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Diagnóstico Participativo da Situação Alimentar e Nutricional da Comunidade

Resumo

Quando a comunidade está interessada em iniciar um projeto participativo de nutrição, o agente de desenvolvimento deve ajudar no sentido de se fazer uma análise da situação alimentar e nutricional.

Esta análise ajudará a comunidade a compreender melhor sua situação. Permitirá identificar os problemas e obstáculos que impedem uma boa nutrição e as famílias mais afetadas, proporcionando os elementos para priorizar seus problemas alimentares e nutricionais. Ademais o diagnóstico servirá como base para o planejamento conjunto de atividades para melhorar a situação alimentar e nutricional.

Dos resultados do diagnóstico inicial, realizado durante a fase preparatória, pode-se elaborar uma lista de verificação dos temas a serem considerados com a comunidade, dando particular atenção a qualquer aspecto que corresponda às famílias ou pessoas marginalizadas.

Se bem que esta análise possa ser realizada em qualquer época do ano, deve-se considerar que a situação alimentar e nutricional de uma comunidade normalmente varia de estação a estação. Com o fim de complementar e completar os resultados, pode-se coletar dados adicionais em outros períodos.

Uma análise participativa implica num diálogo entre os membros da comunidade e o agente de desenvolvimento. Portanto, trata-se de um processo contínuo que requer tempo e para realizar-se pode tomar várias semanas ou meses.

A informação para a análise participativa da situação alimentar e nutricional pode ser coletada de vários modos: entrevistas semi-estruturadas, individuais ou de grupos, técnicas de visualização, observação participativa, análise das tradições culturais, teatro popular, jogo de papéis, celebrações etc. Também se pode obter informações das organizações comunitárias e através de exercícios analíticos tais como exercícios de ordenamento e confecção de calendários sazonais, mapas e análises de atividades diárias.

O agente de desenvolvimento deve ajudar a comunidade a resumir os resultados do diagnóstico, a discuti-los e a priorizar os problemas que surjam.

Quem pesca? Quem compra o pelxe, limpa-o, defuma-o e o vende? Estas são perguntas chave para se entender como funcionam comunidades pesqueiras

Diagnóstico: Por que?

Os projetos participativos de nutrição tem como meta principal apoiar grupos especificos na seleção de alternativas que assegurem um bom estado nutricional a todos os membros de suas famílias.

Mediante um diálogo entre o agente de desenvolvimento e a população, os projetos participativos permitem aos usuários decidir que mudanças, inovações ou intervenções seriam mais adequadas para melhorar suas condições alimentares e nutricionais.

As soluções podem ser mais apropriadas e eficazes quando se baseiam numa análise dos problemas pelas pessoas afetadas e em suas opiniões. No processo de análise participativa, os membros da comunidade participam na caracterização de sua situação alimentar e nutricional e na identificação das causas dos problemas relacionados, segundo sua própria compreensão da realidade. O papel do agente de desenvolvimento neste processo é o de um facilitador.

O processo de diagnòstico participativo serve para:

Diagnóstico participativo: O que?

Ao implementar um diagnóstico participativo, deve-se prestar atenção aos seguintes três pontos:

  1. Os hábitos alimentares e sistemas tradicionais de produção e como mudam com o tempo, juntamente com as razões desta mudança e se estas resultariam em melhoria na situação nutricional ou não.

  2. Os padrões alimentares desejados ou o que se preferiria comer e porque. Em muitos casos existe o desejo de consumir mais alimentos “de prestigio”, que podem ser nutricionalmente menos adequados e, em geral, são mais caros.

  3. As estratégias que as famílias utilizam para superar os problemas sazonais ou imprevistos do tipo alimentar ou nutricional; o impacto, a longo prazo, destes mecanismos de sobrevivência sobre a produção de alimentos e o consumo alimentar das famílias.

As famílias e indivíduos marginalizados requerem especial atenção. A distribuição dos recursos, como terras, água, mão de obra ou renda, não é uniforme entre as famílias de uma comunidade. Os mais pobres tendem a apresentar os problemas nutricionais mais sérios e os recursos mais escassos.

Freqüentemente não só porque seus recursos são mais limitados, não lhes permitindo cobrir suas necessidades básicas (alimentos, moradia, vestuário, etc.), como ainda porque são ignorados ou rechaçados pela comunidade. Podem ser obrigados a ausentar-se por razões de emprego externo, não estando presentes para a análise dos problemas e desenho das atividades. A obtenção deste tipo de informação ajudará o agente de desenvolvimento a determinar o que se requer para assegurar a participação destas famílias no projeto.

Um bom modo de identificar as famílias mais pobres é sugerindo que a comunidade se ponha de acordo sobre uma lista de critérios (indicadores) para sistematizar esta identificação. Estes critérios devem refletir as características sociais, culturais e econômicas da comunidade e serão, portanto, diferentes de uma comunidade para outra.

Quadro 6 - Indicadores de pobreza (Quênia)
Num projeto participativo de nutrição, no Distrito de Kakemega, Quênia, as comunidades concordaram com os seguintes indicadores de pobreza para famílias e/ou indivíduos:
- problemas graves de desnutrição
- renda diária inferior a Kshs '15(*)
- mais de sete filhos
- incapacidade de mandar os filhos às escolas
- moradias com tetos de palha que gotejam com as chuvas
- infestados com níguas (bicho de pé)
- falta de vestuário adequado
- más condições de higiene
- pessoas incapacitadas
- órfãos ou meninos abandonados
- pessoas maiores de 70 anos sem assistência
- pessoas rejeitadas ou marginalizadas (por enfermidade ou por crime)
(*) Kshs - padrão monetário do País

Durante o processo de diagnóstico participativo, o agente de desenvolvimento facilita a compreensão analítica da comunidade sobre sua situação alimentar e nutricional e os fatores determinantes, evitando expressar opiniões em relação aos problemas e necessidades identificados por outros.

Com base nos resultados do diagnóstico inicial realizado na fase preparatória, o agente de desenvolvimento poderá preparar uma lista de verificação sobre aspectos que devem ser investigados na análise participativa. Na Lista de Verificação 2 (página seguinte) indica-se um número de pontos que podem servir de guia na confecção de sua relação. Embora os pontos possam ser apresentados como perguntas, não se deve utilizar as listas como questionários, senão como referência para lembrar os aspectos a serem considerados. Recomenda-se consultar os informantes da comunidade sobre quais pontos poderiam ser delicados ou conflitantes e a melhor maneira de tratá-los.

Lista de verificação 2: Diagnóstico participativo alimentar e nutricional - Temas de interesse

A intenção é que esta lista sirva como guia flexível para explorar os temas de interesse dentro de uma comunidade, adaptando-a ou expandindo-a em cada caso particular. Deve ser utilizada como uma referência para estimular o diálogo, e não como um questionário.

  1. Sistemas alimentares locais e mudanças recentes (Para cada grupo social identificado na fase preparatória)

  2. Hábitos, preferências e crenças alimentares

  3. Atividades dos membros da casa relacionadas com alimentação e nutrição (p. ex. colheita, produção, processamento, compra, preparação de alimentos)

  4. Produção para autoconsumo

  5. Processamento dos alimentos locais

  6. Armazenamento de alimentos

  7. Compra de alimentos

  8. Preparação e uso de alimentos

  9. Abastecimento e uso de água

  10. Aspectos ambientais

  11. Estado Nutricional

  12. Causas e tratamento das doenças

  13. Capacidade de atenção a pessoas vulneráveis (ou de risco)

  14. Aspectos sociais

Diagnóstico participativo: Quando?

As variações sazonais afetam a situação alimentar e nutricional da comunidade. Portanto, quando se chegar a interpretar a informação coletada na análise, será necessário considerar o período do ano no qual se obteve o dado. Informação complementar se poderá conseguir depois. Analisar a situação alimentar e nutricional das famílias em período de escassez pode ser particularmente útil para identificar os problemas essenciais e o modo como as pessoas os conduzem.

O processo de diagnóstico exige muito tempo por requerer interação entre os membros da comunidade, e entre eles e o agente de desenvolvimento. Ao planejar as atividades, o agente de desenvolvimento deve lembrar que algumas delas só poderão realizar-se durante os períodos de menos trabalho, quando as pessoas estiverem menos ocupadas e tenham mais tempo livre.

Um diagnóstico participativo é um processo continuo. O agente de desenvolvimento ajuda a comunidade a planejar suas atividades com base na compreensão inicial que ela tenha dos obstáculos que enfrenta. O processo poderia levar dois a três meses e, à medida que vai progredindo, a compreensão tanto da comunidade como do agente do desenvolvimento poderia mudar, conduzindo possivelmente a uma reorientação das atividades e ao desenvolvimento de outras novas.

Um processo participativo só se pode desenvolver baseado numa relação de confiança entre o agente de desenvolvimento e a comunidade. Pelo tempo que leva para desenvolver este tipo de relação, é necessário que o trabalhador colabore com a comunidade por um período suficientemente prolongado para permitir a implementação e realização do projeto em sua totalidade. Um período de aproximadamente dois anos é considerado como o tempo minimo requerido.

Defumadoras de peixe discutem o orçamento de uma delas escrito com (tiza) na mesa.

Diagnóstico participativo: Como?

O agente de desenvolvimento pode ajudar a comunidade a colher informação alimentar e nutricional usando várias técnicas.

Pode sugerir á comunidade que indique uma pessoa ou grupo de pessoas para colher a informação existente. Várias instituições, como os postos de saúde, produzem informações rotineiras que podem ser pertinentes com a situação alimentar e nutricional da comunidade. Por exemplo, pode-se solicitar que um profissional de saúde explique qual informação se recolhe num posto de saúde e porque, de maneira a iniciar uma discussão sobre o tema.

Pode-se conseguir uma boa parte das informações de fontes orais, aproveitando qualquer encontro ou reunião desde palestras informais com pessoas até reuniões comunitárias.

Os agentes de desenvolvimento podem aprender muito observando o modo de viver das pessoas, perguntando sobre o que se vê, analisando as respostas e discutindo esta análise com a população. Esta técnica, chamada ás vezes, de observação participativa, também serve para estimular uma tomada de consciência local sobre atividades rotineiras que consideram normais e que nunca questionaram.

Entrevistas semi-estruturadas podem ser efetuadas com grupos de diversos tamanhos e os contatos chave da comunidade. Uma entrevista semi-estruturada é uma entrevista informal mas preparada e conduzida pelo agente de desenvolvimento e na qual só algumas das perguntas são préestabelecidas. Novas perguntas e linhas de interrogação surgem das respostas do entrevistado.

Reuniões com pequenos grupos possibilitam uma discussão mais profunda das preocupações comuns. Por exemplo, um grupo de mulheres grávidas e nutrizes poderia estar particularmente interessado por uma discussão sobre a dieta das crianças. A identificação de tais grupos focais pela comunidade teria que ser fomentada pelo agente de desenvolvimento. Um número apropriado de participantes para reunião de pequenos grupos seria de 6 a 11 pessoas.

Muitos verificam que é difícil participar em discussões de grupos que tendem a ser dominados por um número limitado de pessoas. Com grupos alfabetizados pode-se melhorar a participação das pessoas e proteger seu anonimato utilizando técnicas de visualização, nas quais os participantes põem por escrito pontos que consideram essenciais para a discussão. Estas técnicas podem também ser adaptadas, para uso com pessoas analfabetas por exemplo, organizando os grupos de tal modo que cada um inclua uma pessoa que sabe escrever para anotar os pontos de vista dos participantes.

Os diálogos de um a um, ou pessoais servem também para promover a participação daquelas pessoas que pertencem, em particular, ás famílias mais pobres e que, freqüentemente, não se dispõem a falar em público. Observando ou escutando narrativas de tradições culturais, pode-se conseguir referencias valiosas sobre os hábitos alimentares, usos sociais dos alimentos e mudanças nos padrões alimentares. Pedir ás pessoas que recordem contos, canções e rituais relacionados com os alimentos, além de ser divertido, proporcionará ao agente uma oportunidade para estimular um debate.

QUADRO 7: Diagnosticando desnutrição aguda em crianças
Nos últimos anos foram desenvolvidos vários métodos que permitem aos membros de uma comunidade determinar facilmente a prevalência da desnutrição aguda em crianças menores de cinco anos. Muitos deles se baseiam no fato de que uma circunferência do braço inferior a 12,5 cm foi universalmente aceita como um sinal de desnutrição severa para estes meninos.
A Fundação Menino para Menino recomenda por exemplo o uso de um cilindro de 10 cm. de largura e 12,4 cm. de circunferência feito com um pedaço de madeira ou outro material local, que permita uma comparação rápida com a circunferência braquial de meninos menores de 5 anos. Este instrumento foi utilizado com êxito por escolares mais desenvolvidos num diagnóstico rápido de situação alimentar e nutricional em Kabak Guiné (África Ocidental)

Demonstrou-se que o teatro popular e os jogos de papéis são técnicas eficientes para promover uma tomada de consciência da comunidade sobre assuntos relacionados com a alimentação e nutrição e para promover a participação, tanto de atores como de espectadores.

Organizar jogos e celebrações é outra maneira de incrementar a participação e otimizar as oportunidades para um intercâmbio de opiniões.

Pode utilizar-se também uma variedade de exercícios de análise para estimular o interesse entre os participantes, assim como esclarecer dúvidas sobre os dados. Entre estes exercícios incluem-se os calendários sazonais, exercícios de hierarquização, mapas e quadros de tempo.

Mediante a preparação de calendários por grupos específicos (p.ex., mulheres, agricultores e trabalhadores sem terras) pode-se indicar as características e flutuações periódicas de diferentes fatores, como padrões de cultivo, disponibilidade e preços de alimentos, gastos estimados, prevalência de doenças ou demanda para mão de obra (em particular de mulheres). Estes calendários facilitam a identificação visual dos períodos críticos para o estado nutricional (períodos de “Stress” nutricional) e os impedimentos existentes.

Figura 3. Calendário sazonal de uma comunidade nas Filipinas

Figura 3

Figura 4 - Calendário de “stress” nutricional para defumadoras em Chokomey e Oshivie - Gana

Stress nutricional
Calendário preparado durante uma análise participativa rápida em janeiro de 1992, em dois povoados da Costa do Marfim
SetembroOutubroNovembroDezembroJaneiroFevereiroMarçoAbrilMaioJunhoJulhoAgosto
CHUVAS*      *****
PESCA LIMITADA    ******* 
BAIXA RENDA DA PESCA            
- DEFUMADORAS GRANDES         ** 
- DEFUMADORAS PEQUENAS    ******* 
PRECOS ALTOS DO MILHO (Alimento) *    ***** 
PRECOS ALTOS DA FARINHA (Alimento) *******    
PRECOS ALTOS DO PRATO BÁSICO     ****   
TRABALHO INTENSIVO- PROCESSAMENTO DE PEIXE***        *
TRABALHO AGRICOLA INTENSIVO**  **   ***
DIARRÉIA      ******
MALÁRIA*       ****
SARAMPO       *    
TOSSE/RESFRIADO  ****      

* Período em que isto ocorre afetando negativamente a nutrição
N.R. Este calendário começa em setembro com o objetivo de respeitar a cronologia tradicional da comunidade

As figuras 3 e 4 representam dois tipos diferentes de calendários. Numa próxima etapa do projeto, durante a seleção de atividades e sua planificação, estes calendários servirão como material de referência. Ademais, podem ser úteis para identificar oportunidades, como por exemplo o melhor período para o plantio de novos cultivos. Por outro lado, fazendo uma comparação entre os calendários preparados pelos diferentes grupos, podem-se distinguir diferenças nos modos de perceber as coisas, conduzindo à geração de informação útil e a discussões proveitosas.

Podem-se empregar exercícios de hierarquização para determinar as preferências da população ou como fontes de informação alternativa aos dados quantitativos. Utilizando materiais disponíveis como pedras, feijões ou palitos de diferentes tamanhos, as pessoas expressam suas preferências ou registram suas respostas e perguntas como: Qual é o mês mais agitado para o trabalho agrícola? Quando um certo alimento custa mais? Qual a atividade mais rentável? A informação gerada pode ser utilizada em combinação com dados obtidos por outros métodos para preparar um calendário sazonal, por exemplo. Exercícios de hierarquização são também úteis numa etapa posterior quando se trata de priorizar problemas e eleger atividades prioritárias. Uma hierarquização da comunidade em termos sócio-econômicos ajuda na identifição de grupos-meta para várias atividades.

No processo de definir os problemas e identificar as possíveis soluções, também se podem aproveitar mapas elaborados pelos diferentes grupos. Neles se poderá identificar a localização das casas os espaços para produção ou coleta de alimentos, a coleta de lenha para combustível, os pontos de distribuição de alimentos, as fontes de água e os serviços de saúde. No mapa 2, se mostra um exemplo dos resultados deste tipo de exercício de um projeto participativo de nutrição em uma comunidade das Filipinas.

MAPA 2: Mapa da Comunidade (Filipinas)

Mapa 2

Figura 5 - Emprego do Tempo numa defumadora de peixe

ATIVIDADETEMPO RELATIVO UTILIZADO 
• •5 HORAS VARRENDO
• • •APANHANDO ÁGUA
• • • BANHANDO-SE E BANHANDO O MENINO
COMPRANDO ALIMENTOS E COMENDO
• • • LAVANDO ROUPA
• • • • • •
• • • • • • •
ESPERANDO NA PRAIA
• • • • • • • • •
• • • • • • • • • •
DEFUMANDO PEIXE
• • • • • PRERARANDO A CEIA
• • • BANHANDO O MENINO
 DIETANDO-SE ÀS 9 HORAS
N.B. Os pontos negros na coluna central representam os feijões para quantificar o tempo em cada atividade

Estabelecer seu emprego diário do tempo pode ajudar as pessoas a aclarar seu papel, identificar problemas e discutir a factibilidade de possíveis atividades. Segundo as necessidades, pode-se assim analisar o emprego do tempo de diferentes pessoas, em função, por exemplo, de seu sexo, idade e ocupação principal em diferentes épocas do ano (ver exemplo na figura 5).

Preparando um quadro de emprego do tempo
O tempo relativo se especifica colocando um número de grãos de feijão ou outros objetos (pedras, palitos) junto à atividade correspondente. A atividade que exige mais tempo se indica com um número maior de objetos.

Quadro 8: Análise participativa da situação alimentar e nutricional (Guiné)
Na comunidade pesqueira de Kabak Guiné (África Ocidental) mencionada no quadro 7, a análise participativa da situação alimentar e nutricional levou à identificação dos seguintes problemas:
- as refeições são monótonas e pouco freqüentes
- desmamam-se as crianças muito tardiamente
- as praias são muito sujas (restos de alimentos e deposição indiscriminada de dejetos humanos)
- a água de beber é suja
- as famílias estão permanentemente endividadas
Isto levou a discussões sobre possíveis soluções, como o estabelecimento de um banco de arroz, a proteção dos poços, a limpeza das praias, (organizada localmente) e melhoramento dos serviços de saúde através da introdução de uma clinica móvel para o posto fixo.

É importante resumir e discutir com certa regularidade a informação obtida e difundir os resultados das análises do grupo com diferentes grupos e a comunidade em geral. Deste modo assegura-se que a comunidade esteja de acordo com a interpretação dos dados e possa determinar quando seria necessário obter maior informação sobre certas questões.

Num diagrama de causalidade, a “árvore de problemas” como a da figura 6, pode-se visualizar a informação obtida de forma resumida, além de assinalar a origem dos problemas, demonstrar as causas da desnutrição e as relações entre elas. Este tipo de diagrama proporciona uma boa base para discussão e planificação das intervenções.

Uma análise da informação ajudará a comunidade a determinar que grupos e/ou famílias correm o maior risco de sofrer cada um dos problemas nutricionais identificados e que famílias estão mais seriamente afetadas pelo problema.

Se o processo precede ao passo estabelecido pela comunidade, tomará um bom tempo e um período de seis meses não é exagerado para uma apreciação deste tipo: O tempo dependerá do interesse e disponibilidade de tempo dos membros da comunidade, bem como da freqüência e duração das interações entre o agente de desenvolvimento e a comunidade

Figura 6 - Diagrama de causalidade ou “Árvore de Problemas”, identificando as causas da desnutrição (em comunidades selecionadas do Distrito de Kakamega, Quênia)

Figura 6

Continua-se o processo diagnóstico e de coleta de dados durante o projeto e irão sendo identificadas as atividades à medida em que a análise vai progredindo; a planificação de atividades se burilará e modificará com a geração de novas informações e logo que se manifestem outras necessidades comunitárias.

Uma vez que a comunidade haja identificado uma série de problemas alimentares e nutricionais, as causas subjacentes e os grupos/famílias afetadas, pode-se comparar os resultados da análise comunitária com os do diagnóstico inicial realizado na fase preparatória. Qualquer discrepância ou contradição entre os resultados deve ser discutida com a comunidade, buscando conseguir mais informação e melhor compreensão dos problemas.

Nesta etapa, talvez alguns problemas considerados importantes pelo agente de desenvolvimento não sejam reconhecidos como tais pela comunidade. Seria contraproducente obrigar a comunidade a considerar problemas que não entende ou com os quais não esteja de acordo. É melhor concentrar-se naqueles problemas que convenham à população. É possível que, na medida em que o projeto vai progredindo, evoluirá a compreensão por parte da comunidade, como também do agente de desenvolvimento, resultando num melhor entendimento entre ambos.

Talvez o agente de desenvolvimento queira discutir, com outras pessoas que trabalham na área, os pontos em desacordo com a comunidade, a fim de comparar experiências e enfoques. Poderia obter, assim, algumas idéias sobre como tratar estes assuntos no futuro.

Quadro 9 - Identificação de problemas alimentares e nutricionais (Quênia)
Num projeto participativo de nutrição no distrito de Kakamega (Quênia) observou-se que a desnutrição era causada por:
- escassez de terras em relação a uma pressão demográfica crescente.
- mudança nos padrões agrícolas em particular um abandono progressivo dos cultivos alimentares tradicionais, como o milho e o sorgo, conduzindo a técnicas de produção inadequadas.
- necessidades financeiras substanciais para as famílias, entre dezembro e fevereiro.
- falta de atividades alternativas para a geração de renda.
- competição para a renda limitada da família entre os requerimentos alimentares e outras necessidades (por exemplo: enterros)
- dificuldade crescente de acesso à lenha para cozinhar
- preparação inadequada de alimentos e distribuição imprópria entre os membros da família.
- inadequado sistema de mercados e distribuição de alimentos na zona (poucos mercados, falta de estabelecimentos de vendas de alimentos na comunidade, agravados por uma rede de transportes deficiente.
- falta de saneamento e higiene
- insuficientes serviços de saúde e problemas com os recursos existentes (falta de medicamentos).

Priorizando os problemas alimentares e nutricionais

O próximo passo num diagnóstico participativo dos problemas alimentares e nutricionais é priorizar os problemas. Uma discussão dos seguintes pontos ajudaria a comunidade a estabelecer as prioridades:

Para assegurar uma participação plena de todos os membros da comunidade, talvez seja necessário organizar discussões separadas com grupos específicos, como mulheres, jovens ou famílias marginalizadas. As prioridades expressas pela comunidade podem ser comparadas com as prioridades identificadas no diagnóstico inicial.

Camponeses vietnamitas discutem a possível localização de um posto de saúde

Possíveis Problemas

-   Com freqüência, a população e o agente de desenvolvimento percebem uma mesma coisa de maneira diferente. Por exemplo, a percepção do que é a delgadez (ou magreza) varia de uma cultura para outra. Aos olhos de uma determinada população o emagrecimento talvez não esteja relacionado com a desnutrição. Do mesmo modo, muitas pessoas não relacionam os sinais clínicos da desnutrição com seus hábitos alimentares. Para os pais poderia ser inaceitável relacionar os problemas nutricionais com um consumo inadequado, por sentir que se está questionando sua capacidade de alimentar bem os seus filhos.
Utilizar técnicas que não sejam compreendidas e aceitas pela comunidade pode prejudicar o processo participativo.
-   Dada a diversidade de temas considerados num diagnóstico participativo, a análise pode se tornar tão ampla que se percam de vista os assuntos alimentares e nutricionais mais específicos. É responsabilidade do agente de desenvolvimento retomar de vez em quando a direção geral do processo, com o cuidado de não comprometer o processo participativo impondo suas opiniões.

Passos no diagnóstico participativo da situação alimentar e nutricional da comunidade

O agente de desenvolvimento ajuda a comunidade a:

  1. Analisar sua situação alimentar e nutricional.

  2. Identificar os problemas existentes relacionados com a nutrição e os maiores impedimentos a uma nutrição adequada.

  3. Identificar as famílias vulneráveis relacionando-as a cada problema e determinar quais são as mais afetadas.

  4. Ajudar as comunidades a priorizar seus problemas alimentares e nutricionais.

  5. Resumir e chegar a um acordo sobre os resultados do diagnóstico.


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