profissionais ou pelo menos artistas amadores muito bons para transmitir as mensagens. Não é uma tarefa fácil adequar mensagens de saúde, nutrição ou outros temas, ao espírito do teatro de comunidade. Deve-se incorporar a mensagem dentro de um relato interessante, com características confiáveis.
A obra pode ser escrita de tal forma que, ou o público é absorvido totalmente pelos acontecimentos em cena, ou mantém certa distância emocional do que está sendo representando. Pode-se também convidar a platéia a participar da narração. Portanto, deve-se distinguir os teatros desenhados para espaços públicos, daqueles desenhados para incentivar a ação da comunidade.
O palco deve ser preparado pelo diretor, pelo grupo de atores e pelos técnicos responsáveis pelas mensagens nutricionais. As pessoas envolvidas devem estar alertas contra a produção de obras que sejam, ou muito didáticas e enfadonhas, ou com muito suspense ou comicidade, que levem o espectador a perder a mensagem de nutrição.
Vestuário e cenário
Os atores deveriam vestir roupas usadas normalmente na comunidade. Eles devem levar em conta o vestuário e os acessórios que se requer para seu personagem. O cenário não deve ser caro, mas refletir cenas da vida cotidiana. O vestuário e o cenário devem ser planejados cuidadosamente e com suficiente antecipação.
Divulgação
Deve-se anunciar a obra de maneira que muitas pessoas venham vê-la. O titulo deve ser atrativo para as pessoas.
Ensaio
Os atores devem estar prontos para atuar no dia planejado. Aconselha-se fazer um ensaio na véspera da primeira apresentação. Isto é importante não somente para os atores, mas também para os planejadores de nutrição, que necessitam garantir a incorporação adequada das mensagens nutricionais ao roteiro.
Participação do público
A platéia será convidada a participar, seja durante a apresentação ou depois dela. A participação incrementa a probabilidade de que a aprendizagem aconteça como resultado da obra.

11.3. Comunicação pelos meios de difusão de massa

Os meios de comunicação de massa são vias importantes para atingir maiores audiências a um menor custo. São meios modernos de comunicação, que podem transmitir mensagens educativas de uma maneira muito efetiva. A televisão é, provavelmente, o meio de comunicação de massa mais persuasivo e o rádio é o que cobre a maior audiência. Seu uso é, portanto, muito efetivo quando são usados por um programa educativo.

Ficha técnica No 18
O rádio rural

Como se usa?

O rádio rural é o uso do rádio local de maneira interativa. Utiliza as redes de comunicação social existentes para uma intervenção educativa. Portanto, emprega as tradições do meio rural.
O agricultor pode dizer algo através do rádio rural. Este lhe proporciona a oportunidade de descrever seus problemas com suas próprias palavras. Isto permite iniciar um debate. No começo, o debate está limitado a uma localidade. Mais tarde, pode-se ampliar o debate para toda a região.
A função do nutricionista é a de um facilitador. Ele intervém para chamar a atenção sobre os temas de nutrição.
Através do rádio, são misturadas a realidade local e a do agente de desenvolvimento. É o momento para um debate entre pessoas de diferentes sistemas de valores, um baseado na tradição e o cutro no desenvolvimento científico e tecnológico. A intervenção nutricional está no coração do debate. O nutricionista apresenta o alimento como um fator que afeta o estado de saúde do indivíduo. O agricultor percebe o alimento dentro do contexto sociocultural tradicional. Isto é fonte de muita controvérsia em programas de nutrição. O rádio rural oferece a oportunidade para uma discussão ativa sobre estes fatores.
Quando se deve usar?
O rádio rural permite a reflexão e a discussão de problemas nutricionais que afetam à comunidade. Pode-se usar em várias fases da intervenção.
Durante a concepção, pode-se utilizar o rádio rural para identificar as opiniões da comunidade sobre um determinado fator. Basta registrar os debates em fita. Estas fitas podem ser usadas mais tarde em programas de rádio para estimular a comunicação social.
Durante a fase de formulação, as gravações podem ser usadas para desenvolver mensagens adaptadas às formas tradicionais de comunicação, mas é necessário comprovar o significado dos símbolos usados em cada comunidade, antes de usá-los nas mensagens. Pode-se usar o rádio rural para esta finalidade.
Durante a fase de execução o rádio rural serve para consolidar aquelas crenças, atitudes e práticas que estimulam a nutrição. As mensagens de nutrição terão mais impacto se forem formuladas por pessoas da mesma população sobre a qual se deseja atuar e se forem usadas expressões da vida diária.
Na fase de avaliação, pode-se usar o rádio rural para determinar se houve alguma mudança na comunicação social. Pode-se usar para averiguar se as pessoas falam de maneira diferente sobre a nutrição, se têm prestado atenção às mensagens chave transmitidas e se têm mudado alguns hábitos relacionados com a nutrição.
Portanto, pode-se usar o rádio rural regularmente para gerar idéias sobre nutrição, em diferentes instâncias, como as seguintes:
Espetáculos públicos de variedades
Em uma localidade, convidou-se o público para um grande festival. Primeiro, o apresentador falou aos vizinhos. Então, pediu a um homem de mais idade que falasse sobre a localidade e suas origens. Gravou-se o programa.
Pode-se transmitir regularmente pelo rádio programas curtos com mensagens simples de nutrição. Sua força reside no fato de que contêm comentários feitos espontaneamente pelos membros da comunidade.
Entrevistas gravadas
Depois do espetáculo de variedades, os vizinhos da localidade estão prontos para dar as boas vindas aos membros da equipe de rádio e fazer entrevistas individuais ou de grupo.
Deve-se respeitar certas regras:
  • Tratar somente uma idéia em profundidade em cada entrevista

  • Apresenta-se o relato de maneira pessoal e não geral

  • O relato é preciso

  • A perspectiva é dinâmica; o pesquisador pergunta ao entrevistado sobre a origem do costume ou do hábito

Pode-se organizar também uma mesa redonda entre os residentes da localidade. Isto permitirá compartilhar diferentes pontos de vista.
Estas gravações são uma rica fonte de informações que a equipe de rádio pode usar em programas futuros.
Preparação para a emissão de rádio
Para facilitar seu uso, transcreve-se e, eventualmente, traduzem-se todas as gravações, incluindo os programas públicos. A equipe de rádio pode ajudar os nutricionistas a tornarem a informação clara, cortando-a e colocando-a no papel antes de editá-la.
Os programas públicos serão emitidos conforme o plano preestabelecido.
Importância dos esforços intersetoriais
O desenvolvimento de programas de nutrição pelo rádio rural requer a colaboração entre nutricionistas, moradores da localidade, especialistas em educação e anunciantes de rádio. Os esforços intersetoriais não devem se limitar à duração da intervenção específica, mas se deveria estabelecer mecanismos para propósitos nutricionais de longo prazo.

Ficha técnica No 19
Televisão

Aplicação
Pode-se usar a televisão para criar modelos sociais de conduta.
Forma
As formas possíveis incluem: debate, documentário, telenovela, mensagem comercial, etc. O roteiro e a linguagem variam conforme os diferentes tipos. Os educadores de saúde tendem a usar em excesso uma determinada forma, sem considerar o potencial das outras. O programa de saúde típico é um relato sobre um resultado, seguido de uma discussão entre o apresentador e um ou vários especialistas. Outras duas formas merecem uma consideração especial: a telenovela, com cujos personagens a maioria das pessoas pode-se identificar e a mensagem comercial, que pode ser transmitida repetidamente. O slogan que se usa pode ser uma expressão cotidiana em comunicação social.
O programa clássico de educação para a saúde apela para o intelecto. As telenovelas e os filmes jogam com as emoções.
As mensagens curtas, como os comerciais, apelam para o instinto. Na busca de mudança de conduta, não é suficiente dirigir-se ao lado lógico da inteligência de uma pessoa.
A telenovela
De acordo com as teorias modernas da conduta, a telenovela possui grande potencial, sempre que se respeitem certas condições:
  1. O público pode ser estimulado a imitar a conduta apresentada por um modelo, se ele percebe vantagens em adotar essa conduta.

  2. O público pode ser dirigido a evitar a conduta apresentada por um modelo, se ele se dá conta das conseqüências negativas dessa conduta.

  3. Deve-se apresentar o modelo em uma situação real, de modo que o público possa relacionar sua conduta com a vida cotidiana.

  4. Quando o modelo adota uma conduta, deve-se ver as conseqüências claramente; se a conduta estimula a nutrição, deve-se ter conseqüências positivas; se é reprovável, as conseqüências devem ser negativas.

  5. Se o público deve se identificar com os modelos, estes devem possuir características parecidas com as da população-alvo.

  6. Contudo, estes modelos devem estar em um plano um pouco superior ao da população-alvo (em beleza, inteligência, saúde) de forma que a população se esforce para identificar-se com ele.

  7. Agregando uma descrição verbal do que ocorre (por exemplo, uma conclusão) à apresentação, aumenta-se consideravelmente o efeito sobre a população-alvo.

Respeitando algumas regras básicas de psicologia, a televisão pode levar o público a modificar sua conduta por outras razões, além da lógica. Deve-se cuidar para que não se usem formas de manipulação que não sejam compatíveis com o conceito original de educação nutricional. O que se busca é alcançar uma mudança voluntária nas pessoas interessadas.

11.4. A função da escola

O conteúdo escolar é um meio de comunicação especial. Na escola, está o potencial da transmissão de conhecimentos, habilidades, atitudes e valores para todas as futuras gerações de crianças.

Nos países onde o nível de educação escolar é alto, o ambiente escolar permite alcançar uma proporção da população maior que qualquer outro meio. Suas limitações relacionam-se com a idade da população-alvo. Contudo, as crianças, podem ser intermediários efetivos para mensagens dirigidas a seus pais, ou mesmo para toda a comunidade. O programa “A Criança pela Criança” baseia-se neste entendimento.

O Programa “A Criança pela Criança” foi criado em Londres em 1979, durante o Ano Internacional da Criança, por iniciativa do Dr. David Morley. Rapidamente, estendeuse pelos países de língua inglesa, francesa e espanhola.
O Programa baseia-se em uma situação observada em todas as partes do mundo, especialmente nos países em desenvolvimento. As crianças de mais idade, especialmente as meninas, cuidam de seus irmãos e irmãs menores. O propósito do Programa foi educar essas crianças maiores para que possam cuidar melhor dos menores.
Consequentemente, à luz dos programas para estas crianças, percebeu-se a função que os intermediários poderiam exercer na transmissão de conhecimentos, atitudes e práticas positivas, de uns para os outros, para seus pais e, eventualmente, para a comunidade onde vivem.
O Programa “A Criança pela Criança” cresceu em muitas instituições sob o cuidado das crianças, especialmente nas escolas. Propuseram-se métodos educativos de participação, baseados na análise de problemas de saúde. Esta metodologia revolucionou o método acadêmico tradicional: fez com que a criança fosse o “ator” principal de sua própria educação.

Existem pelo menos duas maneiras de trabalhar com escolas. A primeira é intervir de fora para educar as crianças sobre saúde ou nutrição. A segunda é modificar o currículo para incluir o estudo de saúde e de nutrição.

Intervenção pontual

O método sistemático consiste em usar a escola como um canal para a difusão ocasional de mensagens positivas sobre saúde e nutrição. Através de uma campanha de promoção sobre imunização, por exemplo, os trabalhadores de saúde podem explicar o programa e seus benefícios às crianças (para incentivá-las a serem vacinadas ou para motivá-las a informar outras pessoas).

O procedimento é bastante simples. Aqueles que estão encarregados pela intervenção começam contatando os diretores de escolas (nas intervenções de nível nacional deve-se obter a autorização necessária). Juntos decidem um programa para visitar as escolas. Durante estas visitas, os professores permitem que os especialistas falem com os alunos. Terminada a campanha, a escola retorna a seu programa normal.

A revisão dos currículos escolares

Pode-se definir um currículo como um conjunto de atividades planejadas para educar. Compreende a definição dos objetivos de aprendizagem, os conteúdos, os métodos, os materiais (incluindo os manuais escolares), os aspectos relacionados com o treinamento dos professores e a avaliação de todo o processo. Se alguém deseja modificar os métodos de ensino sobre uma base contínua, deve revisar todos estes elementos do currículo e adaptar os objetivos e conteúdos aos novos métodos de ensino.

Também é importante criar na escola um clima positivo sobre nutrição. Hoje, sabese que o estudante sabe tanto ou mais sobre nutrição e saúde a partir do que ele mesmo experimenta, e não tanto do que lhe ensinamos. De que servem as lições sobre uma dieta balanceada, se no almoço escolar não se cumprem estes princípios? Como se pode ensinar hábitos higiênicos a crianças que vivem em um ambiente escolar em condições de higiene inadequadas?

Os princípios apreendidos devem ser traduzidos para a prática.

A “educação nutricional” está sendo substituída gradualmente pela “promoção do ambiente nutricional”, que envolve toda a comunidade educacional. Não se refere somente ao ensino, mas também à melhoria das condições da vida escolar, incluindo uma alimentação equilibrada.

A escola proporciona uma perspectiva a longo prazo sobre as mudanças na comunicação social em nutrição. As mensagens disseminadas no centro social, no centro de saúde ou noutros lugares, encontrarão terreno fértil com os futuros adultos da sociedade, se a escola empreender educação nutricional desde cedo.

Exemplo
No Nepal, um programa multisetorial de educação nutricional, desenvolvido pela FAO, revisou o currículo das diferentes instituições educacionais incluindo escolas e programas de educação de adultos. Os passos seguidos pelo programa foram:
  1. Uma equipe de especialistas revisou o currículo de cada instituição de educação, tanto formal como informal, em todos os setores.

  2. Identificaram-se os tópicos relacionados com a nutrição.

  3. Fez-se uma lista com os tópicos que era necessário acrescentar ou integrar.

  4. Revisaram-se os currículos em uma oficina de especialistas que incluía nutricionistas.

  5. Desenvolveram-se protótipos de materiais de ensino e recursos audiovisuais com base nos currículos revisados e provados pelos professores em situações reais de campo.

  6. Concluiu-se a elaboração dos materiais e dos recursos para c ensino, em uma oficina, na qual se incorporaram modificações baseadas nos resultados das provas de campo.


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