FAO in Mozambique

Agricultura sintrópica: FAO e IIAM formam produtores e extensionistas no modelo de produção agrária que visa mitigar efeitos das alterações climáticas

A FAO e o IIAM formaram cerca de 40 extensionistas na província de Tete
18/01/2019

18 de Janeiro de 2019, Tsangano (Tete)- Ntengo-Wa-Mbalame significa, em dialecto chewa, "árvore de passarinho". Antigamente, assim reza a lenda, quando esta localidade estava ainda coberta por árvores, muitas espécies de aves migratórias vinham aqui procriar.

Foi em Ntengo-Wa-Mbalame, Distrito de Tsangano, Província de Tete, que a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), em parceria com o Instituto de Investigação Agrária de Moçambique (IIAM), organizou durante os últimos quatro dias uma formação em agricultura sintrópica que, num sentido simbólico, teve precisamente esse objectivo: capacitar e sensibilizar cerca de 40 extensionistas e produtores facilitadores de Escolas na Machamba do Camponês (EMCs) de Tsangano, Angónia e Macanga quanto à importância da manutenção dos recursos naturais e recuperação de áreas degradadas para produção de alimentos nutritivos e de biomassa vegetal, usando sistemas agroflorestais sucessionais.

"Através do modelo de agricultura sintrópica, pretendemos combinar diferentes espécies para benefício mútuo", explica a especialista em solos e água da FAO, Laurinda Nobela: "na mesma fila plantamos espécies alimentares, espécies florestais com múltiplos usos – umas para recuperação da fertilidade do solo e redução da erosão, outras para providenciar lenha. Juntamos ainda espécies forrageiras para alimentação do gado e", assim continua Nobela, "outras com valor económico para facilitar a geração de rendimentos das famílias."

Agricultura sintrópica é precisamente isso: a integração de culturas alimentares na conservação natural das florestas e na produção de biomassa para a cobertura dos solos. O modelo visa estabelecer áreas altamente produtivas em zonas outrora degradadas, oferecendo serviços ecossistémicos como a formação de solo, a regulação do micro-clima e o favorecimento do ciclo hidrológico.

"Há uma necessidade de integrar este conhecimento na comunidade", diz Ivete Maluleque, do IIAM. "É importante que os produtores entendam quais as espécies que podem integrar e combinar nas suas machambas."

Segundo o supervisor de extensão do Serviço Distrital de Actividades Económicas (SDAE) de Tsangano, Joaquim António Mouzinho, trata-se de um "desafio em termos de aceitação: os produtores estão curiosos e vão acabar por ver que este modelo de agricultura vai trazer benefícios como a redução do uso de fertilizantes, pesticidas e outros químicos, que, por hábito, usam muito, por vezes mesmo sem respeitar o intervalo de segurança."

Usando espécies repelentes, poder-se-ão reduzir os produtos químicos, o que também em termos económicos atrai produtores, como o facilitador da EMC de Katambala, Frank Ezequiel Ancuangua, que se mostra entusiasmado com a formação: "ainda não sabíamos, por exemplo, que estrume também pode servir como adubo. Agora vamos poder poupar dinheiro e fazer o nosso próprio composto".

Centrando-se em processos e não em insumos, a agricultura sintrópica é um dos modelos usados para promover a reciclagem natural dos nutrientes do solo, sequestrando o carbono e mitigando, portanto, os efeitos das alterações climáticas. Tete, onde se têm vindo a observar fenómenos como erosão hídrica, surgimento de ravinas, aumento da temperatura e irregularidade do padrão pluviométrico, é uma das quatro províncias (além de Manica, Sofala e Gaza) em que, no âmbito do projecto "Fortalecimento das capacidades dos produtores agrários para gerir o impacto das mudanças climáticas no sentido de aumentar a segurança alimentar, através da abordagem da Escola na Machamba do Camponês", financiado pelo Fundo Global para o Ambiente (GEF), a FAO tem vindo a promover medidas de adaptação às alterações climáticas, introduzindo tecnologias sustentáveis de produção agrária, rumo ao objectivo de fome zero até 2030. "Com este projecto da FAO", diz Mouzinho, o supervisor de extensão de Tsangano, "esperamos um dia ter os pássaros de volta às árvores de Ntengo-Wa-Mbalame".