FAO no Brasil

Pesquisa, tecnologias, extensão rural e organização produtiva: uma combinação que fortalece a agricultura familiar algodoeira na Paraíba

©️FAO/Palova Brito
29/08/2022

FAO/ONU e ABC/MRE visitaram iniciativas que vem contribuído para a segurança alimentar e geração de renda de famílias algodoeiras da região 

Brasília - “Algodão significa segurança alimentar para muitas famílias que dependem deste cultivo para ter acesso econômico a alimentos. E algodão também significa identidade regional”, afirmou Rafael Zavala, Representante da FAO no Brasil durante sua visita à cidade de Campina Grande, na Paraíba, para conhecer as experiencias de produção de algodão na agricultura familiar, as tecnologias, inovações e as boas práticas de extensão rural desenvolvidas para este setor.  

Durante três dias, de 11 a 13 de agosto, representantes da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO/ONU) e da Agência Brasileira de Cooperação do Ministério de Relações Exteriores (ABC/MRE) participaram de uma missão no âmbito do projeto de cooperação sul-sul trilateral +Algodão.  

O projeto +Algodão integra as ações do Programa de Cooperação Internacional Brasil-FAO e é executado de forma conjunta pela FAO/ONU e ABC/MRE com o objetivo promover o desenvolvimento sustentável da cadeia do algodão latino-americana. Mobiliza uma rede regional de mais de 90 instituições do setor público e privado que somam esforços para fortalecer a cadeia algodoeira.  

Na visita, Zavala apontou oportunidades para a agricultura familiar algodoeira, entre elas a aposta em nichos de mercado como a produção de algodão orgânico. “Temos excelentes experiências não apenas na produção de algodão, mas também de tecidos para os mercados de moda”. O Representante da FAO no Brasil também afirmou que para alcançar sucesso são necessárias políticas públicas intersetoriais para apoiar o pequeno agricultor.   

Os representantes da FAO/ONU e ABC/MRE visitaram as instalações da Embrapa Algodão, em Campina Grande, onde conheceram as máquinas e implementos agrícolas desenvolvidos para a agricultura algodoeira de pequena escala. Entre os equipamentos apresentados estavam cultivadores para preparo do solo adaptados para pequenas propriedades, plantadeira adaptada ao cultivo de sementes de algodão orgânico e miniusina de beneficiamento de algodão. Uma das grandes contribuições da Embrapa Algodão ao projeto +Algodão foi o desenvolvimento de um protótipo de colheitadeira de algodão de uma linha, especialmente adaptado o uso na agricultura familiar algodoeira. A máquina passou por teste no Brasil em 2020 e, este ano, foi levada ao Paraguai para demonstrações e testes em campo. Os pesquisadores que acompanham o projeto nos países parceiros também avaliaram a participação da instituição nesta cooperação ao longo de seus nove anos.  

Cecília Malaguti, responsável pela cooperação Sul-Sul com organismos internacionais na ABC/MRE, disse que a “Embrapa é a instituição brasileira que tem a maior demanda e presença na nossa cooperação técnica na cadeia do algodão”, avaliando que o desenvolvimento de máquinas é uma tecnologia que poderá mudar a vida de agricultores familiares na América Latina e na África. Ela destacou o componente de mecanização do projeto +Algodão, que é viabilizado por meio da contribuição da Embrapa Algodão como parceira nesta iniciativa de cooperação. Malaguti avaliou que as tecnologias desenvolvidas para a América Latina também poderão ser compartilhadas com os países da África.  

Para o chefe-geral da Embrapa Algodão, Alderi Araújo, “com as tecnologias desenvolvidas ou aperfeiçoadas no âmbito do projeto, nós poderemos contribuir para reduzir o esforço dos pequenos produtores e aumentar a produtividade para viabilizar a produção de algodão no Semiárido brasileiro e nos demais países membros da cooperação”, disse.  

Rafael Zavala destacou que o compromisso com a agricultura familiar presente no projeto +Algodão é um grande exemplo para a América Latina, ressaltando a relevância da continuidade desta “parceria bem-sucedida entre FAO, ABC e Embrapa para o desenvolvimento da região. A cooperação muda a vida não somente no Brasil, mas no mundo”, afirmou.  

Agricultura familiar algodoeira 

Durante o período da visita técnica o grupo conheceu o trabalho desenvolvido pelo Instituto Nacional do Semiárido do Ministério de Ciência e Tecnologia (INSA/MCTi); conheceu a iniciativa “Algodão Paraíba”, implementada no município de Ingá para alavancar o desenvolvimento sustentável da cadeia de valor do algodão da agricultura familiar, não somente com o enfoque na produção, mas também na moda sustentável. Também foi realizada visita ao Instituto “Casaca de Couro”, uma experiencia de integração público-privado para o cultivo, transformação e comercialização do algodão proveniente de pequenos produtores locais a importantes marcas nacionais de confecção.  

Adriana Gregolin, coordenadora do projeto +Algodão pela FAO/ONU, avaliou positivamente a missão como uma oportunidade de conhecer experiências desenvolvidas na Paraíba, em especial em Campina Grande, e que são referências e inspirações para o desenvolvimento do projeto. A coordenadora reconheceu a relevância do apoio das instituições de pesquisa e Assistência Técnica e Extensão Rural do Brasil, como a Empresa Paraibana de Pesquisa, Extensão Rural e Regularização Fundiária (Empaer-PB), às instituições de extensão dos países parceiros. “Sem parcerias, as ações não acontecem. Nós da FAO e da ABC, estamos obtendo resultados bem-sucedidos nos países latino-americanos porque a relação está baseada na parceria, na colaboração, na cooperação”.  

Em campo, foram visitadas áreas de cultivo de algodão onde se destacou também o papel da ATER desempenhada pela Empaer-PB, bem como o trabalho desenvolvido por uma organização de mulheres produtoras de algodão e artesãs, que comercializam produtos orgânicos e agroecológicos da Rede Borborema de Agroecologia, no município de Remígio, agregando valor e seus produtos e melhorando a qualidade de vida das famílias. 

Projeto +Algodão 

O projeto +Algodão é executado desde 2013 com o objetivo de promover sistemas de produção sustentáveis ​​e inclusivos, desde uma perspectiva integral da cadeia de valor do algodão para a promoção do desenvolvimento rural, promovendo a agregação de valor, o comércio justo e a promoção do sistema agro-têxtil-confecções. Participam Argentina, Bolívia, Colômbia, Equador, Paraguai e Peru como países parceiros.  

Por meio do projeto, são geradas oportunidades de troca de conhecimentos e experiências entre o Brasil e os países, fomentado o acesso a mercados, promovidas inovações tecnológicas e de gestão agrícola, a partir de uma perspectiva de sistemas agroalimentares, onde os sistemas diversificados de produção contribuem para a segurança alimentar e nutricional das famílias algodoeiras nos territórios mais vulneráveis.