FAO: As mulheres representam 36% da força de trabalho nos sistemas agroalimentares da América Latina e do Caribe
Um novo relatório da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) adverte que as mulheres rurais da América Latina e do Caribe continuam a enfrentar barreiras estruturais no acesso à terra, aos recursos produtivos e à tomada de decisões, e pede mudanças nos sistemas agroalimentares com uma abordagem transformadora de gênero
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©FAO/Rosa Borg
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) lançou o relatório “A situação das mulheres nos sistemas agroalimentares: um enfoque regional para a América Latina e o Caribe”, que analisa a participação das mulheres na produção rural, documenta as lacunas persistentes em matéria de emprego, acesso a recursos e representação, e oferece recomendações para acelerar o empoderamento das mulheres rurais na região.
Esta edição regional atualiza e aprofunda a análise apresentada pela FAO em 2023 em nível global, com dados e evidências sobre a participação, os desafios e as contribuições das mulheres rurais, indígenas, jovens e afrodescendentes nos sistemas agroalimentares da América Latina e do Caribe.
O relatório identifica barreiras persistentes no acesso à terra, água, propriedade de animais, finanças, serviços de extensão e tecnologias, e propõe ações transformadoras para acabar com as desigualdades de gênero nos sistemas agroalimentares.
Ele também destaca como o empoderamento das mulheres gera múltiplos benefícios para garantir a segurança alimentar e nutricional, impulsionar as economias rurais, promover o desenvolvimento sustentável e o bem-estar da sociedade como um todo.
De acordo com o relatório, as mulheres representam 36% da força de trabalho nos sistemas agroalimentares da América Latina e do Caribe, e 71% delas trabalham em setores não agrícolas, como processamento, marketing e vendas de alimentos.
Uma amostra de 14 países da América Latina e do Caribe mostra que mais da metade dos trabalhadores na fabricação de alimentos (55%) e no comércio (52%) são mulheres. Entretanto, sua presença em atividades mais lucrativas, como o transporte, é baixa (9%).
O relatório alerta sobre as desigualdades estruturais que condicionam a vida das mulheres rurais. Na América Latina e no Caribe, mais mulheres do que homens passam fome: a diferença de gênero na insegurança alimentar moderada ou grave atingiu 9,1 pontos percentuais em 2022, depois de ter aumentado drasticamente em 2021 para 11,5 pontos percentuais, em parte como resultado da crise da COVID-19 (FAO, 2025). Além disso, a sobrecarga de trabalho doméstico e de cuidados não remunerados das mulheres continua a limitar suas oportunidades de emprego e treinamento.
O relatório destaca que a América Latina e o Caribe são a única região do mundo onde a participação das mulheres nas atividades agrícolas aumentou nas últimas duas décadas. Entretanto, esse progresso não se traduziu para as mulheres em maior acesso a recursos produtivos ou representação em espaços de tomada de decisão. As mulheres também têm menos probabilidade do que os homens de trabalhar em tempo integral, o que sugere que seu trabalho é mais irregular e temporário.
"As evidências que compartilhamos hoje devem ser um insumo fundamental para a tomada de decisões. Precisamos de políticas públicas transformadoras que promovam o empoderamento econômico das mulheres rurais em toda a sua diversidade, reconheçam seus múltiplos papéis na produção, comercialização e cuidado, e garantam seu acesso igualitário a recursos, serviços e participação", disse Maya Takagi, Líder do Programa Regional da FAO para a América Latina e o Caribe, no lançamento do relatório.
Após uma revisão, o relatório observa que apenas 26% das políticas agrícolas analisadas incluem a igualdade de gênero como um objetivo explícito, e menos de 15% abordam normas sociais discriminatórias, mudanças climáticas ou resiliência climática. Em contraste, uma análise das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) mostra que a América Latina e o Caribe foram a região com a maior integração de gênero, o que representa uma oportunidade de promover políticas mais inclusivas.
As principais recomendações do relatório incluem a promoção de reformas legais para garantir a propriedade conjunta da terra, a elaboração de políticas, programas e investimentos transformadores de gênero e a melhoria do acesso a tecnologias, treinamento e serviços financeiros. O relatório também destaca o fortalecimento da ação coletiva como uma ferramenta para aumentar o poder de negociação e a resistência das mulheres diante de crises e choques.
A situação das mulheres nos sistemas agroalimentares.
Galeria de fotos FLICKR FAO Américas O trabalho das mulheres nos sistemas agroalimentares.
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Especialista em Comunicação do Programa Regional da Iniciativa Mano a Mano para Sociedades Rurais Inclusivas e Prósperas.
Coordenadora de Estratégias de Comunicação de Inclusão Social.