Programa de Cooperação Internacional Brasil-FAO

Manual reúne boas práticas para a recuperação da agricultura familiar diante de desastres e crise provocada pela seca

A publicação faz parte de um esforço conjunto da ABC/MRE, IFAD, FAO e Embrapa Semiárido.

Brasília, Brasil 19 de março de 2021 - Quase 200 pessoas participaram da oficina virtual de lançamento do “Manual de Boas Práticas da Agricultura Familiar no Semiárido do Brasil - Tecnologias Sociais para Captação, Gestão, Gestão e Uso da Água”, transmitido na quinta-feira, dia 18, por meio das plataformas Zoom e Twitter da FAOBrasilCoop. 

O lançamento foi promovido conjuntamente pela Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores (ABC/MRE), Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (FIDA) e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Semiárido). 

Na abertura do evento, Ronaldo Ferraz, coordenador do projeto regional América Latina e Caribe sem Fome, da Cooperação Internacional Brasil-FAO, apresentou a agenda da oficina, explicando que além do lançamento do manual, o objetivo do evento era “dar continuidade à troca de experiências entre o Brasil, os países do Corredor Seco e do Grande Chaco, FAO e FIDA sobre as diferentes tecnologias de enfrentamento à seca”. 

A publicação produzida pelo FIDA reúne uma série de experiências exitosas e boas práticas visitadas em novembro de 2019 por um grupo internacional, formado por representantes de países do Corredor Seco da América Central (Honduras, El Salvador e Guatemala), Argentina e Colômbia, à cidade de Petrolina, em Pernambuco, para o acesso, gestão e uso da água na agricultura familiar tais como: captação, uso, armazenamento, usos, gestão e experiência em cisternas. A missão fez parte das atividades desenvolvidas pelo projeto de cooperação trilateral Sul-Sul da Iniciativa América Latina e Caribe sem Fome 2025. 

O manual faz parte de um esforço conjunto e contínuo da ABC, FIDA, FAO e Embrapa Semiárido para fomentar o diálogo e a cooperação entre as regiões semiáridas da América Latina e do Caribe, a fim de melhorar a resiliência da população rural diante de desastres e crises causadas ​​pela seca e seus efeitos na segurança alimentar e nutricional. 

Parceiros destacam contribuições da publicação

Na inauguração, o especialista do ABC/MRE, Plínio Pereira, destacou que, no âmbito da cooperação brasileira, o desenvolvimento de capacidades e boas práticas entre países se consolida como uma ferramenta concreta de apoio a mudanças estruturais; e que as experiências e técnicas apresentadas no manual possam ser aperfeiçoadas e utilizadas, no futuro, não somente nos países do Corredor Seco da América Central, mas também por outros países da região. Ele destacou a parceria com a FAO e o FIDA como estratégica, além de agradecer à Embrapa Semiárido por ajudar no compartilhamento das boas práticas. “Estamos apoiando o trabalho de inúmeras famílias da região”, disse Plínio, destacando a contribuição do manual para o acesso, gestão e uso da água, elemento fundamental para a agricultura. 

O representante da FAO no Brasil, Rafael Zavala, ressaltou a importância da publicação para o fortalecimento da agricultura familiar na região da América Latina e Caribe, “uma vez que promove o conhecimento democrático e horizontal para esses agricultores que enfrentam dificuldades, principalmente no semiárido", disse. Segundo Zavala, estima-se que 60% das pessoas mais pobres do mundo sejam agricultores familiares, mas eles são responsáveis ​​pela produção de cerca de 50% de todas as calorias consumidas diariamente, pela gestão de sistemas produtivos diversificados e pela preservação de produtos alimentares tradicionais. “Esperamos que este manual seja uma ferramenta para fortalecer a cooperação entre os países e um incentivo para a continuidade da troca de experiências”, finalizou. 

O chefe da Embrapa Semiárido, Pedro Gama, destacou a troca de experiências promovida pelo Brasil, FAO e FIDA, durante missão à cidade de Petrolina, e que gerou a publicação deste manual: “essa troca permitiu acesso às tecnologias e inovações que contribuem para a mitigação das adversidades enfrentadas pelas populações rurais nessas áreas altamente vulneráveis, como as áreas semiáridas ao redor do mundo”. De acordo com Gama, os riscos hídricos e os fenômenos das mudanças climáticas são enormes desafios para todas as instituições, sejam elas de pesquisa ou de desenvolvimento. O chefe da Embrapa apontou a importância de ações acompanhadas por um conjunto de inovações técnicas, econômicas e sociais adaptadas às condições locais e que valorizem os recursos naturais produtivos nas suas diversas formas. 

Manual

O manual foi apresentado pelo consultor Claudio Lasa que sistematizou todas as experiências que foram visitadas ao longo de quase dez dias da missão técnica à Petrolina onde o grupo internacional participou do Semiárido Show, feira de inovação tecnológica voltada para a agricultura; de minicursos e palestras; e de visitas de campo para conhecer iniciativas socioeconômicas do Vale do São Francisco, como fruticultura, atividades de apoio à agricultura familiar e unidades de pesquisa e demonstração de tecnologia. Segundo o consultor, as boas práticas foram escolhidas para publicação segundo critérios como: forte processo de mobilização, fortalecimento e organização social; empoderamento e reconhecimento das lutas das mulheres; segurança hídrica, alimentar e nutricional; cuidado com o meio ambiente e gestão sustentável do bioma Caatinga; e valorização dos saberes tradicionais e governança territorial. 

No encerramento da oficina virtual, Luiz Carlos Beduschi, oficial de Política de Desenvolvimento Territorial do Escritório da FAO para a América Latina e Caribe, parabenizou a publicação do manual, destacando seus aportes para "além das fronteiras do Brasil" e sua importante contribuição para ações globais como a Década da Agricultura Familiar das Nações Unidas. Segundo o oficial da FAO, o sistema agrícola enfrenta limitações em termos de disponibilidade de água e as boas práticas apresentadas na publicação “são muito relevantes não só para os territórios onde elas são implementadas, mas também para todo o sistema alimentar”, afirmou. Beduschi apontou como exemplo brasileiro de sucesso a tecnologia social para a construção de cisterna, utilizada por uma rede de organizações, que se tornou política pública e que, hoje, está sendo implementada em vários países da região.