Globally Important Agricultural Heritage Systems (GIAHS)

Sistema Agro-silvo-pastoril do Barroso, Portugal

SIPAM desde 2018

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Localização do sítio SIPAM: A região do Barroso está localizada no Norte de Portugal; o sítio SIPAM abrange 2 municípios - Boticas e Montalegre.

Área do SIPAM: 1.127,40 km2

População que trabalha para este sistema: População residente (2013): 15.589 habitantes

Características Topológicas: Área Montanhosa

Principais fontes de rendimento: agricultura, pecuária e processamento de alimentos, silvicultura e pastagem e atividades turísticas.

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Importância Global

O Barroso é uma região agrícola dominada pela produção animal (principalmente bovinos) e culturas típicas das regiões montanhosas (principalmente batata e centeio). Com ocupação humana ao longo de milhares de anos, esta zona do Norte de Portugal apresenta hoje um padrão de ocupação do solo marcado pela atividade humana para a agricultura, silvicultura e pastagem, encontrando-se ainda uma série de áreas ambientais muito significativas e relativamente intactas.

Nesta região, existem inúmeras espécies vegetais e animais que são extremamente importantes para a conservação da natureza, incluindo Espécies Prioritárias ao abrigo das Diretivas da Comissão Europeia sobre Aves e Habitats.

Segurança alimentar e subsistência

A produção animal é a base da economia agrária da região e é dominada pela criação extensiva de gado para carne. Verifica-se que a produção das explorações agrícolas na maioria das freguesias do Barroso é predominantemente orientada para a produção extensiva de gado de corte, assumindo outros ruminantes uma produção normalmente menor (com excepção de algumas freguesias do leste, onde estes últimos dominam). Uma das características diferenciadoras do sítio SIPAM é a prevalência ainda forte de um sistema alimentar local, baseado em produtos e pratos locais, que são feitos com carnes defumadas de produção local, pão, batata, repolho e leguminosas.

A manutenção desta paisagem tem sido assegurada principalmente pela pastagem extensiva (a que estão associadas práticas como o corte de mato para canteiros, fogueiras para renovação de pastagens arbustivas e corte de lenha para aquecimento das habitações), e pela manutenção de pântanos, dada a sua importância na economia pecuária. Além disso, as atividades apícolas fazem parte do sistema.

Agrobiodiversidade

A biodiversidade do sistema agrícola no Barroso está patente na variedade de raças autóctones. As raças mais notáveis incluem as raças Barrosã e Maronesa (gado de corte), a raça Churra do Minho (ovinos), as raças Cabra Serrana e Cabra Bravia (cabras), a raça Bísara (porcos) e a raça Garrana (cavalos). Esses genótipos locais constituem um património cultural e biológico e uma garantia de uso produtivo sustentável das áreas e recursos marginais. Além disso, a batata é cultivada nas montanhas e vales, utilizando tradicionalmente uma série de cultivares entre as quais a "Batata de Trás-os-Montes”, reconhecida como Indicação Geográfica Protegida.

A ocupação humana marcou de forma indelével o território do Barroso e contribuiu para a manutenção dos habitats em diferentes níveis de sucessão ecológica, criando um complexo de diversas formações vegetais ricas em peculiaridades da flora. O papel dos rebanhos domésticos na manutenção dos ecossistemas é significativo, uma vez que o pastoreio agreste por ovinos e caprinos contribui diretamente para o controlo da vegetação arbustiva e herbácea, reduzindo o risco de incêndio, uma das principais ameaças à produção agro-florestal e à biodiversidade regional.

Sistema de conhecimentos tradicionais

Os cultivos são principalmente de sequeiro, sendo os mais importantes o centeio e a batata, que são cultivados em sistema de rotação. Mais perto das aldeias e das suas casas, mantém-se um cinturão de culturas irrigadas, seguido de pastagens permanentes para a produção de feno e pastagem de gado. Mais afastados, estão os campos de cereais e terras geralmente comunitárias (baldios) onde pastam vários tipos de animais (vacas, ovelhas e cabras).

Um dos usos e formas de gestão da terra é o comunitarismo (baldios). O baldio é um tipo de propriedade coletiva, gerida pelas comunidades locais, o que é muito típico das regiões montanhosas portuguesas. Esta prática de pastagem de gado de forma partilhada, em que participam os vários donos de animais, baseia-se num conjunto de regras, que variam consoante a aldeia. Na vezeira (pastagem de gado partilhado), o gado é mantido nos terrenos comuns em rotação, sendo o número de dias de cada pastor calculado de acordo com o número de cabeças de gado que possui.

Além disso, um importante sistema de irrigação por gravidade foi desenvolvido nas colinas. A água concentrada nos cursos de água é desviada por meio de um pequeno açude ou represa para pequenos canais ao longo da encosta, respeitando grosso modo os contornos, de onde escoam para as pastagens permanentes de inverno, terminando noutro barranco localizado em altura inferior e retornando a água não infiltrada para o curso de água do qual foi originalmente captada.

No inverno, este processo permite controlar os efeitos do gelo na pastagem, já que a temperatura da água corrente está sempre acima de zero. Por meio dessa regulação térmica, é fomentado o desenvolvimento da vegetação, num momento em que esse crescimento teria sido bastante limitado pela baixa temperatura da atmosfera.

Culturas, sistemas de valores e organizações sociais

Do ponto de vista cultural, o povo do Barroso tem desenvolvido e mantido formas de organização social, práticas e rituais que o diferencia da maior parte das populações do país em termos de hábitos, linguagem e valores, face às condições enfrentadas, como o isolamento geográfico e os recursos naturais limitados que o levaram a desenvolver métodos de exploração e uso consistentes com a sua sustentabilidade.

O comunitarismo é um dos valores e costumes mais típicos do Barroso, intimamente associado às práticas rurais de convivência coletiva e à sua necessidade de adaptação ao meio ambiente. É uma forma de organização rural, ilustrada pela Vezeira, onde a pastagem do gado é partilhada pela comunidade num determinado território.

Paisagem

Todo o sistema produtivo e pastoril desenvolve-se a partir da aldeia, dentro de um padrão de crescimento em espiral: mais perto das casas estão as hortas, para a produção de alimentos para o consumo diário, e os pântanos para a produção de feno e pastagem de gado; mais afastados, estão os campos aráveis para cereais de inverno e colheitas de batata; por último, nas periferias da aldeia, os terrenos de montanha, geralmente terras comunitárias (baldios), são ocupados por matagais, camas para gado de corte e pastagens mais pobres para pastagem rústica ou ao ar livre de certos rebanhos.

A paisagem montanhosa está historicamente relacionada com sistemas agrícolas tradicionais, fortemente baseados na criação de gado e na produção de cereais. Daí surgiu um mosaico paisagístico no qual se entrelaçam pastagens ancestrais (pântanos e terrenos baldios), zonas agrícolas (campos de centeio e batata e hortas), matagais e florestas, e onde os animais (principalmente gado) são um elemento-chave na fluxo de materiais entre as componentes do sistema. Atualmente, este mosaico representa um bem fundamental, também ao nível da capacidade de promoção do turismo, nomeadamente turismo rural e natural, que desempenha um papel cada vez mais importante nas atividades da região.