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FICHA DE INFORMAÇÃO 11: MANEIO DA CULTURA


Existem numerosos métodos de cultivo adequados para as hortas. Em cada método, o horticultor deve controlar as diferentes partes do sistema (solo, água, ervas daninhas e culturas), para que cada cultura da horta dê, e continue a dar, um rendimento tão elevado quanto possível. Isto significa que o horticultor deve ter em consideração a produção futura da horta. As Fichas de Informação 6, 9 e 10 descrevem alguns problemas que se encontram com frequência na horticultura e os meios de os evitar. A presente ficha de informação analisa os principais factores a considerar quando se escolhe o sistema do cultivo da horta. Para mais pormenores, ler as rubricas tecnológicas de horticultura apropriadas ou os documentos de divulgação agrícola disponíveis localmente.

ASPECTOS IMPORTANTES DAS PRÁTICAS DE CULTIVO

O acompanhamento da cultura depende de uma boa gestão do solo e da água porque estes dois factores criam as condições ideais para o desenvolvimento das culturas. O acompanhamento da cultura começa pela preparação da terra, seguida da plantação ou da sementeira. Certas culturas, como a do feijão-nhemba, a da abóbora ou do milho, crescem bem se as sementes forem semeadas directamente na horta. Para outras, como as do tomate, a cebola e couves , é preferível semeá-las primeiro num viveiro e transplantá-las depois; enfim, culturas como a da batata-doce ou da mandioca são plantadas a partir de material vegetativo.

Antes de semear ou de transplantar as plantas jovens ou as podas, é preciso preparar a terra. O solo deve ser removido pelo menos numa profundidade de 20 cm. As ferramentas adequadas a esta operação existem na maior parte das comunidades rurais e são muitas vezes fabricadas pelo ferreiro local. As ferramentas aperfeiçoadas, que reduzem o trabalho graças à utilização da energia mecânica ou de outra forma de energia que não seja o trabalho manual, também existem, mas são muitas vezes inacessíveis à maioria dos horticultores familiares.

O solo é preparado em canteiros de cultura, sulcos, camalhões ou outras formas de preparação, segundo a pluviosidade, o tipo de solo e a respectiva capacidade de reter a água, assim como o tipo de cultura a praticar. Quando uma planta é transplantada de um viveiro para um outro lugar onde irá permanecer, é preciso perturbar o menos possível o seu sistema radicular. As plantas devem ser arrancadas com uma boa quantidade de terra agarrada; se a raízes estiverem a descoberto, é necessário envolvê-las com terra molhada (lama). O melhor momento para fazer a transplantação é o fim da tarde, de forma a evitar a luz directa do sol, que pode afectar as raízes. Podemos criar momentaneamente sombra para reduzir os estragos causados pelo sol, em particular nos climas muito quentes. É preciso regar sempre depois da sementeira ou da transplantação.

Uma vez semeadas ou transplantadas, as plantas precisam de cuidados. Algumas delas devem ser amparadas com tutores. É preciso mondar as ervas daninhas, tendo o cuidado de não afectar as raízes ou outras partes da planta durante a monda. O solo deve ser trabalhado e a sua estrutura mantida aberta, para que o ar e a água possam penetrá-lo. As plantas indesejáveis devem ser retiradas ao mesmo tempo que as ervas daninhas. É necessário enriquecer o solo com elementos fertilizantes e lutar contra os inimigos das culturas. Enfim, é necessário observar cuidadosamente o desenvolvimento da planta e acompanhar os seus progressos.

A maturidade da planta varia em função da parte a utilizar. As folhas verdes e os rebentos são colhidos quando ainda são tenros, enquanto os frutos e as sementes precisam de estar inteiramente desenvolvidos. Como as culturas não amadurecem sempre de modo uniforme, podem ser necessárias várias colheitas consecutivas. Certas plantas não dão novas flores ou novos frutos se os frutos maduros não forem colhidos. Isto deve-se à presença de inibidores de crescimento, típicos de certas plantas, como o pimenteiro e o abacateiro.

Embora muito importante, a manutenção pós-colheita é muitas vezes a etapa mais negligenciada na gestão da colheita. Más manipulações depois da colheita conduzem a perdas, que poderiam muitas vezes ser diminuídas ou evitadas. Quando os produtos estão maduros, devem ser consumidos, transformados ou vendidos. Depois de serem colhidos, um certo número de produtos da horta precisam de ser tratados, por exemplo proceder a uma secagem. Esta reduz as perdas durante a armazenagem. Os produtos que devem ser secos são essencialmente as raízes, os tubérculos e os bolbos (por exemplo, cebola, batata-doce, batata, mandioca, matabala e inhame). Algumas famílias podem também secar as abóboras.

Os membros da família devem colher os produtos com cuidado para evitar que se danifiquem. Para secar os produtos colhidos, é necessário espalhá-los sobre uma superfície seca e plana, num ambiente quente (de 30º a 32º C) e húmido (de 80 a 90 % de humidade), e deixá-los secar entre 4 a 7 dias. A protecção exterior do bolbo ou do tubérculo seca ou endurece, e os cortes ou golpes cicatrizam. Embora o processo de secagem ao sol seja muito rápido, é melhor proteger os tubérculos cobrindo-os com folhas grandes. As cebolas ou a mandioca secas devem ser armazenadas num lugar fresco, seco e bem ventilado. É aconselhável verificar regularmente as condições de armazenagem dos produtos e retirar imediatamente todos os que apresentem sinais de deterioração (ver igualmente a Rubrica Tecnológica de Horticultura 18, «Transformação, conservação e armazenagem»).

PARA CULTIVAR A TERRA SÃO NECESSÁRIOS CONHECIMENTOS E EXPERIÊNCIA

Explorar bem uma horta não é uma tarefa simples. As plantas, os animais e os insectos comportam-se de formas diferentes segundo as estações do ano e causam por vezes problemas quando o horticultor menos espera. Este deve conhecer bem o clima e as condições do meio para desenvolver com sucesso a sua horta. Uma pessoa que nunca explorou uma horta ou um campo agrícola deve atribuir grande prioridade à sua formação.

A primeira qualidade exigida é a observação. O horticultor deve circular cada dia pela sua horta, examinando as plantas e os insectos que ali se encontram. As mudanças no crescimento das plantas, tais como o aparecimento de novos rebentos, de flores ou de frutos, exigem muitas vezes que o horticultor proteja as plantas contra pragas, ervas daninhas, ou o excesso de sol ou de chuva. O horticultor aprende, pela observação e a experiência, o que se passa na planta durante o seu crescimento e em que momento essas mudanças se produzem. Um dos melhores meios de aprender é o de observar como os horticultores experientes trabalham e desenvolvem as suas hortas.

A segunda qualidade necessária é a planificação, com a ajuda dos conhecimentos adquiridos através da observação das plantas na horta. Todas as plantas alimentares precisam de tempo para crescer e desenvolver-se antes de estarem prontas para a colheita. Graças à observação e à experiência, um bom horticultor sabe qual é a duração do crescimento de uma planta e quando é que uma planta ou um fruto estão prestes a ser colhidos. Pode então planear com antecedência o que deverá fazer depois da colheita e determinar quais serão os tipos de culturas a praticar em seguida. Deste modo, o horticultor assegura-se de que a terra e os recursos da família são sempre utilizados para produzir géneros alimentares.

Alguns métodos de exploração agrícola ou sistemas de cultura são mais fáceis de utilizar do que outros. Alguns sistemas de cultura são mais populares para grupos com certas tradições culturais do que para outros. Enfim, certos sistemas de cultura convêm mais do que outros a um tipo particular de clima ou de situação. A título de exemplo, as microcaldeiras deveriam ser utilizadas para a plantação de árvores nas regiões secas (ver a Ficha de Informação 9, "Gestão da água"). Informações detalhadas sobre métodos de cultura adequados à horticultura são dadas nas Rubricas Tecnológicas de Horticultura 12, "Cultura múltipla", 13, "Cultura em diferentes níveis", e 15, "Parcelas de cultura intensiva de legumes".


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