No universo da agricultura e pesca familiares, diversas atividades são realizadas até que o alimento chegue à mesa do consumidor. Dentro desse conjunto de atividades, as que são realizadas pelas mulheres, que em geral irão exigir menos contato com o consumidor final, são pouco reconhecidas e valorizadas. Na maioria das vezes, esse trabalho é visto como extensão dos seus afazeres domésticos, do seu papel de mãe/esposa/dona de casa ou como “ajuda” ao trabalho (de fato, digno de remuneração) do homem. Dessa forma, embora tenha grande participação na produção, o trabalho das mulheres ainda tem pouca visibilidade nas estatísticas oficiais, sendo muitas vezes não consideradas na elaboração das políticas públicas. 

O Censo Agropecuário de 2017 aponta que as mulheres representam 47% da população rural, mas são consideradas responsáveis por apenas 14% das propriedades no Espírito Santo. Isso se deve ao reconhecimento do homem como “chefe da família”, tanto pela sociedade quanto pelas instituições. A inclusão das mulheres em políticas públicas e a igualdade de gênero estão previstas como objetivo de desenvolvimento sustentável da ONU. O Plano Estadual de Políticas para as Mulheres do Estado também traz como desafio para o setor da agricultura o enfrentamento à feminização da pobreza e a garantia da autonomia econômica das mulheres com trabalhos decentes, além de prever apoio às ações de fortalecimento de empreendimentos produtivos de grupos de mulheres, comercialização e cooperativismo.

Dentre os principais objetivos do projeto “Elas no campo e na pesca”, destacou--se o de promoção da visibilidade feminina. Como um dos instrumentos para alcançar esse objetivo, foi proposta a elaboração de um livro retratando experiências de vida, superação e liderança femininas no setor.