PRAGAS E DOENÇAS
Um bom horticultor sabe como lidar com pragas e doenças da horta; sabe reconhecê-las e, mais importante, sabe identificar que tipo de insecto ou de doença está a provocar um determinado problema. Eis alguns pontos simples que não deve esquecer:
As pragas e doenças são organismos vivos (insectos, fungos e bactérias). Geralmente não conseguem sobreviver durante muito tempo se não tiverem um lugar para se alojarem, como por exemplo plantas ou partes mortas de plantas.
Os insectos podem ver-se às vezes nas plantas ou no solo. Atacam as plantas roendo as raízes, as folhas e os frutos, ou sugando a seiva das folhas, dos troncos ou dos frutos. Contudo, nem todos os insectos são nocivos. As abelhas, por exemplo, desempenham um papel importante na polinização das flores, permitindo às plantas dar frutos e sementes. Do mesmo modo, os insectos ou as aranhas que se alimentam de pequenas pragas são benéficos e devem ser protegidos.
Os fungos são organismos muito pequenos, mas que atacam todas as partes da planta. Sinais de fungos podem manifestar-se de diferentes formas: pó por baixo das folhas; manchas da planta apodrecidas; pontos negros nos caules, folhas e frutos; emurchecimento das plantas devido ao apodrecimento das raízes. Os fungos podem multiplicar-se quando a água da chuva salpica lama sobre a plantas, ou podem ser transportados pelo vento de uma planta para outra.
As bactérias e os vírus só são visíveis através do microscópio. Podem causar apodrecimento das raízes e dos caules da planta, seiva gotejante, alteração ou deformação das folhas e formação de pontos negros. As bactérias e os vírus propagam-se por intermédio dos insectos, da água, do solo, das plantas infectadas e de materiais vegetais, tais como sementes e tubérculos.
AS BOAS PRÁTICAS DE CULTIVO
Existem métodos simples, mas importantes para ajudar a manter as plantas em bom estado e a produzir.
Instale as suas culturas em locais onde as condições de solo, de água e de luz lhes sejam favoráveis. A planta da papaia precisa de luz solar intensa, mas a do café deve ter sombra. A matabala gosta de solo húmido, enquanto à papaieira pode apodrecer-lhe a raiz em solo húmido e morrer. É importante seleccionar a planta correcta para o lugar certo na horta.
Alimente as suas plantas e elas alimentá-lo-ão a si. Folhas amarelas, fraco crescimento e frutos pequenos são muitas vezes resultado de falta de água ou nutrientes no solo. Desde que uma planta esteja a ser cultivada no local certo e que nenhum parasita ou fungo seja observado por baixo das suas folhas, a utilização de adubo ou de estrume permite melhorar o crescimento da planta.
Minimize a concorrência. Plante as culturas com espaço suficiente para cada planta crescer até ao seu tamanho total. As ervas daninhas às vezes crescem mais rapidamente do que as culturas e esgotam os nutrientes do solo necessários ao crescimento. Elas devem ser retiradas antes de plantar ou de semear uma cultura. A protecção com folhagem seca entre as plantas pode impedir as ervas daninhas de enraizar até a cultura estar bem estabelecida e cobrir o solo.
QUADRO 1
Inimigos das culturas e doenças frequentes nas hortas em África
Praga/doenca |
Planta atacada |
Sintomas |
Medidas a tomar |
Apodrecimento das raízes |
· Papaieira e muitas outras |
· Enfraquecimento |
· Plantar num solo bem drenado |
As plantas murcham devido às bactéria |
· Tomateiro e muitas outras |
· Folhas murchas e amarelas |
· Plantar só sementes sãs |
Vírus do mosaico |
· Papaieira |
· Folhas amarelas e atrofiadas |
· Destruir as plantas afectadas |
Pulgões e cochonilhas |
· Citrinos e muitas outras árvores |
· Definhamento |
· Retirar à mão os insectos
que se encontrem sobre as folhas da planta |
Larvas (Heliothis sp.) |
· Milho e diversos legumes |
· Frutos esburacados |
· Retirar e matar as lagartas |
Nematodes |
· Diversas plantas de legumes e árvores de fruto |
· Raízes destruídas |
· Praticar a rotação de culturas |
Proteja as plantas dos ventos fortes, dos ventos secos sazonais e dos ventos salgados do mar. O vento pode retardar o crescimento das plantas e estragar as folhas e as flores. Para as suas sebes vivas utilize árvores polivalentes (ver também a Rubrica Tecnológica de Horticultura 11, "Sebes vivas").
Evite praticar uma só cultura sobre uma grande superfície (monocultura). As culturas intercalares permitem aumentar o número de culturas no mesmo espaço e impedir a multiplicação de doenças. De facto, se uma planta desenvolver uma doença, esta pode espalhar-se rapidamente a toda a cultura, a não ser que haja outra cultura que funcione como obstáculo.
Use latadas. Para evitar que os fungos ataquem as plantas rasteiras, como por exemplo a abóbora, arme-as em latada. Para mais pormenores ver a Rubrica Tecnológica de Horticultura 13, "A cultura em níveis diferentes". Se o solo for muito húmido ou muito argiloso, cultive as plantas acima do solo, em cestos ou em recipientes cheios com uma boa terra misturada com composto.
MÉTODOS PREVENTIVOS
A maneira mais segura de evitar pragas e doenças é praticar uma boa higiene da horta. Retire e queime as plantas doentes antes que a doença se propague. Retire e queime ou faça a compostagem dos ramos mortos, dos frutos caídos e das ervas daninhas altas e densas que podem alojar insectos nocivos e doenças. Certifique-se que o monte de composto se encontra longe da plantação de legumes. Não volte a plantar a mesma cultura no mesmo lugar; pelo contrário, plante outro tipo de culturas nesse local. Para mais pormenores ver a Rubrica Tecnológica de Horticultura 12, "Cultura múltipla", e 15 "Parcelas de cultura intensiva de legumes".
PESTICIDAS E REPELENTES NATURAIS
No âmbito doméstico existem diversas formas de afastar os insectos. Pode, por exemplo, espalhar-se cinza sobre insectos sugantes, tais como os pulgões que se encontram na parte inferior das folhas, ou espalhar a cinza junto das plantas para afastar certos insectos rastejantes. A água com sabão deitada ou pulverizada sobre os insectos sugantes pode também ser eficaz. As folhas de chá ou borra de café misturadas com água e espalhadas sobre as plantas também actuam como repelentes de insectos. As lesmas e outros nocivos pode ser apanhados com garrafas semi-enterradas contendo um pouco de cerveja.
O odor de plantas tais como a calêndula, a lantana, o alho, a malagueta, a erva-príncipe (chá-príncipe ou chá do Gabão) ou o manjerico actuam igualmente como repelentes de insectos. Os agricultores plantam-nas em associação com as culturas alimentares porque, nalguns casos, o seu cheiro funciona como repelente, e noutros (por exemplo da calêndula e do manjerico) atrai os insectos, evitando assim que ataquem as plantas alimentares. O alho actua pela raiz, que liberta no solo uma substância química fungicida, ajudando assim a luta contra as doenças transmissíveis através do solo. A urina de vaca ou de cabra, diluída e espalhada sobre as culturas, não só repele muitos insectos, como evita também que os animais comam essas culturas.
Por vezes, os agricultores sabem como preparar pesticidas naturais, misturando extractos de certas plantas, sementes ou frutos, com água e pulverizando esta solução sobre as culturas. Em geral, um horticultor deve procurar encontrar soluções eficazes e de fácil preparação. Contudo, é preciso não esquecer que alguns pesticidas naturais são tóxicos
para os animais e para as pessoas. É necessário respeitar as mesmas regras de segurança usadas para os pesticidas químicos.
O Quadro 2 mostra uma lista de algumas plantas insecticidas que se podem encontrar em diferentes regiões de África, e que são usadas pelos horticultores.
QUADRO 2
Exemplos de plantas pesticidas de origem vegetal
Espécie vegetal |
Exigências |
Alho |
Solos leves, clima subtropical |
Annona |
Mais de 90 espécies, cresce em áreas tropicais |
Manjerico |
Mundo inteiro |
Cassia |
Zonas tropicais |
Crotalaria |
Zonas subtropicais, solo leve |
Curcuma |
Zonas subtropicais, solo leve |
Derris elliptica |
Floresta tropical húmida de fraca altitude, crescimento rápido com uma boa insolação |
Tremoço |
Regiões montanhosas |
Bombolo (Angola) |
Zonas tropicais e subtropicais |
Moringa |
Resistente à seca |
Neem |
Crescimento rápido, zonas semi-áridas, tolerância a solos pobres |
Pimento |
Clima tropical e subtropical, reduzida necessidade de água |
Piretro |
Zonas subtropicais altas |
Tabaco |
Clima temperado a subtropical |
Os parágrafos que se seguem indicam como preparar alguns pesticidas naturais. Pode ser que haja muitos mais usados pelas comunidades locais. O agente local de divulgação agrícola ou um vizinho podem sugerir outros pesticidas naturais conhecidos na região pela sua eficácia.
Malaguetas misturadas com alho ou restos de cebolas
Para lutar contra os pulgões triture bem um punhado de malaguetas secas (cerca de 10 gramas), com um pouco de alho ou de cebola. Misture num litro de água e deixe de molho durante a noite. Depois filtre o concentrado através de um bocado de pano e dilua em 4 a 5 litros de água. Pincele ou salpique as plantas afectadas. Se a mistura estiver demasiadamente concentrada corre-se o risco de queimar as folhas das plantas. Por isso, é preferível usar uma concentração fraca e repetir o tratamento. Não aplique esta mistura quando houver muito sol e evite o contacto com a pele ou os olhos, porque é muito irritante.
Neem e lilás persa
As sementes em pó do neem (ou azedinha) ou do lilás persa são muito eficazes na luta contra as pragas que são uma ameaça durante a armazenagem dos alimentos. O pó obtém-se a partir de sementes secas, esmagadas ou moídas. A proporção a utilizar é de 1 parte de pó para 50 partes de víveres armazenados.
Para preparar o pó, triture as sementes num almofariz ou com um pilão para retirar a casca exterior. Depois esmague as sementes já descascadas num almofariz até que se forme uma massa castanha, ligeiramente pegajosa. Junte um pouco de água para fazer uma pasta. Amasse e esprema a pasta para sair o óleo.
Obtém-se cerca de uma chávena de óleo com 1 kg de sementes espremidas à mão, ou seja cerca de metade da quantidade que pode ser extraída usando uma prensa mecânica. Depois da prensagem manual, a massa que fica como resíduo mantém as propriedades insecticidas e pode ser aplicada em plantas em crescimento para controlar algumas pragas que vivem no solo, especialmente nematodes.
O piretro
O piretro é original da Europa do Sul, mas nos nosso dias medra bem nas terras altas subtropicais. O seu princípio activo concentra-se nas flores, que se moem finamente depois de secas. O pó obtido é espalhado directamente sobre as plantas ou misturado com querosene e depois pulverizado ou salpicado (o que pode ser feito com a ajuda de uma escova, barbas de milho ou um tufo de erva). Como o piretro é sensível à luz solar, a sua eficácia diminui rapidamente se aplicado quando o sol é muito forte, devendo portanto aplicar-se ao fim da tarde. Em caso de forte infestação é necessário repetir a aplicação e renovar o tratamento.
REDUZIR O RISCO DE INTOXICAÇÃO NA UTILIZAÇÃO DE PESTICIDAS QUÍMICOS
O uso de pesticidas químicos é o método mais eficiente de combate a pragas e doenças das plantas. Existe uma vasta gama de pesticidas à escolha, mas são caros e podem ser ineficazes e perigosos se usados incorrectamente. Leia sempre o rótulo das embalagens de pesticidas com atenção e respeite as regras que se seguem para a sua utilização eficaz sem perigo.
Identifique os fins a atingir. Muitos pesticidas só são eficazes contra pragas e doenças muito específicas. Antes de seleccionar um pesticida, identifique a praga ou doença causadora do problema.
Proteja-se. Quando se manipulam os pesticidas - sobretudo quando se faz a mistura ou a vaporização - é preciso evitar qualquer contacto do produto químico com a pele. Se isso acontecer, lave imediatamente a parte do corpo tocada pelo produto químico. Deve-se usar luvas ou sacos de plástico para proteger as mãos e utilizar uma máscara respiratória ou uma máscara de pano para filtrar o ar. É também aconselhado vestir uma camisa ou um casaco de mangas compridas e pôr um chapéu. Os pesticidas podem ser facilmente absorvidos pela pele. Tenha também cuidado ao lavar à mão as roupas utilizadas durante a pulverização, visto que os pesticidas podem ser absorvidos durante a lavagem.
Prepare a mistura correctamente. Siga as instruções indicadas no rótulo para misturar o químico na concentração certa. Não aumente nem diminua a quantidade indicada, pois corre o risco de reduzir a eficácia do produto. Se repetir as aplicações, faça-o de acordo com a frequência indicada no rótulo.
Respeite o período de quarentena. Depois da aplicação de qualquer pesticida sobre uma cultura, deve passar um certo tempo antes da colheita, do consumo ou da venda no mercado. Este tempo é designado por período de quarentena. Para alguns pesticidas trata-se apenas de um dia, mas para outros prolonga-se até duas semanas. Se um produto for consumido durante o período de quarentena, pode provocar uma intoxicação. Não utilize pesticidas se as crianças ou os animais não puderem ser mantidos à distância das culturas.
Armazene os pesticidas num lugar seguro. Mantenha os pesticidas num local fechado à chave, onde as crianças não possam entrar, para evitar qualquer envenenamento por acidente. Se deitar fora o resto de um pesticida que ficou no recipiente depois da pulverização, faça-o longe dos cursos de água e das lagoas para evitar a poluição da água e o envenenamento dos peixes.
Em caso de dúvida. Nunca utilize um pesticida se não estiver seguro da maneira correcta de o fazer.