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FICHA DE INFORMAÇÃO 12: ALARGAR A BASE DAS FONTES ALIMENTARES ATRAVÉS DAS PLANTAS LOCAIS


As plantas locais são plantas que evoluíram de forma natural numa dada região. Existem igualmente plantas que foram introduzidas, mas adaptaram-se tão bem que as consideramos como locais e são designadas como autóctones. O termo tradicional é muitas vezes utilizado para estas plantas; ele indica que são utilizadas há muito tempo numa dada região.

O que é importante não é tanto a terminologia, mas o facto de que muitas destas plantas se tornaram parte integrante do sistema alimentar local. É impossível fazer uma lista exaustiva das plantas alimentares de África, pois a maior parte das comunidades desenvolveram as suas próprias preferências e hábitos alimentares. Existem duas grandes categorias de plantas alimentares: aquelas que são consumidas como alimentos de base tradicionais, tais como a mandioca, o inhame, a banana-pão, a batata-doce, a mapira (sorgo) e meixoeira (milho-miúdo), e aquelas que servem de ingredientes dos pratos de acompanhamento e dos molhos, nomeadamente numerosos frutos, legumes, leguminosas e sementes oleaginosas.

A maior parte dos legumes de folhas de África, tais como o amarantos, o feijão-nhemba, a abóbora e a batata-doce, são considerados como plantas alimentares locais tradicionais. Algumas destas plantas são produtos de colheita ancestrais; quando se tornou difícil colhê-las, as comunidades rurais começaram a cultivá-las. Outras plantas permanecem ainda no estado semi-selvagem, isto é, os horticultores não fazem nenhum esforço particular para as cultivar, mas se elas crescerem espontaneamente no início da estação das chuvas, deixam-nas crescer entre as plantas cultivadas e consomem-nas quando atingem a maturidade.

As plantas alimentares tradicionais têm numerosas vantagens, sobretudo em termos de segurança alimentar das famílias. Para além de alargarem a base dos recursos alimentares, elas aumentam o nível da oferta e diversificam a dieta. São igualmente benéficas por razões ecológicas, pois aumentam a produtividade das culturas, conservam o solo e melhoram a sua fertilidade. Muitas plantas tradicionais, tais como a abóbora, a batata-doce e o feijão são cultivadas em conssociação com o milho ou outras culturas cerealíferas, para servirem de barreira ecológica às doenças. Quando se utilizam as hortícolas tradicionais como culturas de cobertura, eles ajudam a evitar a erosão do solo, a reduzir a evaporação e, ainda, a impedir o crescimento das ervas daninhas. Cultivadas como adubo verde e enterradas na terra quando esta é lavrada, as plantas tradicionais aumentam a matéria orgânica do solo e melhoram a sua estrutura. As leguminosas fixam também o azoto atmosférico, enriquecendo assim o solo para as culturas seguintes ou para as plantas circundantes.

As plantas alimentares tradicionais estão bem adaptadas aos lugares onde são cultivadas, e o papel que desempenham para o equilíbrio nutricional das comunidades locais é muito importante. De acordo com a sua natureza, as culturas alimentares são importante fonte de proteínas, de vitaminas A e C, de cálcio e de muitos outros micronutrientes. Em África, estima-se que 80 % da vitamina A e mais de 2/3 da vitamina C, são fornecidos pelas plantas alimentares tradicionais, nomeadamente os legumes de folhas verdes. Os frutos secos e as sementes oleaginosas são igualmente boas fontes de proteínas e de energia, sendo ainda preciosos suplementos à dieta das crianças e muito úteis na preparação de refeições ligeiras. Ver igualmente as Fichas de Informação 3, "Receitas para a confecção de pratos nutritivos", 4, "Refeições ligeiras, nutritivas e saborosas para crianças pequenas", e 5, "Processamento e preparação caseira de alimentos de desmame", assim como as Rubricas Tecnológicas de Horticultura 2, "Cultivar para a alimentação diária" 3, "Garantir diariamente uma boa alimentação à família", 4, "Praticar culturas para um abastecimento alimentar em continuidade", e 18, "Transformação, conservação e armazenagem".

Quando a variedade dos recursos alimentares diminui, nas comunidades que vivem com insegurança alimentar, observam-se sérias consequências nutricionais, uma vez que, obviamente, se reduz o consumo de certos sais minerais, vitaminas e oligo-elementos. Infelizmente, a produção e a utilização das plantas alimentares tradicionais está em declínio, e a diversidade da dieta nas comunidades rurais e urbanas vai-se reduzindo progressivamente. Várias razões explicam esta situação. Um número considerável de legumes e de outras plantas alimentares, introduzidos, têm um elevado rendimento e tornaram-se populares porque é fácil produzi-los e processá-los ou ainda devido ao prestígio atribuído ao seu consumo. As plantas introduzidas são igualmente consideradas como prioritárias nos programas de selecção vegetal e entre os produtores comerciais de sementes, e o seu valor comercial é por vezes elevado. As espécies locais não receberam a mesma atenção, ainda que a sua adaptabilidade, o seu valor nutritivo e o seu lugar na dieta tradicional justificassem uma tal atenção. Embora os utilizadores e os promotores das plantas alimentares locais estejam conscientes desta situação, muito está por fazer para inverter esta situação, quer pelos fitogeneticistas, quer pelos produtores comerciais de sementes.

A horta é um lugar ideal para cultivar as espécies subaproveitadas ou ameaçadas. Numa horta, as pequenas superfícies podem ser reservadas ao cultivo de certas espécies, cuja produtividade pode ser melhorada se as seleccionarmos pelas características mais desejadas, escolhendo nomeadamente as espécies mais baratas, resistentes à seca e fáceis de armazenar. Ao cultivar variedades locais, o horticultor desempenha não só um papel importante na protecção da natureza, mas igualmente um papel-chave no melhoramento destas variedades.

O quadro de composição dos alimentos apresentado no Anexo 2, indica o valor nutritivo dos alimentos correntemente produzidos e consumidos em África.


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