Produção pecuária na América Latina e no Caribe
A pecuária tem importância crítica para a América Latina e o Caribe e é uma fonte de alimentos básicos para a segurança alimentar de sua população.
Mais de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo dependem da pecuária e 70% dos 880 milhões de pobres em áreas rurais, que vivem com menos de USD 1,00 por dia dependem, pelo menos parcialmente, da pecuária para sua subsistência.
Os sistemas de produção pecuária são considerados como a estratégia social, econômica e cultural mais apropriada para manter o bem estar das comunidades, pois é a única atividade que pode ao mesmo tempo assegurar a subsistência, preservar os ecossistemas, promover a conservação da fauna silvestre e satisfazer os valores culturais e tradições.
A América Latina, com suas extensas pastagens, clima favorável e um uso racional de insumos, que inclui grãos (cereais, soja) e fertilizantes, conta com todos os ingredientes naturais para ser uma importante região produtora da pecuária, capaz de satisfazer a demanda por alimento e garantir a segurança alimentar regional e mundial.
A expansão da pecuária na América Latina e no Caribe
A pecuária na América Latina cresceu a uma taxa anual de 3,7%, superior à média de crescimento global (2,1%). Nos últimos anos, a demanda total por carnes aumentou em 2,45%. O maior aumento foi por carne de aves (4.1%), seguida pela carne de porco (2.67%), mas a demanda por carne bovina teve leve redução (-0,2%). As exportações de carne cresceram em 3,2%, cifra superior à elevação da taxa de produção, que foi de 2,75% (FAO, 2012).
A América Latina e o Caribe, apesar de constituírem somente 13,5% da população mundial, produzem pouco mais de 23% da carne bovina e búfalo, e 21,40% da carne de aves em todo o mundo. No caso de ovos e leite, a participação da região é mais do que 10% e 11,2% em peso, respectivamente.
Nas últimas décadas, a pecuária teve um enorme crescimento, especialmente no Cone Sul, devido à expansão da demanda mundial. Esse rápido crescimento permitiu a América Latina tornar-se região que mais exporta carne bovina e de aves no mundo.
Mas, essas expectativas regionais favoráveis vem acompanhadas da preocupação sobre o alto custo da alimentação animal (60-70 % do custo total de produção), a escassez de forragem de qualidade e o uso ineficiente de recursos alimentares disponíveis, o que afeta a produtividade, o aumento do risco de pragas e zoonoses transfronteiriças, as ameaças associadas à degradação dos recursos naturais e os impactos negativos das mudanças climáticas sobre o setor pecuário.
Além disso, a volatilidade dos preços afeta a produção de alimentos e a segurança alimentar de populações vulneráveis: altas taxas de desnutrição infantil e desnutrição crônica em alguns países. Além da demanda maior por parte da sociedade por produtos pecuários de alta qualidade saudáveis e seguros. Esses são elementos importantes a serem considerados no desenvolvimento de políticas para a pecuária. A média familiar na América Latina de gastos em produtos de carne e laticínios é da ordem de 19% do orçamento familiar.
Abordagem sustentável
A produção mundial da pecuária será beneficiada pelo crescimento da demanda por produtos de origem animal. Este crescimento vai continuar a gerar emprego e segurança alimentar para milhões de pessoas na região, mas são necessárias políticas e investimentos específicos que fortaleçam seu papel produtivo e social. A importante posição de grande exportador do setor pecuário mundial foi alcançado, mas acompanhada por suas consequências ambientais. A produção pode tornar-se insustentável no longo prazo, se não forem tomadas as medidas necessárias, porque os impactos ambientais reduzem a produtividade e o crescimento continua condicionado à expansão da fronteira agrícola sobre os ecossistemas naturais. Essa expansão requer uma abordagem sustentável para evitar a crescente pressão sobre os recursos naturais e meio ambiente da região.
A FAO trabalha para melhorar a eficiência da produção dos sistemas pecuários, manejo sustentável dos recursos naturais na produção, com o objetivo de reforçar a contribuição para a segurança alimentar e reduzir a pobreza na América Latina e no Caribe.
Produção pecuária familiar
A produção pecuária familiar tem um papel de grande importância na resolução do problema da da fome na região. Essa pequena produção pecuária pode produzir uma parcela significativa dos alimentos necessários para o mercado interno dos países da América Latina e do Caribe, melhorando a segurança alimentar e a nutrição e contribuindo significativamente para o desenvolvimento nacional.
A produção pecuária familiar, ou a criação de quintal, contribui para o crescimento do produto interno bruto, e em certos casos dinamiza as exportações de produtos pecuários, gera emprego, além de ser fonte geradora de nutrientes para consumo, e é fator chave na luta contra a insegurança alimentar e o desenvolvimento rural sustentável.
Os pequenos produtores são essenciais
Os pequenos produtores que desenvolvem atividades pecuárias representam uma proporção importante dos pequenos produtores dos países da região e possuem parte substancial das planícies e dos rebanhos.
A contribuição em potencial deste setor para a economia agrícola de seus países e para a segurança alimentar, depende na maior parte dos casos, do acesso oportuno a serviços de saúde animal e veterinários, assistência técnica e o suporte necessário para garantir a sustentabilidade desses sistemas de produção.
Os pequenos produtores precisam para desenvolverem-se não só o acesso a novas e melhores tecnologias, mas especialmente as inovações nos sistemas de produção que garantam o acesso a mercados, ou melhorem a contribuição do consumo próprio à exigência das dietas alimentares.
Especialmente para a população de baixa renda, a pecuária pode ser um meio importante para aumentar seu potencial, mas não é o único. A venda e consumo de produtos de origem animal podem reduzir a vulnerabilidade das famílias à escassez sazonal de alimentos e renda, satisfazer as necessidades mais amplas de segurança alimentar e melhorar a nutrição dos mais vulneráveis, particularmente as mulheres, crianças e idosos. A criação de animais pode proteger as famílias de crises, como as provocadas por secas e outras catástrofes naturais. Criar animais pode aumentar a capacidade das famílias e pessoas em cumprir suas obrigações sociais e fortalecer a identidade cultural. A pecuária é também uma fonte básica de garantia para as populações pobres e permite que muitas famílias obtenham acesso ao capital e empréstimos com fins comerciais. A criação de animais é portanto um bem de capital que com uma atenção cuidadosa pode dar um impulso às famílias para sairem da pobreza extrema e se beneficiarem das economias de mercado.