FAO in Mozambique

Lagarta do Funil do milho: Agricultores enfrentam nova praga e perdas comprometem segurança alimentar

Zacarias Chimene de Tica
25/07/2019

25 de Julho de 2019- Zacarias Chimene é um agricultor vanguardista que viu grande parte da sua produção de milho perdida, durante a campanha agrícola 2018/2019, na localidade de Tica, distrito de Nhamatanda, província de Sofala.

"Esta praga não perdoa", diz o agricultor que perdeu quase toda a produção de milho, tendo ficado desesperado e quase abandonava a actividade. A sua machamba, foi atingida por uma praga nova que ele não conhecia e que não conseguiu controlar. Devido aos danos, Chimene conta que chegou a exceder os limites do uso de pesticidas tendo aumentado a dosagem e a frequência de aplicação (em vez de esperar 15 dias segundo o intervalo de segurança do pesticida, passou a aplicar semanalmente) e optou igualmente pela mistura de 2 ou mais pesticidas para reduzir a população das lagartas que devastavam a cultura.

"De tanto aplicar acabei ficando muito doente, mesmo com a devida protecção individual aplicava o produto de forma excessiva e acabou me intoxicando" conta Chimene.

Em algum momento o agricultor ficou bastante desmoralizado com as perdas e pensou em desistir, mas ganhou forças para tentar mais uma vez.

No seu quintal, Chimene semeou uma pequena área para testar novas formas de combater a praga. Ele notou que aplicando os pesticidas no fim do dia ou de manhã, muito cedo, as lagartas morriam. Nesta época fresca, o produtor também notou que a incidência da praga é menor em relação a época quente. "Vejo que a praga está minimamente controlada, não está muito alarmante como no mês de Março" disse.

Para além do apoio que tem recebido dos extensionistas agrários do Ministério da Agricultura e Segurança Alimentar (MASA), Chimene faz parte da Escola na Machamba do Camponês (EMC) da FAO e tem um grupo de 30 produtores, com os quais semanalmente partilha as suas experiências obtidas nas formações da FAO sobre mudanças climáticas, multiplicação de sementes e controlo de pragas e doenças agrícolas.

O agricultor, com uma área total de cultivo de 8 ha onde semeia milho e hortícolas diversas adquiriu muita experiência através desta abordagem das EMC.

Para além do controlo da praga, Chimene integra várias acções que aprendeu nas EMC nos seus campos como por exemplo a agricultura de conservação, nivelação do solo, consorciação de culturas e a produção de fertilizantes e pesticidas biológicos.

Extensionistas de todo o país estão a ser formados em monitoria e maneio da praga

Para melhor assistir aos produtores como Chimene de Tica, a FAO está a formar extensionistas do Ministério da Agricultura e Segurança Alimentar (MASA) provenientes de todo o país na monitoria e maneio da praga, oficialmente reportada no país em 2017.

A formação enquadra-se no âmbito do projecto de Apoio à produção e produtividade dos pequenos produtores em Moçambique, assinado em Agosto do ano passado pela FAO e o MASA, uma iniciativa financiada pela USAID orçada em 5.6 milhões de dólares.

Até ao momento, incluindo o presente grupo, foram formados 170 extensionistas, num universo de 490 técnicos previstos no projecto, que poderão assistir 125 mil produtores em todo o país.

FAO aposta em tecnologias para o combate à praga

Os extensionistas também foram formados no uso de uma nova tecnologia, instalada em smartphones, denominada "Fall Armyworm Monitoring and Early Warning System (FAMEWS)", um sistema de aviso prévio que permite detectar e reportar o nível de infestação da LFM em tempo útil. Esses dados podem ser usados pelas autoridades nacionais de agricultura para a planificação, definição de prioridades e tomada de decisões para o maneio da lagarta.

A organização já distribuiu mais de 140 smartphones e tablets com o aplicativo FAMEWS instalado, para extensionistas agrários que prestam assistência técnica aos produtores em todo o país.

Para além destes aparelhos, a FAO distribuiu cerca de 500 armadilhas, 1500 feromonas e 80 caixas de vapona para a monitoria desta praga.

Em Moçambique, a maior prevalência da praga foi reportada nas províncias da Zambézia, Maputo, Manica e Gaza. A província de Sofala em particular foi severamente afectada pela lagarta na presente época fresca, tendo registado elevados níveis de infestação.

O especialista da FAO, Domingos Cugala, considera que "para o combate a praga, após estas formações, os técnicos terão a capacidade de melhor assistir os produtores, formar outros técnicos de extensão e produtores em matéria de monitoria e maneio desta praga".

A FAO reconhece que o país tem registado, nos últimos anos, um crescente número de espécies invasivas no sector agrário e com sérias implicações e/ou consequências para a produção e produtividade, colocando em risco a segurança alimentar de milhões de pessoas em todo o país, principalmente no meio rural. Para fazer face a esta problemática, os produtores têm recorrido ao uso de pesticidas químicos. Ainda assim, o especialista da FAO alerta para uma precaução redobrada no uso de pesticidas pois estes podem afectar a saúde humana, o meio ambiente e desenvolver resistência da praga aos pesticidas.