Programa de Cooperação Internacional Brasil-FAO

Peru, Brasil e Paraguai trocam experiências para melhorar a gestão socioambiental da água

Iniciativa de Cooperação Sul-Sul promove a aprendizagem mútua entre Minagri, Governo Regional de Ica e Programa Cultivando Água Boa, da hidroelétrica Itaipu Binacional Brasil-Paraguai.

Foto: FAO Perú

Ica, Peru, 19 de maio de 2017 – “Sierra Azul tem o potencial de ser muito mais que um programa de colheita de água. Pode converter-se em um programa socioambiental integral de manejo de bacias hidrográficas e desenvolvimento territorial para o Peru”, indicou Gustavo Ovelar, especialista paraguaio da hidroelétrica Itaipu Binacional, na fronteira entre o Brasil e o Paraguai.

Especialistas do Brasil, Paraguai, Peru e da FAO foram, na última semana, até a cabeceira da bacia Chavin-Toporá, a 70km da cidade de Chinca, no Peru, para conhecer as ações de colheita de água da Comunidade de Chitia Pata, com o apoio da Municipalidade Distrital de Chavin, o Governo Regional de Ica e de iniciativas privadas. 

A visita em campo é parte das ações de Cooperação Sul-Sul Trilateral promovidas pela FAO e o Governo do Brasil, por meio do projeto de fortalecimento do setor algodoeiro, para a troca de experiências entre a Direção Geral Agrícola do Ministério de Agricultura e Irrigação do Peru (Minagri), Programa “Sierra Azul”, Agrorural e o Programa Cultivando Água Boa, executado pela Itaipu Binacional na fronteira entre o Paraguai e o Brasil. 

O Assessor Nestor Mendonza Arroyo, Diretor Regional de Agricultura (DRA) de Ica, disse que o principal problema é o desequilíbrio hídrico, já que há uma abundância de água durante três meses e escassez o resto do ano, mas explicou que a “intervenção da DRA inclui o reflorestamento, que gera a cobertura vegetal para a captura, fixação e infiltração de água no solo (plantio de água) e, nas partes baixas, a construção de reservatórios para recolher e armazenar a água infiltrada (colheita de água). A intervenção demonstra que estas práticas são possíveis e é urgente que se encontrem mecanismos para fazê-las sustentáveis”, destacou o representante do Governo Regional.  

Neste sentido, o Programa Cultivando Água Boa da hidroelétrica Itaipu Binacional, compartilhou sua experiência na gestão da água e no manejo sustentável da bacia hidrográfica que abastece a represa de Itaipu, uma das maiores do mundo. O Programa recebeu, entre outros reconhecimentos, o prêmio das Nações Unidas como a melhor gestão de recursos hídricos do mundo em 2015.  

“O processo de intervenção sistemática deste Programa, que vai desde o planejamento, gestão, execução e avaliação, pode ser de muita utilidade no trabalho dos governos regionais e locais do Peru. Suas lições aprendidas e boas práticas podem ser insumos importantes para fortalecer nossa gestão pública nacional dos recursos hídricos, com enfoque de manejo de bacias, desenvolvimento territorial sustentável, inclusão social produtiva e mitigação das mudanças climáticas¨, afirmou Gonzalo Tejada, coordenador nacional da FAO para o projeto fortalecimento do setor algodoeiro por meio da Cooperação Sul-Sul. 

Kleber Vanolli, coordenador do Programa Cultivando Água Boa, da Itaipu Binacional, reconheceu que “cultivar água é algo bom, mas é necessário trabalhar com uma visão holística nas bacias. O aspecto da governança e a participação, assumida e compartilhada por todos os atores sociais da bacia hidrográfica, pode chegar a ser o principal fator de sucesso de um programa como o Sierra Azul e da intervenção do governo regional”. Além disso, destacou a importância do componente educativo e comunicacional na implementação de iniciativas deste tipo. “É preciso trabalhar com os atores mais jovens para sensibilizá-los sobre a importância do manejo integrado de bacias, para conquistar estas mudanças culturais e sociais necessárias para o cuidado racional e sustentável dos recursos naturais e de água especialmente”, concluiu o especialista. 

O programa da Itaipu

Cultivando Água Boa tem influência na área de 17 mil quilômetros quadrados, 63 municípios e 1,5 milhões de habitantes, e já conseguiu recuperar mais de 200 microbacias e reflorestá-las com mais de 43 milhões de árvores. Isto se reflete no incremento dos fluxos de água e da recuperação da biodiversidade, o que tem permitido avançar na produção orgânica de alguns alimentos, na diversidade produtiva, na agro industrialização e, em geral, no fortalecimento da agricultura familiar.    

“A estratégia de trabalho do Programa Cultivando Água Boa é uma experiência que merece ser conhecida com mais profundidade, já que tem conseguido que uma comunidade com interesses muito diferentes se comprometa com um propósito comum: proteger e conservar a água. Nosso desafio no país é fazer com que o recurso hídrico seja um elemento integrador ao invés de ser um fator de conflito”, disse Gonzalo Tejada, da FAO Peru. 

O desafio da água para os produtores de algodão de Ica

O Peru está desenvolvendo com grande esforço diversas iniciativas para reposicionar o país como um produtor competitivo de algodão, enfocando os produtos de melhor qualidade têxtil, estas ações são diretamente promovidas pelo Minagri. Devido ao plantio do algodão ser menos exigente em termos de consumo de água, este cultivo é uma boa alternativa de produção em épocas de escassez, deste tipo de recurso e no contexto de mudanças climáticas. 

Um melhor sistema de captação de água das chuvas, bons mecanismos de distribuição de águas bacias abaixo e sistemas eficientes de irrigação tecnológicos permitirão duplicar o rendimento do algodão na região de Ica (de 2.800 a 5.600 kg de algodão caroço por hectare). 

Desde 2015, a FAO, o governo do Brasil, representado pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC), o Ministério da Agricultura e Irrigação do Peru (Minagri) e os governos regionais peruanos, incluindo o de Ica, têm executado o projeto fortalecimento do setor algodoeiro por meio da Cooperação Sul-Sul, do Programa de Cooperação Internacional Brasil-FAO. O objetivo é melhorar a produtividade e a qualidade do cultivo do algodão para aumentar a renda de milhares de agricultores familiares que vivem deste cultivo na região. O projeto conta com o apoio financeiro do Instituto Brasileiro do Algodão (IBA). 

Neste sentido, promover a transferência de conhecimentos entre os especialistas do Cultivando Água Boa, do Governo Regional de Ica e do Minagri é essencial para melhorar a gestão de recursos hídricos e assegurar seu aproveitamento correto em qualquer atividade agrícola, incluindo o cultivo do algodão.