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SESSÃO 9: MELHORAR A NUTRIÇÃO ATRAVÉS DAS HORTAS FAMILIARES: ELABORAÇÃO DE UM PLANO DE ACÇÃO


OBJECTIVO

No fim desta sessão, os técnicos de campo estarão aptos a:

· compreender porque é que um plano de acção é essencial para uma boa gestão da horta;

· identificar os principais componentes de um plano de acção.

FIGURA 9.1
O pai, a mãe e os filhos discutem os melhoramentos na horta

ABORDAGEM GERAL

As consultas individuais com as famílias são muito úteis, mas não permitem transmitir-lhes todo o conhecimento e competências de que precisam para tomar as suas próprias decisões e pô-las em prática. A comunidade, vista globalmente ou repartida em vários grupos, deve empreender acções que façam compreender às pessoas a importância e a urgência de melhorar a produção alimentar e a nutrição; a população deve, em seguida, ser orientada para pôr em prática essas acções. A informação e a formação prática em horticultura e em nutrição são necessárias para alcançar estes objectivos. Neste domínio, os agentes de divulgação agrícola e outros agentes comunitários podem dar uma ajuda preciosa.

Uma acção correcta requer uma boa planificação, que se pode realizar utilizando um método simples. Nesta sessão será discutida, ilustrada e aplicada a terminologia de base, bem como os grandes eixos da planificação e da elaboração de projectos.

ACTIVIDADES

Apresentação do método de planificação de projectos. O formador utiliza as notas técnicas da presente sessão para introduzir os elementos de um projecto. Salienta que o método de planificação de projectos se baseia em pressupostos simples e que é muito útil porque ajuda a população a preparar-se para os problemas que possam surgir na implementação do projecto.

Preparação de um projecto. O formador expõe as três primeiras etapas do esquema de projecto 1 - Formação em desenvolvimento das hortas: justificação, finalidade e objectivo do projecto. O formador pede aos técnicos de campo para trabalharem em pequenos grupos para terminar a redacção do plano do esquema de projecto 1, referindo-se a um determinado meio à sua escolha, e para reflectirem na maneira como um projecto ou uma intervenção poderão ser realizados. Os técnicos de campo podem referir-se às informações obtidas durante as entrevistas com os membros da comunidade. O seu trabalho deverá incluir a discussão e a preparação dos seguintes pontos:

Os participantes podem ordenar os elementos do projecto como quiserem, mas devem organizá-los e apresentá-los de maneira lógica. Dependendo da situação e da experiência dos técnicos de campo em matéria de elaboração de projectos, poderá ser solicitada a assistência do formador.

Retroacção. Assim que os participantes tenham definido as grandes linhas do seu projecto, o formador apresenta-lhes o esquema de projecto 1 completo e convida os técnicos de campo a discutirem as diferenças entre este esquema e os seus.

Nota: O esquema de projecto 1 é apenas um exemplo. Os esquemas elaborados pelos participantes serão provavelmente mais sensíveis às condições e às necessidades locais.

Breve discussão. O formador apresenta as duas primeiras colunas (problemas e causas) do Quadro 9.1 completo, "Problemas alimentares e nutricionais, e respectivas soluções"; convida os participantes a sugerir o tipo de acção comunitária mais adequada para cada caso. O formador apresenta então a terceira coluna (soluções), e os técnicos de campo comparam as suas soluções com as do quadro.

O formador salienta o facto de que um plano realista deve ser simples e fácil de ser posto em prática, utilizando recursos disponíveis. A esta sessão deve ser dedicado meio dia de trabalho.

Discussão em pequenos grupos sobre os indicadores. Depois de rever os elementos do projecto, o formador acentua a importância de seleccionar indicadores. Estes ajudarão a comunidade e os participantes a determinarem se as actividades escolhidas para melhorar a horta e a nutrição produzem os resultados esperados. O formador divide então os participantes em pequenos grupos. Cada grupo examina o Quadro 9.1 e discute os tipos de indicadores que poderiam ser utilizados para mostrar se cada uma das soluções ou actividades propostas, na Coluna 3 do quadro, produziu os resultados esperados. Os técnicos extensionistas devem anotar na Coluna 4 do Quadro os indicadores que propõem.

MATERIAL NECESSÁRIO

NOTAS TÉCNICAS

Mensagens prioritárias

1

A acção comunitária deve sensibilizar o público e proporcionar uma formação prática

2

A acção que vise favorecer uma melhor nutrição graças às hortas requer uma planificação cuidadosa

A acção comunitária deve sensibilizar o público e proporcionar uma formação prática

Ao longo das sessões anteriores os participantes aprenderam a reconhecer a importância da segurança alimentar das famílias (isto é, a possibilidade de ter acesso a suficientes alimentos nutritivos durante todo o ano) e a potencial contribuição das hortas para atingir essa segurança alimentar. Serviram-se dos seus conhecimentos, tanto no estudo de casos, como nas situações da vida real.

É necessário agora examinar como o conjunto da comunidade poderá melhorar o aprovisionamento alimentar das famílias. A primeira etapa na elaboração de um plano de acção comunitário consiste em estabelecer uma lista das soluções que os membros da comunidade considerem realizáveis. Algumas destas soluções podem ser postas em prática imediatamente pelas famílias, enquanto, para outras, é preciso primeiro mobilizar recursos e adquirir competências técnicas.

Também poderão existir problemas que os membros da comunidade não percebam necessariamente como problemas, porque não têm conhecimentos suficientes (por exemplo, a relação de causal entre as parasitoses e a malnutrição). Os participantes devem identificar este género de lacuna.

Por isso, a estratégia a adoptar deve prever:

Uma vez estabelecida a lista das actividades, os membros da comunidade podem discuti--la e decidir em conjunto como, por quem, quando e onde essas actividades devem ser empreendidas, e que inputs (materiais, recursos) e assistência técnica serão necessários para as concretizar. O conhecimento dos diferentes elementos e etapas da planificação permite aos técnicos de campo facilitar este processo.

A acção que vise favorecer uma melhor nutrição graças às hortas requer uma planificação cuidadosa

Todo o projecto ou programa no qual participe um certo número de famílias necessita de uma planificação minuciosa. Um dos meios mais eficazes de planear um programa de acção é seguir de maneira sistemática os diferentes elementos de elaboração de um projecto:

Planificar um projecto é como planear uma viagem. Antes de embarcar, é preciso decidir:

Graças a uma abordagem metódica é possível:

ELEMENTOS DE UM PROJECTO

Justificação. A justificação é o fundamento sobre o qual se baseia o plano. No caso do desenvolvimento das hortas, a falta de conhecimentos e de "saber-fazer" dos membros das famílias significa que uma certa forma de educação é importante. A justificação deve também mostrar claramente quem deve ser beneficiado com o plano. As mulheres são muitas vezes responsáveis pela exploração das hortas e pelo aprovisionamento alimentar das famílias. Assim, as mulheres e os maridos podem constituir o grupo-alvo directo e ser os beneficiários dos projectos de melhoramento das hortas, enquanto que as crianças serão os principais beneficiários indirectos, na medida em que beneficiarão de um melhor regime alimentar.

Objectivo geral. O objectivo geral é a finalidade última. Neste curso de formação, o objectivo geral é melhorar a produção alimentar e a nutrição graças a uma melhor utilização das hortas.

Objectivo específico. O objectivo é o que se espera obter como resultado das actividades do projecto (por exemplo, as famílias melhorarão a sua forma de cultivar em domínios precisos; produzirão alimentos mais abundantes e mais variados; terão um melhor regime alimentar). O objectivo específico deve ser formulado de forma a permitir medir os progressos alcançados (em termos quantitativos).

Estratégia. A estratégia é o procedimento geral a seguir para atingir um objectivo (por exemplo, os membros de uma comunidade decidem se realizarão os melhoramentos como um grupo ou isoladamente, por famílias, que serviços ou actividades organizarão em conjunto e quais as que farão individualmente, e como se vão ajudar mutuamente a transmitir tecnologias e a partilhar informação). A estratégia deve ter em conta todos os constrangimentos e as condições locais, nomeadamente a cultura e as tradições, assim como os constrangimentos ligados aos recursos e ao clima.

Resultados. Um resultado é uma realização concreta ou o produto das actividades do projecto (por exemplo, formação de 20 famílias na área da valorização do solo e da gestão da água, criação de uma horta-piloto, instalação de 20 infra-estruturas de recolha das águas). Se houver muitas actividades para atingir o mesmo objectivo específico, haverá muitos resultados para esse objectivo. Num plano pormenorizado, a descrição de um resultado deve incluir as quantidades envolvidas e a data em que o resultado será atingido.

Actividades. As actividades são as tarefas realizadas no decurso do projecto para produzir os resultados (por exemplo, formação, demonstração, selecção dos técnicos de campo, produção de documentos). Num plano pormenorizado, é importante que a descrição das actividades indique claramente quem é responsável por cada actividade.

Inputs. Os inputs são tudo aquilo que é necessário para tornar as actividades possíveis (por exemplo, mão-de-obra, equipamento, dinheiro). Num plano pormenorizado, os inputs devem ser quantificados (por exemplo, 30 blocos de notas, 2 viagens, 10 dias de trabalho por pessoa) e o seu custo calculado.

Calendário ou plano de trabalho. O calendário estabelece o tempo necessário para realizar cada uma das actividades do projecto e permite medir os progressos atingidos durante a execução. Pode ser preparado como um plano de trabalho pormenorizado que indica quem faz o quê, quando, durante quanto tempo e com que resultado.

Monitorização (acompanhamento). A monitorização ou acompanhamento é um elemento essencial de todo o projecto. Consiste em recolher informações específicas (por exemplo, os indicadores) de modo regular, para permitir aos membros do grupo avaliar os progressos que alcançaram na realização do seu objectivo. Também pode ser uma ferramenta de gestão importante. Ajuda a determinar se os objectivos são realistas, ou se precisam de ser revistos, e a identificar e antecipar os problemas, de modo a que os membros do grupo possam tomar medidas para os evitar ou resolver.

Avaliação. A avaliação é feita em último lugar, ou quando um projecto terminou. A avaliação permite observar se o projecto alcançou a finalidade e os objectivos definidos. É importante definir bem os objectivos para poder determinar em que medida eles foram atingidos.

Exemplo de um esquema de projecto. Os elementos de projecto descritos acima são ilustrados no esquema de projecto 1, que constitui um exemplo de esquema de projecto sobre formação em desenvolvimento das hortas. Trata-se apenas de um exemplo, e os técnicos de campo podem preparar outros, baseados nos resultados da visita de campo que se seguirá.

ESQUEMA DE PROJECTO 1

FORMAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO DAS HORTAS

JUSTIFICAÇÃO

As hortas podem ser muito melhoradas se encorajarmos a sua utilização com o objectivo de melhorar a segurança alimentar e a nutrição das famílias. Em meio rural, os habitantes das aldeias têm muitas vezes falta de experiência, de conhecimentos e de aptidões para empreender melhoramentos. Por vezes, falta também o material de plantação. Com a ajuda dos agentes de divulgação agrícola, os conhecimentos e as aptidões podem ser transmitidos por pessoas que exploram com êxito as suas hortas e que aceitam trabalhar com as famílias menos experientes e menos informadas. É possível minimizar a falta de material de plantação, criando, nas hortas individuais, viveiros, que podem ser geridos pelos seus proprietários numa base comercial. Um sucesso visível é mais persuasivo do que uma centena de conferências.

OBJECTIVO GERAL

O objectivo geral é melhorar a produção alimentar, o aprovisionamento e a utilização dos alimentos e, em última análise, o bem-estar nutricional da comunidade, graças a uma melhor utilização das hortas.

OBJECTIVO ESPECÍFICO

O objectivo específico é permitir a 200 famílias prepararem e porem em prática os seus próprios planos, tendo em vista uma maior disponibilidade de alimentos variados de bom valor nutritivo, ao longo de todo o ano, através de uma ou várias das seguintes acções (de acordo com as condições locais):

ESTRATÉGIA

Um agente de campo ajudará as famílias a analisar os principais problemas das suas hortas e a avaliar as possibilidades de que dispõem para fazer melhoramentos (por exemplo, terra disponível e mão de obra suficiente). O agente de campo ajudará também a identificar as famílias que tratam bem das suas hortas e que utilizam bons métodos.

Os horticultores (por exemplo o marido ou a mulher, ou ambos) serão convidados para uma série de sessões de formação, incluindo demonstrações de boas práticas de horticultura e de introdução de novas técnicas. Com a ajuda do agente de campo, estes horticultores desenvolverão, em seguida, planos de melhoramento das suas próprias hortas. Além disso, demonstrações práticas sobre processamento e preparação dos alimentos, ajudá-los-ão a compreender como utilizar da melhor forma os produtos da horta e aumentar o bem-estar nutricional das suas famílias.

RESULTADOS E FINS A ATINGIR

Nota: para cada um dos seguintes resultados e fins a atingir, deve ser definida uma data de realização. Os resultados esperados são os seguintes:

ACTIVIDADES

O técnico de campo

Quando se planificam as actividades, visando cada um dos resultados, o técnico de campo:

Membros da comunidade

Quando se planificam as actividades, visando cada resultado, os membros da comunidade:

Nos exemplos acima, as actividades são classificadas em função das pessoas ou grupos de pessoas que as deverão executar, a fim de mostrar claramente as diferentes responsabilidades de cada grupo. Normalmente, para cada resultado, deveria haver só uma lista de actividades, com a indicação da pessoa responsável por cada actividade e o tempo necessário para a sua realização. O plano de acção é preparado com base nestes dados.

INPUTS

São necessários os seguintes inputs:

CALENDÁRIO

Geralmente, o calendário indica a data de início de uma actividade e a sua duração:

Nota: Depois de listar os inputs, convém colocar a seguinte questão: de onde provêm estes inputs e qual será o seu custo? Tal informação é útil para identificar soluções baratas que podem ser imediatamente implementadas. As soluções caras (por exemplo, a construção de um poço) podem implicar uma acção colectiva da comunidade. Neste caso, o agente de campo deve ajudar a comunidade a preparar uma proposta de projecto, prevendo o respectivo orçamento, para a submeter a um fundo de desenvolvimento comunitário (gerido pelo governo ou por uma ONG), que concede ajudas para projectos comunitários. Tais ajudas fornecem fundos ou inputs (por exemplo, materiais, equipamento, assistência técnica) que têm de ser contrabalançados por uma contribuição em espécie por parte da comunidade, como por exemplo, mão-de-obra necessária para abrir um poço e materiais que a comunidade possa fornecer com os seus próprios recursos (por exemplo, areia para fazer tijolos e cimento).

QUADRO 9.1
Problemas alimentares e nutricionais, e respectivas soluções

Problema

Causas

Soluções

Indicadores

A produção de legumes e de frutos da horta é insuficiente para satisfazer as necessidades nutricionais da família

· A terra não é utilizada de forma adequada

· Solo pouco fértil

· Estragos provocados por pragas e doenças

· Praticar a cultura em diferentes níveis

· Melhorar a gestão do solo (utilização de composto e adubo verde)

· Preparar e utilizar pesticidas naturais

· Cultivar de forma intensiva as parcelas destinadas aos legumes

· Número de famílias que adoptaram com êxito a cultura em diferentes níveis

· Número de famílias que preparam e utilizam com sucesso o composto ou adubo verde

· Diversificação da produção (comparar a produção adicional dos legumes e frutos de cada família com a produção anterior)

A produção da horta só cobre as necessidades durante uma parte do ano

· Produção limitada à estação das chuvas

· As famílias não planificam para a estação de "penúria" porque desconhecem as suas necessidades alimentares

· Escassez de água durante a estação seca

· Práticas inadequadas de cultivo

· Melhorar a armazenagem dos alimentos e o processamento/ secagem dos frutos e dos legumes

· Promover a cultura em terras húmidas ou a construção de um poço

· Melhorar a gestão do solo e da água

· Número de famílias que melhoraram as suas instalações de armazenagem

· Número de pessoas que cultivam com êxito em terras húmidas

· Número de pessoas que utilizam com êxito métodos de conservação da água e de protecção do solo

· Número de famílias que armazenam alimentos para a estação de escassez alimentar

O regime alimentar dos membros da família é pouco variado

· Os legumes, raízes e leguminosas cultivados não são muito variados

· Falta de sementes e de material de plantio

· As famílias não sabem quais são as culturas necessárias para uma dieta equilibrada no plano nutricional

· Formar técnicos de campo em nutrição

· Promover viveiros comunitários

· Promover a conservação das sementes e a sua multiplicação

· Implementar um programa de educação nutricional para as famílias

· Número de técnicos de campo formados em aconselhamento nutricional

· Número de famílias que participaram em sessões de demonstração nutricional

· Número de viveiros comunitários implementados com êxito e tipos de materiais de plantação produzidos

· Número de famílias que compram materiais de plantação

· Número de famílias que guardam sementes

· Número de famílias que produzem com êxito sementes destinadas à reprodução

· Número de famílias que utilizam legumes de folhas verdes na alimentação quotidiana

ORÇAMENTO

Depois de estabelecida a lista dos inputs e do respectivo custo, a questão que se coloca é a seguinte: quais os materiais que podem ser adquiridos com os recursos da comunidade e quais os que requerem uma ajuda exterior? Tal informação é útil para preparar o orçamento.


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