FAO in Portugal

Insegurança alimentar, alterações climáticas e alternativas para sistemas alimentares sustentáveis

25/03/2019

O ciclone tropical Idai que assolou cerca de 2,8 milhões de pessoas em Moçambique, Maláui e Zimbabué, foi descrito como o pior desastre relacionado ao clima a atingir o hemisfério sul na história. Provocou mortes, inundações, a perda extensa de culturas de cereais, frutas e hortícolas, e de produção pecuária, possivelmente agravando a insegurança alimentar.

António Guterres, Secretário-Geral das Nações Unidas, afirmou que o ciclone representa "mais um alarme sobre os perigos das alterações climáticas" e que “tais eventos estão a tornar-se mais frequentes, mais severos e mais disseminados, e isso só vai piorar se não agirmos agora”. No mesmo comunicado, O Secretário-Geral informou que convocou a conferência sobre a Ação Climática (Climate Action Summit) em setembro para tentar mobilizar os países em torno da necessidade urgente de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa e conter o aquecimento global para menos de 2 graus acima dos níveis pré-industriais, em linha com o Acordo de Paris de 2015.

A Organização Meteorológica Mundial das Nações Unidas (OMM) divulgou um relatório que informa que o clima extremo afetou 62 milhões de pessoas em todos os continentes em 2018. A crise em curso em Moçambique reflete a importância de uma agenda global para o desenvolvimento sustentável, adaptação às alterações climáticas e redução do risco de desastres, segundo o Secretário-Geral da OMM, Petteri Taalas.

Por outro lado, estes fenómenos catastróficos evidenciam as desigualdades por trás das mudanças climáticas. Estima-se que em África produz-se apenas 4% das emissões globais de carbono, em comparação com 80% nos países mais industrializados, contudo é o continente que paga o preço mais elevado. Assim, as alterações climáticas não apenas representam um risco futuro, mas já são uma realidade evidente em famílias, terras e meios de subsistência precarizados.

Estes impactos assinalam a necessidade de uma transição a nível global para a promoção ativa de sistemas alimentares sustentáveis, baseados na agricultura familiar, em modos de produção sustentáveis que promovam a biodiversidade, os conhecimentos tradicionais e as dietas saudáveis. Esta mudança é tanto mais urgente quanto mais se acentuam os impactos das alterações climáticas. 

Fórum Internacional Territórios Relevantes para Sistemas Alimentares Sustentáveis

É diante deste contexto que surge, como resposta política capaz de articular de forma coerente diversos atores e iniciativas para a promoção dessa transição a nível territorial na CPLP e em outras regiões, o Fórum Internacional Territórios Relevantes para Sistemas Alimentares Sustentáveis, que terá lugar entre os dias 17 e 21 de julho de 2019, em Portugal, no Município de Idanha-a-Nova.

O Fórum será um espaço plural que abrigará um conjunto de discussões metodologicamente interligadas (inovação, bio-regiões, Sistemas Importantes do Património Agrícola Mundial e políticas públicas locais), a partir das quais se pretende obter recomendações políticas e conhecimentos para a construção e implementação de uma abordagem coordenada para a promoção de sistemas e dietas sustentáveis no quadro da Estratégia de Segurança Alimentar e Nutricional da CPLP, da Década da Agricultura Familiar e dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

O Fórum Internacional é coorganizado pela FAO, pela Câmara Municipal de Idanha-a-Nova, pelo Mecanismo para a Facilitação da Participação da Sociedade Civil no CONSAN-CPLP, pela Rede Internacional das Bio-Regiões, pelo Ministério da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural de Portugal, e pelo Secretariado Executivo da CPLP.  Mais detalhes sobre a programação do fórum estarão disponíveis em breve.