FAO in Portugal

A FAO prepara-se para enviar ajuda imediata aos setores da agricultura, pecuária e pescas em Moçambique

01/04/2019

Um comunicado divulgado na sexta-feira pela FAO, alerta que as vidas e os meios de subsistência dos agricultores e pescadores do Maláui, do Zimbabué e, particularmente, de Moçambique atingidos pelo ciclone tropical Idai estão sob grave ameaça. A agência da ONU assinalou que é necessária uma ajuda imediata para restabelecer o setor primário, do qual 80% da população do país depende, nomeadamente a agricultura e pecuária. Portanto, manter os animais vivos, reabilitar as terras afetadas e reiniciar a produção agrícola de alimentos será fundamental numa altura em que as águas começam a recuar, anunciou a FAO.

Faixas significativas da área de cultivo foram inundadas na véspera da colheita de milho e sorgo de abril a maio, e a maior parte das perdas é esperada nas províncias de Manica e Sofala, em Moçambique, que normalmente contribuem com cerca de 25% da produção nacional de cereais.

Antes da tempestade, cerca de metade das famílias rurais moçambicanas tinham algumas reservas de milho, mandioca e feijão, mas as inundações inevitavelmente destruíram tanto reservas alimentares como as sementes. Antes do ciclone, 1,8 milhões de pessoas em Moçambique já se encontravam em crítica situação de insegurança alimentar – um número que tende agora a aumentar.

Tendo declarado a resposta ao ciclone Idai em Moçambique uma prioridade, a FAO estima que sejam necessários, inicialmente, 19 milhões de dólares para apoiar os mais afetados nos próximos três meses, com foco na retomada da produção local de alimentos, assistência às comunidades pesqueiras e apoio aos proprietários.

"Quando as águas da enchente retrocederem, será crucial que o governo, a FAO e seus parceiros entrem em ação rapidamente", disse Olman Serrano, representante da FAO em Moçambique e coordenador da resposta da Organização à crise. "Uma vez que tenhamos estabelecido como e quanta terra pode ser reabilitada, vamos adquirir e distribuir as sementes com urgência para que os agricultores possam plantar para a temporada agrícola secundária, que irá começar agora, em abril."

Olman Serrano observou que a FAO e os seus parceiros também ajudarão os agricultores a prepararem-se para a principal estação agrícola, em setembro, o que será crítico em termos de segurança alimentar para os próximos meses e no próximo ano. No entanto, mais imediatamente, uma das maiores prioridades consiste em poupar o gado restante, de que muitos agregados familiares dependem para alimentos e rendimento.

A resposta de emergência da FAO em relação à pecuária incluirá a evacuação de animais e a garantia de serviços veterinários e disponibilidade de ração (o custo típico para salvar uma vaca de fome e de doenças é de apenas 50 dólares, enquanto a compra de um animal substituto chega a 600 dólares). Além disso, Olman Serrano anunciou que também será necessária a assistência e proteção imediatas dos pescadores, dos seus ativos e de infraestruturas. Este é particularmente o caso da Beira, a cidade portuária que mais sofreu com o ciclone e o centro da indústria pesqueira de Moçambique, bem como o principal porto de importação de mais de 1 milhão de toneladas de trigo e arroz anualmente.

Restabelecer o acesso das pessoas aos mercados, tanto para comprar comida como vender as colheitas, é uma outra prioridade que seria adequada para os programas como o Cash+ que, entre outras iniciativas, transfere renda para pequenos agricultores para a reconstrução de estradas e outras infraestruturas.

Uma compreensão detalhada das necessidades da região deve tornar-se disponível assim que as águas da enchente começarem a retroceder e as imagens de satélite revelarem informações mais detalhadas sobre danos aos poços de irrigação, fontes de água para animais, infraestruturas agrícolas e saúde do solo.

Enviado pela FAO a Moçambique logo a seguir ao desastre, Daniele Donati, Diretor Adjunto da Divisão de Emergência e Resiliência da FAO, afirmou que as alterações climáticas certamente contribuem para que possamos entender a natureza extrema do ciclone, bem como para a abordagem que deve ser tomada para a ajuda humanitária.

"As alterações climáticas nos chamam a todos para expandir o conceito de intervenções de salvamento de vidas para incluir a proteção dos meios de subsistência. Normalizar os meios de subsistência é uma prioridade de primeira ordem", disse Daniele Donati.