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FICHA DE INFORMAÇÃO 1: DEFINIÇÃO E CONCEITO DE HORTA EM ÁFRICA


Uma horta define-se como um lugar onde se praticam culturas hortícolas. O termo horticultura vem do latim hortus, que significa jardim. A distinção entre culturas hortícolas e culturas de campo aberto nem sempre é muito clara, e mesmo os especialistas ainda não chegaram a acordo. Em geral, a horta utiliza a terra de uma forma muito mais intensiva do que a cultura de campo aberto, e os produtos da horta podem ser muito diversificados. Vários especialistas defendem que os frutos, os legumes, as especiarias e mesmo as plantas medicinais, deviam ser considerados como culturas hortícolas.

Em muitas áreas húmidas e sub-húmidas de África, a horta familiar (designada por vezes por quintal ou simplesmente por horta) faz parte da casa e representa um dos diferentes sistemas de cultura utilizados pela família rural. Neste caso, a horta constitui a parte central, com a casa no centro, de onde partem caminhos que conduzem a outros sistemas de cultura e unidades de produção consagrados às culturas anuais para vender ou para o consumo familiar.

Em lugares onde a terra é rara, por exemplo nas zonas urbanas e periurbanas, a horta familiar é muitas vezes a única parcela cultivada. Nas regiões semi-áridas, onde a falta de água é um obstáculo, as culturas hortícolas podem ser associadas às culturas de base dos campos da família. A cultura de legumes é geralmente praticada nas terras baixas e húmidas durante a estação seca. A importância destas actividades depende grandemente da água disponível. Por vezes, as hortas localizam-se longe da aldeia devido à concentração das populações.

Em África, como noutras regiões do mundo, as leguminosas, as raízes e os tubérculos, e mesmo algumas oleaginosas, são muitas vezes cultivadas na horta. De facto, algumas destas culturas, nomeadamente as raízes e os tubérculos, desempenham um papel essencial como culturas alimentares. Por vezes também se encontram nas hortas, embora em quantidade reduzida, certas árvores ou arbustos, como o cafézeiro, o cacaueiro, o coqueiro, a palmeira dendém, a tamareira e outros.

Uma horta tradicional africana contém uma mistura de culturas vivazes e de culturas anuais bem adaptadas às condições ecológicas. As culturas são muitas vezes consociação, e as características desta consociação variam de região para região. A consociação de culturas numa horta familiar é, muitas vezes, resultado de uma selecção intencional de plantas e de árvores variadas, que ocupam diferentes níveis da horta. A horta oferece à família, ao mesmo tempo, culturas alimentares e culturas comerciais. A cultura associada de árvores e de plantas permite prolongar o período de colheita e de ter assim certos alimentos em permanência. Uma vez plantadas, certas espécies de árvores não exigem senão um pouco de trabalho e materiais de manutenção mínimos, e podem assegurar um aprovisionamento alimentar contínuo sem que seja necessário replantá-las. A criação de animais praticada em pequena escala (nomeadamente ovelhas, cabras, aves de criação e por vezes mesmo bovinos e porcos) pode fornecer alimentos, receitas e estrume.

A diversidade biológica e a complexidade das hortas diminui à medida que se passa das regiões húmidas para as regiões semi-áridas e áridas dos países sahelianos (onde a pluviometria anual é inferior a 500 mm). Nas regiões secas, a falta de água é um dos principais obstáculos a uma horticultura bem sucedida; contudo, graças a uma boa gestão do solo e da água, pode conseguir-se que as culturas se desenvolvam mesmo nessas regiões.

Como as hortas nem sempre podem ficar situadas no perímetro da casa, é essencial considerar toda a terra potencialmente disponível - quer se situe em torno da casa ou em zona mais afastada - quando se avalia a capacidade de produção e o potencial da horta, particularmente nas zonas semi-áridas.

A família africana é, muitas vezes, uma família alargada, por vezes com várias unidades familiares compostas de parentes próximos (o marido, a mulher, os filhos casados e as suas mulheres e crianças, ou um marido com várias mulheres e filhos) que vivem sob o mesmo tecto ou na mesma povoação* . O termo povoação tem diferentes significados conforme as regiões de África. Nesta publicação, refere-se a uma unidade familiar (muitas vezes uma família alargada) que vive numa parcela de terra delimitada; os membros da família cultivam em conjunto essa parcela, assim como preparam e consomem em conjunto os produtos.

* Ver outros nomes vulgares no Anexo 1, página 278.

Muitas vezes, a horta serve também de jardim de recreio, o que constitui uma mais-valia suplementar para a família e a vizinhança. As árvores da horta dão sombra, debaixo da qual as pessoas podem encontrar-se ou empreender diferentes actividades domésticas ou geradoras de rendimentos. Além disso, uma horta completa pode fornecer lenha, especiarias e plantas medicinais ou ornamentais.

A povoação compreende um espaço habitacional e espaços agro-domésticos destinados aos animais, à armazenagem das colheitas, das ferramentas e dos materiais e factores de produção agrícola, tendo ainda instalações para conservar e transformar os alimentos.

Praticar um grande número de culturas diferentes num espaço reduzido permite utilizar métodos de produção intensiva e utilizar mais eficazmente recursos escassos, particularmente a água. As hortas permitem igualmente praticar agricultura biológica (por exemplo, utilizando estrume verde, composto e pesticidas naturais), o que reduz o custo de produção dos alimentos. Assim, as hortas podem ser desenvolvidas com recursos económicos muito limitados, se a água não faltar totalmente.

Quando a cultura associada e a cultura em diferentes níveis são praticadas na horta, isso permite diversificar as culturas e variar o aprovisionamento alimentar. As plantas vivazes podem fornecer folhas e frutos comestíveis durante os períodos secos, quando as culturas anuais não podem ser praticadas. Assim, uma horta africana bem gerida, associada a uma parcela de terreno onde é praticada a maior parte das culturas alimentares, assegura um aprovisionamento contínuo de legumes, frutos e outros produtos que fornecem ao regime alimentar familiar boas quantidades de energia, de proteínas, de vitaminas A e C e de ferro.

FIGURA 1
Praticar diferentes culturas numa área reduzida

Em condições de baixas temperaturas, tais como as dos planaltos remotos da Etiópia ou do Lesoto, a cultura de frutos e legumes representa um desafio bem diferente. Nestas regiões, os esforços para prolongar a produção de legumes de folhas durante o Inverno, por exemplo, devem basear-se na selecção de cultivares resistentes ao frio, do género Brassica, tais como a couve ou a mostarda.


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