FAO e Governo Brasileiro iniciam fase de campo de projeto inovador para a aquicultura de pequena escala

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), em parceria com a Secretaria Nacional de Aquicultura (SNA) do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), realizaram hoje, em Brasília, a cerimônia de lançamento da fase de campo de um programa voltado para o desenvolvimento da aquicultura no país. O projeto busca promover a inovação tecnológica e organizacional para pequenos produtores aquícolas nas regiões Norte e Nordeste.
Entre as principais ações da iniciativa está o desenvolvimento de uma ferramenta digital que oferecerá diagnósticos personalizados e planos de ação para aquicultores de pequena escala. A partir dessa plataforma, extensionistas, oferecidos pelo Sebrae, apoiarão os produtores na implementação de estratégias que aumentem a produtividade e a rentabilidade. Associações e cooperativas também serão capacitadas, para aprimorar suas capacidades técnicas e gerenciais.
O Representante da FAO no Brasil, Jorge Meza, lembrou que a aquicultura continental já superou em volume a produção e pesca marítima e que o Brasil ainda tem muito a crescer nessa área. “Pequenos produtores aquícolas precisam ser fortalecidos, pois eles fortalecem o país, e essa iniciativa tem enorme potencial para isso, especialmente trabalhando ao lado de parceiros como os que estão aqui hoje. Uma das palavras chaves do projeto é inovação e, para isso, articulação é essencial”, destacou.
O ministro André de Paula também destacou o esforço coletivo realizado para o desenvolvimento do programa e ressaltou o alinhamento com os compromissos do ministério. “Esse projeto tem um conjunto de valores muito caros ao governo do presidente Lula. Nos ajuda no combate à fome e na segurança alimentar e tem como objetivo fortalecer o pequeno produtor, viabilizar sua atividade econômica, assegurar o seu retorno e permitir o avanço na sua produção”, sublinhou.
Implementação
O programa vai a campo a partir de janeiro, no estado de Alagoas, e terá uma duração de curto-prazo. “Serve como um catalisador para uma nova fase, para que esse projeto e essa iniciativa se repitam em outras regiões, em outros estados do Brasil”, explicou Giselle Duarte, coordenadora do projeto na FAO. Segundo ela, a ideia é fortalecer o cooperativismo e o associativismo no Nordeste, tendo como referência as experiências do Sul do país, já bastante consolidadas.
Felipe Matias, consultor da FAO para o projeto, explica que metade da produção da aquicultura brasileira é de pequenos e médios produtores, que produzem e comercializam de forma independente, enfrentando altos custos, “especialmente desde a pandemia, quando se viram obrigados a reduzir a produção”. Por isso, a chave da iniciativa é trabalhar com inovação para redução de custos.
Nesse sentido, a grande novidade para os produtores será a assistência técnica digital. “Não é o pequeno produtor que vai ter que se digitalizar, é o extensionista que tem que ser treinado para isso e deve manter o contato com o produtor. Repassar é a missão do extensionista”, destaca Matias.
Aquicultura no mundo
Os sistemas aquáticos têm sido cada vez mais reconhecidos por contribuírem para a segurança alimentar e a nutrição, aliviar a pobreza e impulsionar o desenvolvimento socioeconômico, enquanto mantêm um baixo impacto ambiental. Mais baratos e acessíveis, as proteínas de origem aquática tendem a ser mais consumidas em países de menor renda relativa e são fontes de nutrientes essenciais.
Tendo em vista os benefícios desses alimentos, seu cultivo tem sido ampliado. Em 2022, pela primeira vez, a aquicultura superou a pesca extrativa na produção de animais aquáticos, com 94,4 milhões de toneladas, representando 51% do total mundial, segundo dados do relatório “Estado da pesca e aquicultura”, da FAO.
A produção da aquicultura já superou a da pesca extrativa em vários países há anos, especialmente nos principais produtores, como China, Índia, Vietnã e Bangladesh. Contudo, a aquicultura continua sendo dominada por um pequeno número de países. A Ásia concentra quase 90% da produção total, e muitos países ainda não exploram todo o seu potencial. As Américas, segunda maior região produtora, fornece apenas 5,2% do total global.
Em 2022, o Brasil produziu 738 mil toneladas de animais aquáticos por meio da aquicultura, representando 14,9% da produção das Américas. Esse número reflete um crescimento notável desde o ano 2000, quando o país produzia apenas 172 mil toneladas. Com essa expansão, hoje o país ocupa a 13ª posição global na produção de aquicultura de animais aquáticos e a 9ª posição em crustáceos.
Melhorias nas avaliações de estoques, dados socioeconômicos e técnicos revisados e inovações digitais, como as propostas pelo projeto no Brasil, fornecem informações mais precisas e fortalecem a “Transformação Azul em ação”. Dados e análises aprimorados informam os debates globais de políticas e orientam as iniciativas da FAO para uma gestão eficaz da pesca e da aquicultura em níveis nacional, regional e global.
Fotos: https://flic.kr/s/aHBqjBViX6