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SESSÃO 5: MELHORAR A CONTRIBUIÇÃO DA HORTA PARA RESPONDER ÀS NECESSIDADES ALIMENTARES DIÁRIAS DA FAMÍLIA


OBJECTIVO

No fim desta sessão, os técnicos de campo deverão ser capazes de identificar as opções tecnológicas que permitem melhorar a produtividade das hortas da região e consequentemente a nutrição das famílias.

ABORDAGEM GERAL

Uma horta bem tratada tem o potencial (quando o acesso à terra e à água não é um obstáculo) de fornecer alguns alimentos de base e a maior parte dos outros alimentos de que uma família necessita cada dia do ano. Estas hortas oferecem às famílias uma larga variedade de alimentos, tais como raízes, tubérculos, leguminosas, legumes, frutos, especiarias, assim como produtos animais e, por vezes, até mesmo peixe.

A presente sessão trata das opções tecnológicas e dos conselhos de gestão para melhorar o acesso das famílias a diferentes alimentos nutritivos, durante todo o ano. Os problemas relativos ao sistema alimentar de uma dada comunidade local, que foram abordados na Sessão 4, constituem o ponto de partida das discussões desta sessão. Fundamentando-se nos conhecimentos que têm das comunidades locais e das tecnologias disponíveis, os participantes deverão considerar cada domínio potencial de intervenção e identificar, depois de as examinar, as opções tecnológicas que parecem ser aplicáveis à situação local.

Para além das fichas de informação estudadas nas sessões anteriores, os participantes devem estudar as fichas sobre a valorização do solo, a gestão da água, a luta contra ervas daninhas e pragas, e o acompanhamento da cultura.

Os resultados da avaliação das necessidades de formação, mencionados na introdução deste manual, vão ajudar os formadores a determinar o tempo necessário para esta sessão e a escolher entre a opção 1 ou a opção 2 (ver os parágrafos que se seguem). Se os participantes têm bons conhecimentos de horticultura, deve ser seguida a opção1. Se, pelo contrário, os seus conhecimentos tiverem de ser reforçados, serão necessários 1 a 3 dias suplementares. O formador especializado no domínio agrícola pode decidir o tempo suplementar a consagrar a esta sessão.

ACTIVIDADES

No primeiro dia do curso de formação, os formadores devem ter distribuído as Fichas de Informação 1 e 2 e da 6 à 12, assim como todos as Rubricas Tecnológicas de Horticultura, e pedido aos extensionistas para estudarem cada noite uma série bem específica de fichas e de rubricas. Com base nos resultados da avaliação das necessidades de formação, os formadores seleccionam então uma das seguintes opções.

Opção 1. Os participantes dividem-se em 5 grupos. Cada grupo estuda uma das séries de fichas de informação e dos Rubricas Tecnológicas de Horticultura correspondentes, e prepara-se para responder às questões que lhe serão postas acerca desses documentos. Os formadores devem assegurar-se de que todos os participantes conhecem bem o conteúdo de cada rubrica.

Opção 2. Esta opção é semelhante à opção 1, exceptuando a necessidade de inclusão de algumas sessões de campo sobre aspectos práticos da horticultura, se os resultados da avaliação das necessidades de formação demonstrarem que os participantes necessitam de mais conhecimentos no domínio prático.

Séries de fichas de informação e de rubricas tecnológicas de horticultura a estudar

O seguinte material será estudado sob a forma de séries:

Série 1

Série 2

Série 3

Série 4

Série 5

Perguntas e respostas. O formador apresenta as notas de síntese (ver as páginas 57 e 58). Guiando-se por elas, os técnicos de campo reflectem sobre as questões a colocar a cada grupo.

Discussão. O formador apresenta um exemplo de uma horta bem tratada (ver a Figura 5.1) e convida os técnicos de campo a comentar os seguintes aspectos:

Exemplos locais. Pede-se aos técnicos de campo para darem exemplos de uma boa gestão das hortas a partir da sua própria experiência.

MATERIAL NECESSÁRIO

FIGURA 5.1
Plano de uma horta bem tratada em solo misto

Estrutura

A horta tem 200 m2 de superfície (10 x 20 m) e está situada num terreno acidentado. Há uma pequena zona plana à volta da casa (10% da área total), mas a maior parte do terreno é de terra inclinada (mais de 30 graus de declive) e húmida. O terreno em declive tem culturas ordenadas em vários níveis. Plantas de ciclo vegetativo curto, médio ou longo são cultivadas em conjunto no mesmo lugar. Uma parte da terra húmida foi transformada em arrozal inundado. Foi também previsto um talhão para legumes de estação seca. Um pequeno horto está situado junto da habitação, bem como uma capoeira para galinhas.

Função

A horta é sobretudo uma fonte de alimentos para o dia-a-dia e de rendimentos. Fornece especiarias e plantas medicinais, assim como alguns produtos animais.

Contribuição no plano nutricional

A horta familiar é o principal fornecedor dos alimentos do dia-a-dia. Uma combinação de alimentos provenientes das culturas de base, dos legumes, das oleaginosas, da fruta e das aves de capoeira constitui um bom regime alimentar, capaz de fornecer a energia e os nutrientes de que uma família necessita.

NOTAS DE SÍNTESE

PARA PERGUNTAS E RESPOSTAS

AVALIAÇÃO E PLANIFICAÇÃO DE UMA HORTA

Avaliar a horta

Planificar melhoramentos

· Escolher uma localização adequada

· Fixar objectivos

· Pedir ajuda às pessoas competentes

· Fazer opções tecnológicas utilizando o plano da horta

· Fazer um plano da horta


· Fazer modificações


MANEIO E VALORIZAÇÃO DO SOLO

Proteger o solo

Melhorar a fertilidade do solo

· Cobrir o solo com plantas

· Produzir e utilizar composto

· Limpar só as áreas a cultivar

· Colocar folhagem seca de protecção à volta das plantas

· Controlar a erosão

· Cultivar plantas que forneçam fertilizante verde

· Travar a perda de solo com a ajuda de barreira

· Praticar a rotação das culturas


· Plantar leguminosas

GESTÃO DA ÁGUA

Estação seca

Estação das chuvas

· Escolher culturas que resistam à seca

· Usar camalhões e canteiros sobrelevados

· Plantar nos canteiros inundados e nas pequenas bacias

· Escolher culturas que gostem de água

· Usar todos os pontos de água

· Proteger as plantas jovens das chuvas

· Conservar a água

· Utilizar reservatórios altos

· Proteger com folhagem seca (mulch)

· Utilizar tutores

· Fornecer sombra

· Garantir uma boa drenagem

· Arrancar as ervas daninhas


· Aplicar matérias orgânicas


MANEIO E ACOMPANHAMENTO DA CULTURA

Cultura múltipla

Cultura em diferentes níveis

· Evitar a monocultura

· Cultivar plantas anuais e plantas perenes de acordo com o sistema da cultura em diferentes níveis

· Praticar a cultura alternada

· Utilizar trepadeiras

· Não replantar no mesmo lugar

· Utilizar plantas de diferentes tamanhos

· Plantar e colher de forma sequencial

· Utilizar tutores e outros sistemas de suporte para trepadeiras

Parcelas de cultura intensiva de legumes

· Garantir o abastecimento de água

· Considerar as condições sazonais

· Garantir a diversidade

· Escolher culturas que a família aprecie

· Plantar sebes vivas

· Cultivar plantas anuais e perenes


LUTA CONTRA ERVAS DANINHAS E PRAGAS

Insectos e doenças

Animais

· Alimentar o solo

· Fazer uma vedação

· Plantar em lugares adequados

· Plantar uma sebe viva

· Plantar nas estações certas


· Escolher variedades adaptadas

Ervas daninhas

· Arrancar as partes das plantas doentes

· Arrancar ou cultivar

· Utilizar insecticidas naturais

· Usar folhagem seca de protecção

· Cultivar plantas que repelem os insectos

· Praticar culturas de cobertura e criar

· Mondar sombra natural


NOTAS TÉCNICAS

Mensagens prioritárias

1

É essencial preservar e melhorar a fertilidade do solo para aumentar a produção da horta

2

A escolha das tecnologias e das variedades vegetais melhor adaptadas à topografia e à zona agro-ecológica é primordial para que o potencial da horta seja explorado da melhor maneira

3

Um plano de cultura bem orientado é crucial para assegurar um aprovisionamento contínuo de frutos, legumes, leguminosas e alimentos de base

É essencial preservar e melhorar a fertilidade do solo para aumentar a produção da horta

A manutenção e o melhoramento da fertilidade do solo representam um dos principais desafios com os quais se confrontam a maior parte dos horticultores em África. Por isso, eles devem ter acesso a uma informação apropriada e a conselhos técnicos sobre os seguintes pontos:

Os horticultores devem ter acesso a informação sobre os tipos de fertilizantes mais adequados às diferentes culturas da horta, assim como sobre os períodos propícios à sua aplicação.

Para assegurar uma utilização contínua do solo, de ano para ano e de uma geração para a outra, as comunidades locais precisam de informações na área da maneio do solo e da sua conservação. Os diferentes aspectos da gestão e do melhoramento do solo são examinados em detalhe nas Fichas de Informação 6, "Maneio do solo", 7, "Nutrientes das plantas: papel e fontes", e 8, "Os solos e as plantas como um sistema", assim como as Rubricas

Tecnológicas de Horticultura 5, "Melhoramento do solo", 6, "Técnicas especiais para melhorar a gestão do solo e da água", 7, "Luta contra a erosão, e a conservação dos solos", e 9, "Plantas de cobertura".

Os participantes devem ajudar os agricultores a escolher entre as diferentes tecnologias e métodos de gestão das hortas. Sempre que a propósito, os participantes podem fazer demonstrações sobre a valorização do solo, o melhoramento da fertilidade do solo e de outras tecnologias apropriadas, quer numa parcela de demonstração, quer preferencialmente numa terra que pertença aos agricultores.

A escolha das tecnologias e das variedades vegetais melhor adaptadas à topografia e à zona agro-ecológica é primordial para que o potencial da horta seja explorado da melhor maneira

Para além da valorização do solo e do melhoramento da sua fertilidade, existe uma vasta gama de tecnologias para aumentar a produção e a produtividade das hortas. As características agro--ecológicas e climáticas da região, assim como a sua altitude, são muito importantes para a escolha das culturas e das estações mais propícias ao seu desenvolvimento. Por conseguinte, as tecnologias devem adaptar-se à altitude e às características agro-ecológicas e climáticas de uma dada região. Assim sendo, os agricultores precisam de informação sobre:

Gestão e recolha da água. A distribuição anual das chuvas e o acesso a pontos de água de confiança determinam, muitas vezes, a implantação da horta e dos diferentes tipos de culturas. Os agricultores devem ter acesso a uma informação adequada para saberem se devem fazer os talhões fundos, rasos, ou sobrelevados conforme o tipo de cultura e a época do ano.

As regiões com precipitações regulares têm um melhor potencial de produção estável e contínua de frutos e de legumes, durante todo o ano. Em contrapartida, as comunidades situadas em regiões onde as estações húmida e seca são bem distintas têm de recorrer a várias estratégias que lhes assegurem um aprovisionamento suficiente de frutos e legumes, durante todo o ano. Tais estratégias podem consistir em cultivar duas hortas em simultâneo, uma situada perto da habitação e que será cultivada principalmente durante a época das chuvas, isto é, uma horta de cultura pluvial, e outra afastada da casa, numa terra baixa húmida ou terreno pantanoso. Para que uma horta produza legumes e outras culturas durante toda a estação seca, a utilização de pontos de água não convencionais, tais como as águas domésticas (de lavar a louça ou do banho), poderia ser uma opção.

Além disso, as comunidades que vivem em regiões onde a água da rega é insuficiente durante a estação seca podem criar um ponto de água comunitário (construindo uma pequena barragem ou cavando um poço), financiado pelo fundo comum da comunidade. Junto a este ponto de água, as famílias participantes podem cultivar uma "horta comunitária", na qual cada família tem a sua própria parcela mas partilhará a água e a vedação com os outros membros da comunidade que participam no projecto. Assistidos pelos técnicos de campo, os membros da comunidade podem decidir em conjunto o plano de culturas da horta comunitária e o calendário de cultivo das diferentes culturas alimentares. As sementes e os outros factores de produção, podem ser comprados com a ajuda de um fundo comunitário ou com poupanças acumuladas através de um programa de poupança colectivo. Estas hortas comunitárias constituem excelentes pontos de contacto para que os agentes de divulgação agrícola, os nutricionistas e os agentes de saúde da região possam fornecer conselhos técnicos.

Detalhes sobre a gestão da água e outras técnicas de recolha das águas são dados na Ficha de Informação 9, "A gestão da água", e na Rubrica Tecnológica de Horticultura 6, "Técnicas especiais para melhorar a gestão do solo e da água" .

Variedades vegetais adaptadas ao ambiente. A integração dos produtos hortícolas tradicionais e locais no sistema cultural das hortas deve ser encorajada, mas os baixos rendimentos dessas culturas reduzem o aumento da produtividade. Contudo, pode-se mostrar aos horticultores como manter um bom equilíbrio entre as variedades tradicionais e as variedades melhoradas ou introduzidas.

O estímulo ao cultivo de uma larga gama de culturas alimentares constitui um desafio maior nas regiões semiáridas ou áridas e nas zonas de temperatura baixa (por exemplo, as regiões montanhosas) do que nas zonas húmidas. Os esforços para prolongar a produção de frutos e de legumes durante os períodos mais secos e frios do ano, têm de ser baseados na selecção de espécies e variedades vegetais mais resistentes e na aplicação de práticas de cultivo apropriadas, tais como:

Luta a baixo custo contra as pragas. A luta contra as pragas das plantas hortícolas, particularmente durante a estação seca, representa um outro desafio para as famílias rurais. Os agricultores devem ter acesso a informação sobre boas práticas de higiene das hortas. Além disso, devem conhecer os métodos que permitem lutar contra as pragas, respeitando o ambiente, como por exemplo:

Na Ficha de Informação 10, intitulada "Luta contra ervas daninhas e pragas", são fornecidos pormenores sobre técnicas de baixo custo para lutar contra as pragas, assim como na Rubrica Tecnológica de Horticultura 10, "Protecção segura e eficaz das culturas".

Um plano de cultura bem orientado é crucial para assegurar um aprovisionamento contínuo de frutos, legumes, leguminosas e alimentos de base

Quando se pretende melhorar a horta para ter um aprovisionamento contínuo de frutos e legumes, é importante ter em consideração os recursos inexplorados e o potencial existente, bem como as necessidades e preferências alimentares das famílias.

Ao preparar o plano de cultura de uma horta, é importante considerar factores como o tempo de crescimento de uma planta (desde a sementeira à fase de maturidade), ou a duração do período de colheita dos frutos ou dos legumes de uma planta adulta, antes que tenha de ser substituída. Para além de considerarem as exigências fundamentais de rotação e os aspectos desejáveis da cultura intercalar, os horticultores devem fasear no tempo a plantação ou a sementeira de diferentes tipos de culturas.

Para reduzir os períodos de penúria no aprovisionamento familiar ao longo do ano, por exemplo de fruta fresca, os horticultores devem escolher árvores de fruto cujos frutos amadureçam em diferentes épocas do ano.

Os legumes de folha e as leguminosas devem ser plantados de maneira a fornecer à família, durante todo o ano, diferentes tipos de legumes de folhas verdes e de legumes secos. Os legumes que crescem bem em todas as estações, por exemplo, certas variedades de legumes de folha, podem constituir o essencial da horta e as variedades sazonais podem ser plantadas quando for necessário.

É fundamental que o horticultor esteja bem informado sobre os tipos de árvores de fruto, os legumes e as leguminosas que dão melhores rendimentos nas diferentes épocas do ano, porque poderá assim estabelecer um plano de cultura que permita optimizar o rendimento e os benefícios nutricionais. Os horticultores devem igualmente interessar-se pelos planos de cultura de outros agricultores da região, o que evitará inundar o mercado com uma ou duas produções alimentares, no caso de as famílias produzirem a mais para vender.

O facto de se misturarem culturas anuais e perenes (por exemplo, mandioca e árvores de fruto), e de se adoptarem as culturas múltiplas e a cultura em diferentes níveis, aumenta as disponibilidades alimentares da família o ano inteiro. A batata-doce e o feijão-nhemba, podem constituir boas culturas de cobertura. Algumas culturas e árvores de fruto diferentes, em particular legumes plantados e colhidos de forma contínua, chegam para garantir à família um aprovisionamento constante de alimentos da horta.

Se for necessário produzir quantidades suficientes e diferentes tipos de alimentos hortícolas, particularmente nas planícies húmidas, onde é possível produzir todo o ano, devem ser consideradas técnicas de produção vegetal intensiva. O uso de melhores práticas agrícolas (por exemplo, melhoramento do solo, gestão da água, optimização dos tempos de plantação ou de sementeira, bom espaçamento das plantas, rotação adequada das culturas, controlo das ervas daninhas, luta integrada contra as pragas) podem permitir aumentar a produtividade das culturas. À medida que se adoptam métodos de produção vegetal mais intensivos, deverão ser implantadas melhores técnicas de manutenção pós-colheita (isto é, processamento, conservação e armazenagem), de forma a que os agricultores possam obter o máximo benefício do aumento de produção das hortas.

Finalmente, as famílias devem proteger as suas hortas dos animais à solta, especialmente durante a estação seca. A plantação de sebes vivas pode trazer outros benefícios à família (por exemplo, lenha, tutores e medicamentos).

O técnico extensionista pode ajudar as famílias e as comunidades a identificarem as culturas que melhor se adaptam às condições locais e que fornecerão os nutrientes de que a família necessita para um bom equilíbrio nutricional durante todo o ano. Visto que as mulheres são geralmente responsáveis pelas hortas, é essencial a sua participação integral na planificação e na implementação das inovações.

Encontram-se mais detalhes sobre a gestão e acompanhamento da cultura, em vista ao fornecimento contínuo de alimentos à família, nas Fichas de Informação 11, "Maneio da cultura", e 12, "Alargar a base dos recursos alimentares graças às plantas locais", assim como nas Rubricas Tecnológicas de Horticultura 11, "Sebes vivas", 12, "Cultura múltipla", 13, "Cultura em diferentes níveis", 14, "Cultura de árvores de fruto e de frutos secos", e 15, "Parcelas de cultura intensiva de legumes".


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