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Fase preparatória

Resumo

A fase preparatória de um projeto participativo de nutrição numa comunidade consiste em várias atividades importantes e indispensáveis.

Um dos primeiros passos, coletar e revisar a informação existente sobre os aspectos alimentares e nutricionais da comunidade, pode ser alcançado contatando instituições que podem proporcionar informações nutricionais, identificando os contatos chave na comunidade e discutindo os aspectos nutricionais com cada um deles ou em grupos. Com base na informação obtida, o agente de desenvolvimento deverá elaborar um diagnóstico preliminar.

Outro passo inicial é estabelecer ou fortalecer os laços com outros agentes e instituições de desenvolvimento. É útil fazer um inventário de instituições que, localmente, trabalham em atividades relacionadas com alimentação e nutrição, contatar com elas individualmente e, logo que seja possível, em grupos. Isto permitirá ao agente de desenvolvimento preparar um inventário dos serviços oferecidos por outras instituições de desenvolvimento.

A seleção de uma comunidade para um projeto participativo de nutrição dependerá de o agente de desenvolvimento já estar trabalhando ou não com uma ou várias comunidades, das necessidades alimentares e nutricionais das comunidades e do grau de interesse da população para projetos participativos.

Depois de selecionar a comunidade, o agente de desenvolvimento inicia ou fortalece relações com ela, mediante reuniões com lideranças locais e com a comunidade com a qual se começa um diálogo sobre alimentação e nutrição. Também nesta etapa, o agente de desenvolvimento identifica as organizações internas e as relações entre grupos dentro e fora da comunidade.

É possível que para estimular o interesse da comunidade seja necessário começar com atividades concretas relacionadas com alimentação e nutrição.

Não é necessário desenvolver em seqüência todas as atividades da fase preparatória. Muitas delas poderão coincidir ou reforçar-se; algumas, talvez, já tenham sido realizadas. Outras, como a coleta e revisão de informações, não necessitam ser cumpridas em sua totalidade antes de se iniciar um projeto, podendo ser continuadas durante todo seu desenvolvimento. A intenção é que este guia seja utilizado com flexibilidade.

Dependendo da freqüência dos contatos do agente de desenvolvimento com a comunidade e com outros agentes de desenvolvimento na área, a fase preparatória levaria cerca de três meses para ser concluída. Um professor de nível primário radicado na comunidade necessitaria de menos tempo que um extensionista agrícola morando na capital ou sede da administração, obrigando-se, nesta situação, a viajar até à comunidade escolhida.

Coletando e revisando a informação existente

Um dos primeiros passos na planificação de um projeto participativo de nutrição consiste em coletar e revisar a informação disponível, de modo a obter uma descrição inicial da situação alimentar e nutricional da área. Por outro lado, esta informação poderá servir ao agente de desenvolvimento no processo de escolha das comunidades onde serão desenvolvidas as atividades de nutrição.

A elaboração de um projeto comunitário de nutrição necessita de informações sobre a produção e disponibilidade de alimentos, hábitos alimentares, acesso a serviços de saúde e sistemas de abastecimento d'água, bem como de dados técnicos nutricionais, tais como peso e altura de crianças menores de cinco anos e práticas de desmame. Convém ainda coletar informação adicional relacionada com a alimentação e nutrição, como o tipo de tecnologia apropriada para a produção, processamento e armazenamento de alimentos ou os preços dos principais alimentos no mercado (por exemplo, alimentos básicos, óleo e açucar).

Parte desta informação pode ser conseguida em publicações, informes e estudos ou nos sistemas de registro de dados das instituições locais, bem como de centros de saúde e serviços de extensão agrícola. Outros dados se encontram nos organismos de nível provincial (estadual) ou central, tais como departamentos ministeriais, universidades, organizações não governamentais, agências de desenvolvimento ou instituições do setor privado. Os supervisores destas entidades, além de proporcionar material, poderão prestar assistência ao agente de desenvolvimento com a identificação e aquisição de fontes adicionais de dados.

Ademais, seria útil conhecer as opiniões dos expertos e líderes locais sobre os problemas nutricionais da área, reunindo-se com eles de forma individual ou em grupos. Reunir pessoas conhecedoras da situação local com antecedentes diferentes e experiências em campos distintos apresenta várias vantagens: poderá ajudar a determinar os aspectos específicos que necessitam de maior atenção e investigação, bem como servir de base para uma maior cooperação entre as instituições e/ou as pessoas presentes.

Ao concluir a revisão da informação o agente de desenvolvimento faz um diagnóstico inicial da situação alimentar e nutricional da zona.

A Lista de Verificação 1 foi elaborada com o objetivo de proporcionar ao agente de desenvolvimento um guia flexível que o oriente na organização e registro da informação obtida. O tipo e a quantidade da informação requerida e/ou disponível pode variar de um lugar para outro. As lacunas iniciais irão sendo preenchidas durante o desenvolvimento do projeto, segundo as necessidades que vão surgindo.

Lista de verificação 1: Informação sobre Alimentação e Nutrição

Esta lista é um instrumento para organizar e registrar informações sobre a situação alimentar e nutricional da comunidade necessárias a um projeto participativo de nutrição. Também são indicadas possíveis fontes de informação para cada aspecto. As lacunas de informação podem ser preenchidas durante o desenvolvimento do projeto.

  1. Estado Nutricional

    Fontes: Sistemas de coleta rotineira de dados e de vigilância nutricional dos centros de saúde, nutricionistas, ONGs.

  2. Padrões de consumo de alimentos

    Fontes: Sondagens de serviços estatísticos de institutos ou departamentos de nutrição, sociólogos rurais, antropólogos, Ministério da Saúde, agências para o desenvolvimento.

  3. Prevalência e variações sazonais das principais doenças

    Fontes: Centros de Saúde

  4. Serviços de Saúde

    Fontes: Ministério da Saúde, Secretarias Estaduais de Saúde e serviços de saúde.

  5. Dados agrícolas sobre produção local de alimentos, sazonalidade, obstáculos

  6. Comercialização de alimentos

    Fontes: Serviços governamentais, como Ministério da Indústria e do Comércio, cooperativas

  7. Sistema de abastecimento de água

    Fontes: Serviços locais de saúde / comitê de engenheiros / serviços de abastecimento de água

  8. Informação geral sobre o desenvolvimento local

    Fontes: governos locais, representações oficiais locais de diferentes ministérios

Possíveis Problemas

-   Poderia ser difícil obter informações sobre a nutrição e segurança alimentar a nível local. Talvez a informação não esteja disponível ou o agente de desenvolvimento necessite de autorização para ter acesso aos dados. Algumas instituições podem não estar dispostas a ceder suas informações. Em alguns casos estes problemas podem ser evitados com uma planificação cuidadosa das entrevistas e aplicando um enfoque positivo. É melhor respeitar qualquer resistência inicial que provavelmente poderá ser superada com a evolução do processo e na medida em que se vai promovendo a comunicação.
-   As crianças menores de cinco anos, bem como gestantes e nutrizes tendem a ser o enfoque principal da literatura nutricional. Apesar da importância destes grupos necessita-se, também, de informações sobre a família em geral. Talvez o agente de desenvolvimento veja a necessidade adicional de identificar outros grupos populacionais segundo o acesso que tenham aos alimentos e seus hábitos de consumo.
-   Pode acontecer que a informação disponível seja muito geral e/ou não esteja atualizada. Outros dados que o agente de desenvolvimento pode conseguir de fontes escritas ou verbais complementariam as informações básicas permitindo fazer uma comparação da situação local com a do país em geral e identificando as mudanças que tenham acontecido através do tempo.

Estabelecendo vínculos com outras agências e instituições para o desenvolvimento

Um passo importante na preparação dos projetos participativos de nutrição é o estabelecimento de contatos e vínculos com outros agentes e instituições para o desenvolvimento que trabalham com aspectos alimentares e nutricionais ou temas correlacionados.

Uma vez que a desnutrição tem muitas causas, a solução dos problemas nutricionais requer a participação de pessoas e instituições que trabalham em diferentes setores de desenvolvimento incluindo a agricultura, saúde, educação e desenvolvimento comunitário. Vale a pena fazer um inventário das instituições locais que desenvolvem ou prestam apoio ás atividades relacionadas com alimentação e nutrição. Entre estas podem ser incluídas instituições estatais como o Ministério de Agricultura, Saúde e Educação e, ainda, autoridades políticas e administrativas, além das organizações nâo governamentais comprometidas com trabalho para o desenvolvimento. No inventário teria que se considerar, particularmente, as associações rurais, sindicatos e outras organizações populares interessadas em questões sociais ou em promover o desenvolvimento da área.

É melhor iniciar os contatos com as diferentes instituições numa etapa bem anterior. Se possível, deve-se primeiro conseguir informações sobre as instituições com as quais se pensa estabelecer contatos, pois assim o agente de desenvolvimento poderá determinar a melhor maneira de fazê-los. Ao conversar com os representantes das diversas instituições, o agente de desenvolvimento poderá:

-   explicar o enfoque que pensa seguir para promover as atividades participativas de nutrição;

-   solicitar sugestões sobre como as instituições poderiam dar assistência e cooperar com as atividades;

-   recolher informação específica sobre os serviços que as instituições oferecem ou poderiam oferecer à comunidade, o tipo de recursos com que contam e seus planos operativos atuais em nível comunitário;

-   identificar os mecanismos de coordenação que existem entre as diferentes organizações como base para uma futura relação operacional.

Seria útil para o agente de desenvolvimento contar com um inventário dos serviços localmente disponíveis na comunidade. Como se mostra no exemplo apresentado na figura 1, no inventário podem-se incluir os serviços oferecidos, o nome da instituição que os presta, sua localização e distância da comunidade assim como os recursos que pode colocar à disposição do projeto.

Figura 1 - Exemplo de uma folha de inventário dos serviços locais à disposição da comunidade

Serviços oferecidosInstituição responsávelLocalizaçãoDistância da ComunidadeRecursos disponíveis
Serviço de Extensão Agrícola    
Extensão Pecuária    
Serviços de saúde Atenção primária de saúde    
Apoio em crédito (pequenos empréstimos)    
Abastecimento de água    
Saneamento    
Serviços para desenvolvimento da mulher    
Extensão florestal    
     

O uso de um mapa ajudaria a visualizar a localização destes serviços dentro da comunidade ou área, como no exemplo do mapa 1 no qual se mostram as diferentes instituições para o desenvolvimento numa comunidade rural das Filipinas.

As organizações locais podem ser fontes úteis de informação. Visitando seus projetos provavelmente se aprende mais sobre a área. Seus módulos e materiais de capacitação poderiam ser aproveitados para o projeto.

Desenvolver desde o princípio uma boa relação e cooperação com autoridades dos governos locais garantiria apoio ao projeto no futuro. Este é um requisito essencial para seu êxito e auto - sustentação. Além disso ao compartihar a informação coletada com a administração local, facilita-se sua difusão além de ajudar o pessoal do governo a tomar consciência de aspectos relacionados à nutrição e segurança alimentar. Convém envolver os profissionais responsáveis na tomada de decisão, por estarem numa posição de assegurar o fluxo de informação do nível nacional ao nível estadual (provincial) e ao local.

Nos países onde existem unidades de planejamento a nível de distrito simplifica-se o processo para estabelecer a cooperação. Os agentes de desenvolvimento poderiam recorrer a estas unidades para obter ajuda na coleta e análise de dados, bem como para discutir os resultados com os agentes de diferentes ministérios técnicos que normalmente se encontram neste nível.

Como complemento às reuniões individuais com o pessoal de cada instituição, é também conveniente realizar uma reunião com a participação das organizações locais mais importantes. Os agentes de desenvolvimento aproveitariam esta ocasião para apresentar o projeto participativo de nutrição, responder a perguntas, dar maiores explicações e solicitar sugestões sobre o modo pelo qual os participantes poderiam contribuir para o projeto e promover a cooperação entre o governo, as ONG's e a comunidade. Também é uma boa idéia coletar informações sobre fontes de financiamento para os diversas atividades. Esta informação será especialmente proveitosa se se chegar a necessitar de recursos financeiros.

Quadro 1 - Reunindo-se com outras agências de desenvolvimento (Filipinas).
Num projeto participativo de nutrição iniciado pelo Instituto Nacional de Reconstrução Rural nas Filipinas, com o objetivo de discutir as atividades a serem implementadas na aldeia de São Francisco, foi organizado um primeiro encontro interagencial a que aderiram representantes dos departamentos de Agricultura, Saúde, Bem Estar Social e de Desenvolvimento, e do Governo local e desenvolvimento Comunitário, assim como representantes de Sangguniang Bayan. Desenhou-se um mapa mostrando a localização das atividades das agências na zona. Durante a reunião foi elaborado um plano operativo detalhado e os participantes estabeleceram uma determinada data para a implantação de atividades claramente definidas.

Mapa 1: Localização dos serviços em relação ao povoado (Filipinas)

Mapa 1

Elegendo a comunidade

Se o agente de desenvolvimento já trabalha em uma ou mais comunidades, provavelmente o processo de seleção limitarse-à a determinar com qual das comunidades iniciar o diálogo sobre alimentação e nutrição. No entanto, em alguns casos os agentes de desenvolvimento terão de decidir ou ajudar a decidir em qual delas promover o projeto participativo.

Vários fatores podem contribuir para tomar esta decisão, sendo um deles a maneira como tanto os membros de comunidade como as pessoas de fora percebem as necessidades alimentares e nutricionais da comunidade. Em alguns casos a comunidade estará consciente destas necessidades o que pode ser um fator de motivação para que pessoas ou grupos venham solicitar, formal ou informalmente, medidas relacionadas com a nutrição. Neste caso, o processo participativo se torna mais fácil.

Freqüentemente esta consciência não existe. No entanto as necessidades podem ter sido identificadas por pessoas externas à comunidade, com base em dados nutricionais, tais como desnutrição aguda ou crônica, deficiência de micronutrientes, dados relacionados com a saúde (indices elevados de mortalidade infantil, etc.), ou com o conhecimento sobre uma situação real de crise que esteja afetando a disponibilidade de alimentos, por exemplo, uma seca, pressão demográfica ou problemas econômicos maiores.

O agente de desenvolvimento também deve levar em consideração a receptividade da comunidade a um projeto participativo. É mais difícil promover um enfoque participativo em comunidades onde hajam se desenvolvido atividades do tipo assistencialista. As comunidades pequenas ou isoladas que tenham recebido pouco ou nenhum apoio externo tendem a ser mais receptivas.

Nesta etapa, concentrar-se num grupo de comunidades numa dada área, em vez de numa só comunidade, permitirá major flexibilidade. Se uma comunidade não mostra especial interesse no projeto, podese eleger outra em seu lugar.

Quadro 2: Identificando e Elegendo Comunidades Empobrecidas: Sri Lanka
Num projeto de participação popular em Sri Lanka, o coordenador pediu as autoridades locais preencher um formulário impresso para cada aldeia, com o numero de beneficiários de cartões para alimentos, a superfície total de roçados ou terras altas disponíveis, o número de cabeças de gado e os padrões de existência e disponibilidade de água para irrigação. Também se solicitou fazer um rascunho indicando a localização da aldeia e seus elementos chave, tais como os principais postos de serviços e vias de acesso.
Depois de recebida a informação a nivel da divisão, as aldeias foram escolhidas por um secretário e outros funcionários como os extensionistas e o pessoal de saúde, com base na escassez de recursos da comunidade e seu isolamento. Entre as comunidades escolhidas, identificaram-se grupos de 5 a 6 aldeias vizinhas como a área do projeto.
Uma das vantagens principais desse método, além de assegurar a relação das aldeias mais pobres, foi a participação do pessoal administrativo da divisão desde o início. Desta forma se contribuiu para uma cooperação efetiva entre o projeto a secretaria da divisão e seu pessoal. Conseguiu-se, também, o desenvolvimento e fortalecimento dos vínculos formais entre a secretaria e os níveis institucionais mais elevados. Estes foram aspectos decisivos para a manutenção do projeto.

Desenvolvendo ou fortalecendo as relações e o diálogo com a comunidade

O diálogo entre o agente de desenvolvimento e a comunidade é a base de um projeto participativo de nutrição. Mediante o diálogo, cada um contribuirá para uma melhor compreensão dos problemas alimentares e nutricionais. Com o avanço do projeto, tanto a compreensão dos problemas como a perspectiva que se tem deles evoluem e amadurecem.

Como pode o agente de desenvolvimento iniciar ou fortalecer as relações com a comunidade? Se conhece bem a comunidade, um bom ponto de partida seriam as relações existentes. Conviria também envolver desde o princípio os lideres comunitários e as pessoas com função formal (lideres tradicionais, velhos legitimados pela hierarquia, mestres, autoridades religiosas, lideres de grupos femininos, representantes de organizações populares). Estas pessoas são a chave para a comunicação com outros membros da comunidade: podem trazer informações e sugestões úteis, assim como ajudar o agente de desenvolvimento a estabelecer outros contatos. Ademais, o apoio dos lideres comunitários proporciona credibilidade ao projeto e assegura seu êxito e sustentação.

Através desses contatos iniciais, pode-se identificar os temas que melhor servirão para despertar o interesse de uma parte significativa da comunidade e motivar as pessoas já interessadas.

Uma vez que se tenham estabelecido os contatos e identificado os temas principais, seria aconselhável convocar uma reunião geral com a comunidade. Se toda a comunidade reune-se regularmente ou já se encontra reunida com outro propósito, se aproveitariam estas ocasiões; se não é assim, se solicitaria aos lideres comunitários convocar uma reunião especial. A primeira reunião é o momento indicado para introduzir o agente de desenvolvimento e os problemas alimentares e nutricionais. Nos dias seguintes ou durante a próxima visita do agente de desenvolvimento se continuaria o diálogo com indivíduos ou pequenos grupos.

Nestas discussões deve-se ter o cuidado de não ocasionar mal entendidos ou expectativas irreais. A comunidade deve estar consciente, desde o início, das intenções do agente de desenvolvimento e dos recursos com os quais conta (p. ex. tempo e dinheiro).

É importante fomentan a participação do maior número possível de pessoas no diálogo. Conhecendo o programa diário de atividades dos diferentes grupos comunitários, tanto dos homens quanto das mulheres, jovens e adultos, pode-se conjuntamente, planejar as horas mais convenientes para visitas e reuniões. Possivelmente talvez seja necessário fazer outros arranjos para possibilitar a presença de certos membros da comunidade. Por exemplo, as mulheres talvez precisem de alguém para ficar com os filhos. Qualquer arranjo teria que ser também discutido com a comunidade.

Normalmente, a participação das mulheres é um fator decisivo para iniciar um processo participativo em nutrição, pela importância do papel que tem dentro da família em relação à alimentação e nutrição. Na maioria dos países são as mulheres as responsáveis pelas atividades relacionadas com alimentação: a produção, colheita, processamento e armazenamento, aquisição e distribuição de alimentos, assim como o consumo intrafamiliar. Usualmente são elas que mais se preocupam com a segurança alimentar ou seja assegurar durante todo o ano uma quantidade suficiente de alimentos para a família.

As famílias e indivíduos que mais necessitam de ajuda geralmente não são consultados nem participam do processo de decisões dentro da comunidade, o que os isola ainda mais das oportunidades de desenvolvimento. Outros grupos, os jovens por exemplo, freqüentemente são excluídos. Deve-se em principio identificar estes grupos e promover ativamente sua participação.

Quando se sabe em que comunidade se pensa promover o projeto, os trabalhadores começarão a coletar informações sobre as organizações formais e informais dentro da comunidade, assim como seus vínculos com as organizações externas. Pode-se averiguar se existem trabalhadores comunitários capacitados, como de saúde por exemplo, e tentar conseguir informações sobre atividades anteriores de desenvolvimento na comunidade, se foram bem sucedidas ou não, e as razões para isto.

Se aparece a necessidade de visualizar a interação das instituições externas com a comunidade em sua totalidade e com seus diferentes grupos, pode-se pedir à comunidade que prepare um diagrama, como o da figura 2. Este método chamado “Diagrama de Venn”, consiste numa série de círculos de diferentes tamanhos, o major representando a comunidade e cada círculo, dentro ou fora deste, um indivíduo, grupo ou instituição. O tamanho de cada círculo indica sua importância; a superposição entre eles, o grau de interação. A construção deste tipo de diagrama com os grupos permite discutir os problemas que existem e as oportunidades para proporcionar assistência à comunidade. O diagrama também pode contribuir para avaliar a eficiência dos serviços, comparando seu conteúdo com o inventário anteriormente preparado sobre os serviços postos à disposição da comunidade.

Quadro 2 - Diagrama Venn mostrando a situação entre as instituições externas e a comunidade (lkolomani Quênia)

Quadro 2

Possíveis Problemas

-   As vezes os agentes de desenvolvimento utilizam ao falar de problemas nutricionais termos ou conceitos técnicos que a comunidade não entende, por exemplo: “Kwashiorkor”, vitaminas, proteínas. Este obstáculo de comunicação será evitado usando termos compreensíveis que também possam ser traduzidos para os idiomas locais.
-   Certos grupos dentro da comunidade talvez se sintam ameaçados pelo processo participativo de nutrição ou seus resultados, o que poderia levar a um questionamento quanto à alocação de recursos e à estrutura do poder dentro da comunidade. Pode-se atenuar estes temores tomando consciência do problema e melhorando o intercâmbio de informação através do processo participativo.

Estimulando o interesse da comunidade por alimentação e nutrição

Uma vez que a alimentação e nutrição são preocupações principais, em alguns casos a comunidade responderá imediatamente, particularmente se de forma regular e progressiva enfrenta problemas de escassez de alimentos. Em muitos casos, no entanto, o agente de desenvolvimento pode encontrar uma manifesta falta de interesse. Possivelmente os membros da comunidade não compartilham com suas perspectivas sobre os problemas alimentares e nutricionais, nem relacionam estes aspectos com a melhoria da situação. Poderiam, inclusive, considerar que o interesse de um estranho é uma perda de tempo. Em tais casos, os esforços do agente de desenvolvimento podem ser prejudicados.

Como pode o agente de desenvolvimento vencer esta falta de interesse e conseguir que as coisas caminhem? Uma estratégia bem sucedida é a que foi adotada num projeto participativo de nutrição no México. Neste projeto, os agentes de desenvolvimento iniciaram atividades em pequena escala para estimular e consolidar os interesses da comunidade sobre alimentação e nutrição, demonstrando assim sua disposição para apoiar ações mais concretas após a fase inicial.

Quadro 3 - Iniciando o diálogo com a comunidade (México)
Num projeto participativo de nutrição no México, os trabalhadores para o desenvolvimento enfrentaram dificuldades ao tentar estabelecer um diálogo com a comunidade selecionada. Mesmo que a população apresentasse sinais de desnutrição crônica não estava consciente da existência de nenhum problema nutricional. Depois de explorar diferentes tentativas para despertar interesse sobre os problemas alimentares e nutricionais, o pessoal do projeto percebeu que o modo mais prático era introduzir novas formas de preparação de alimentos a fim de atenuar a monotonia da dieta diária. Algumas comunidades se organizaram para pagar uma pessoa que ensinasse novas receitas. Como esses pratos eram preparados com alimentos locais foi possível discutir as vantagens e dificuldades na produção de alimentos. As demonstrações culinárias, portanto, proporcionaram uma oportunidade para debater os problemas relacionados com a nutrição.

QUADRO 4: Atividades alimentares e nutricionais (Quênia)
No distrito de Kakamega, no Quênia, as famílias dependem principalmente do milho para subsistência. A pressão demográfica levou a uma superexploração dos terrenos, cada vez mais escassos, a uma produção per capita de milho insuficiente e a problemas de abastecimento alimentar. Tentando melhorar a situação alimentar e nutricional os camponeses solicitaram ao agente de desenvolvimento apoio para aumentar a produção de milho. Foram estabelecidas parcelas de demonstração utilizando milho híbrido e uma tecnologia que exigia comparativamente, elevados custos em insumos. Das discussões posteriores sobre o melhor uso dos recursos existentes, surgiu um debate sobre os usos alternativos dos solos. Progressivamente, a produção agrícola foi sendo orientada para a produção agroflorestal e a horticultura, aplicando-se uma tecnologia bio-intensiva. Conseguiu-se, desse modo, uma base alimentar mais diversificada, bem como geração de renda para compra de milho.

Algumas vezes as próprias comunidades solicitam atividades, como demonstrações sobre a produção agrícola ou preparação de alimentos as quais poderiam parecer não apropriadas ao trabalhador. No entanto, estas atividades podem proporcionar a oportunidade de se reunir para discutir assuntos do tipo alimentar e nutricional. Também se podem utilizar as atividades rotineiras para coleta de dados como uma ocasião para iniciar discussões e conduzir as famílias a questionar seus hábitos alimentares.

QUADRO 5: Utilizando o monitoramento do crescimento para iniciar discussões (Tanzânia)
Num projeto apoiado pelo UNICEF em lringa, Tanzânia, o uso generalizado dos cartões para o seguimento do crescimento de crianças menores de 5 anos proporcionou um ponto de partida para que os Comitês de Saúde Comunitária discutissem os problemas alimentares e nutricionais de famílias com uma ou mais crianças desnutridas. Isto levou à identificação e implementação de atividades comunitárias ou familiares, tais como hortas caseiras, promoção de cultivos resistentes à seca, capacitação agro-florestal, promoção de atividades para geração de renda, organização de creches, treinamento em processamento, conservação ou melhor preparação de alimentos.

Atividades de comunicação como teatro popular, uso de vídeos e programas rurais por rádio, são formas de educação participativa que além de servir como uma distração das tarefas rotineiras, também proporcionam oportunidades para reunir-se. Para explorar as possibilidades de cooperação, o agente poderá tratar de identificar as instituições que, na zona ou no país, tenham experiência com comunicação e os recursos necessários para desenvolver esse tipo de atividades. A comunicação para o desenvolvimento será útil ao longo da evolução do projeto participativo de nutrição.


Passos da fase preparatória

1. Coletar e revisar a informação preliminar:

2. Estabelecer ou reforçar vínculos com outras instituições locais para o desenvolvimento:

3. Eleger a comunidade

4. Iniciar um diálogo com a comunidade sobre alimentação e nutrição

5. Estimular interesse sobre aspectos alimentares e nutricionais


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