FAO in Portugal

Europa e Ásia Central em transição para novas formas de desnutrição

17/03/2017

Lisboa - O crescimento económico e o aumento dos rendimentos per capita acabaram com a fome na Europa e na Ásia Central. Mas à medida que os países se tornam mais ricos, a mudança dos padrões de consumo acarreta outras ameaças à saúde. Esta "transição de insegurança alimentar" está documentada no novo relatório publicado pela FAO intitulado Visão Geral Regional da Insegurança Alimentar: Europa e Ásia Central, que analisa vários dados dos países: o fornecimento de energia dietética, indicadores de desnutrição como a baixa estatura para a idade e o baixo peso para a altura, a anemia, o excesso de peso e a obesidade e o que as pessoas comem em média.

O relatório aponta para um padrão através do qual os países progridem de lidar predominantemente com desnutrição e deficiências de micronutrientes, para lidar com doenças degenerativas associadas ao aumento da gordura dietética, açúcar, carne, laticínios e alimentos processados. Esta transição é muitas vezes acompanhada por um estilo de vida mais sedentário.

David Sedik, economista e autor do relatório, referiu que, ao analisar a estrutura das dietas à medida que os rendimentos aumentam "a porção de calorias totais derivada de edulcorantes, óleos vegetais e produtos animais aumenta, enquanto a de cereais diminui. Existem nuances importantes, mas a tendência geral é clara".

As questões de subnutrição na Europa e Ásia Central foram superadas, sendo que apenas 7% da população vive em países onde os problemas nutricionais predominantes são a subnutrição e deficiências de micronutrientes. No entanto, a desnutrição causada por deficiências de micronutrientes, como ferro, vitamina A e zinco, e problemas de sobrenutrição medidos pelo excesso de peso e obesidade, permaneceram e aumentaram. Atualmente, 13% da população da região vive em países que suportam um "triplo fardo" que engloba três problemas nutricionais, a subnutrição, as deficiências de micronutrientes e a sobrenutrição e 57% da população vive em países onde o principal problema de nutrição é a sobrenutrição.

No entanto, a situação não é estática. Os países que se encontram no grupo da subnutrição estão em vias de aderir à categoria de "triplo fardo" nos próximos anos. David Sedik disse que "À medida que mais países passam para a categoria de "triplo fardo", as despesas com saúde terão de aumentar rapidamente e substancialmente para lidar com os custos de saúde elevados associados a mais diabetes, doenças cardíacas e outras doenças não transmissíveis relacionadas com a dieta."

Enquanto a Parte 1 do relatório apresenta o problema, a Parte 2 é dedicada a soluções, explorando várias políticas promissoras para abordar e, eventualmente, erradicar a insegurança alimentar, adaptadas ao rendimento e perfil nutricional de cada país. Estas são políticas que foram testadas e comprovadas eficazes.

A fortificação de alimentos é oferecida como uma opção política para os países do grupo de subnutrição e deficiência de micronutrientes. A fortificação do leite com vitamina D, do sal com iodo, da farinha de trigo com ferro, ácido fólico e tiamina são exemplos dessa abordagem, que tem sido um fator crítico para melhorar o consumo de micronutrientes em crianças da Ásia Central. Da mesma forma, a bio-fortificação utiliza o melhoramento de plantas para aumentar o teor de micronutrientes das culturas. Estas culturas biologicamente fortificadas poderiam ser usadas para compensar o baixo teor de micronutrientes do trigo na Ásia Central e no Cáucaso, onde os cereais fornecem mais de 50% da energia dietética.

Outras recomendações políticas incluem:

  • Reformular alimentos de conveniência popular para melhorar seu valor nutricional;
  • Impostos e subsídios destinados a alterar os preços relativos dos alimentos em função da sua salubridade;
  • Educação nutricional para informar as pessoas sobre o que constitui uma dieta saudável e equilibrada;
  • Sistemas de segurança alimentar mais eficazes e normalização das regras de segurança alimentar, sanitária, fitossanitária e de higiene;
  • Melhorar a rotulagem nutricional dos produtos alimentares;
  • Programas de assistência alimentar, incluindo vales e programas de subsídios alimentares, transferência de alimentos e programas de transferência de dinheiro.

O Subdiretor-Geral da FAO e Representante Regional para a Europa e Ásia Central, Vladimir Rakhmanin, ressalvou os progressos conseguidos na redução da subnutrição nos países da Ásia Central e do Cáucaso, apontando a necessidade de pensar não só em termos de consumo suficiente de calorias, mas também no equilíbrio da dieta e no seu papel na promoção da saúde.

Fonte: http://www.fao.org/news/story/en/item/522759/icode/

Foto: ©FAO/Vyacheslov Oseledko

Legenda da foto: Pessoas a comprarem alimentos num supermecado em Bishkek, Quirguistão