FAO in Mozambique

Escola na Machamba do Camponês apoiada pela FAO na Província de Manica dá início ao 2º ciclo de poupança, depois de ter juntado cerca de 100.000 meticais no 1º

O grupo da Escola na Machamba do Camponês faz a contagem das poupanças obtidas
15/02/2019

É novamente sexta-feira, 7 horas da manhã, e Emília Manuel está sentada na esteira que desenrolou sobre a eira da Escola na Machamba do Camponês (EMC), da qual é vice-presidente e facilitadora.

Ao fim de uma semana de intervalo, hoje começa o segundo ciclo de crédito e poupança da Kulima Kakanaka, a sua EMC. Ao longo dos últimos seis meses, sexta-feira era o dia por que ela e os outros membros da Escola (mais 19 mulheres e 5 homens) ansiavam: é que além das actividades na machamba conjunta da EMC, situada no Povoado de Nhamuenga, Distrito de Gondola, Província de Manica, este era o dia de poupar – pelo menos, 50 meticais por membro por semana, como montante mínimo da acção estabelecido pelo grupo, no máximo, 250. Quando distribuíram as poupanças do primeiro ciclo no passado dia 8 de Fevereiro, contaram 98.255 meticais, em contribuições dos membros, juros e multas.

Emília Manuel conta que, no primeiro ciclo, contribuiu, no total, com 6.000 meticais, no encerramento recebeu mais de 8.000. Com o dinheiro, diz, pagou a mensalidade da faculdade da filha mais nova e o material escolar, roupa para ela e os dois irmãos. O restante deixou "para qualquer dia ir tomar um refresco". Sobretudo as mulheres, afirma, saem fortalecidas: "vêm em massa, muito, muito, muito", conta. "Aproveitam muito bem o dinheiro, a ideia delas é multiplicar o valor." E lembra uma camponesa, membro do grupo, que antes do primeiro ciclo não tinha possibilidade de iniciar qualquer negócio por falta de fundos, na semana passada, com o dinheiro que levantou de poupança, comprou bananas na comunidade, foi vender na Cidade da Beira e voltou com lucro. Mas o empoderamento da mulher vai além de questões financeiras: a comissão de gestão do grupo da Kulima Kakanaka é formada por 3 mulheres (e 2 homens), incluindo a presidente do grupo.

A EMC de Emília Manuel pertence à rede já estabelecida de EMCs, nas quais se baseia o projecto "Fortalecimento das capacidades dos produtores agrários para gerir o impacto das mudanças climáticas no sentido de aumentar a segurança alimentar através da abordagem da Escola na Machamba do Camponês", financiado pelo Fundo Global para o Ambiente (GEF, na sigla em inglês) e implementado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), em apoio ao Governo de Moçambique.

"De forma a diversificar as medidas de adaptação às mudanças climáticas (AMC), olhando além das práticas agrícolas, a FAO fez levantamentos dos riscos de vulnerabilidade causados pelas mudanças climáticas nas EMCs onde está presente", explica o coordenador do projecto na Província de Manica, Roide Tores. "Com a informação que recolhemos, debruçámo-nos sobre esta necessidade de diversificação no sentido de melhorar a estabilidade financeira das EMCs", continua Tores. "Assim, garantimos aos membros o acesso a serviços de micro‑finanças informais para que possam iniciar outras actividades de geração de rendimento."

A Kulima Kakanaka é uma de quatro EMCs na província com grupos de crédito e poupança treinados por organizações comunitárias de base (OCBs) especializadas em educação financeira que a FAO apoiou financeiramente. Nas formações, os grupos aprenderam como criar uma Associação Comunitária de Crédito e Poupança (ACP), como elaborar o seu estatuto e como funcionam o crédito e a poupança neste tipo de associações.

O especialista em criação de grupos de ACPs e oficial de fortalecimento económico da Associação Kubatsirana, Idélito Joaquim Musserife, foi um dos formadores do grupo de poupança de Emília. "Como os membros são empoderados financeiramente, porque os lucros são altos e, com eles, têm a possibilidade de planificar e concretizar sonhos, há muita procura deste tipo de serviços."

Além disso, os técnicos, tanto das OCBs locais como dos Serviços Distritais de Actividades Económicas (SDAEs) que acompanham as sessões de crédito e poupança, incentivam o espírito de confiança e coesão entre os membros: "É notável a união entre eles, mesmo nas actividades da EMC, na planificação conjunta", confirma o técnico de extensão agrária do SDAE de Gondola, Adolfo António. "Todos trabalham por um objectivo comum, há entreajuda."

Entretanto, os últimos membros chegam. As mulheres trazem enroladas as capulanas que compraram para o grupo, os homens mandaram fazer camisas com o tecido colorido. O tesoureiro tem a caixa do dinheiro e todos irão contribuir.