FAO no Brasil

FAO e o Brasil realizaram a primeira pesquisa regional sobre as mulheres rurais artesãs da cadeia do algodão

©FAO/Max Toranzos
01/11/2023

Mais da metade das mulheres artesãs neste setor são chefes de família. As necessidades de inovação em técnicas artesanais e mercados foram identificadas.

Santiago, Chile – Uma pesquisa regional com cerca de 200 mulheres artesãs que trabalham na cadeia de valor do algodão na América do Sul teve como objetivo identificar a situação destas mulheres, seus papéis, obstáculos e desafios na atividade artesanal, especialmente no setor algodoeiro. Entre os resultados sociodemográficos, destaca-se que 55% das mulheres que responderam à pesquisa são chefes de família, demonstrando seu papel crucial no sustento de suas famílias. Além disso, em termos de acesso à tecnologia, os dados coletados destacaram a importância dos dispositivos móveis, com 82% das entrevistadas tendo acesso a telefones celulares na região.

A pesquisa foi realizada como parte da estratégia de gênero do projeto +Algodão e em apoio à Rede Latino-Americana de Mulheres do Algodão. Além disso, a pesquisa faz parte de uma etapa de diagnóstico da iniciativa "Laboratórios de Inovação", implementada pelo projeto em colaboração com o Instituto Paraguaio de Artesanato (IPA) e o Centro de Inovação Tecnológica Turística Artesanal Sipán (CITE Sipán do Peru), com apoio técnico da Secretaria Nacional de Economia Popular e Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego (SENAES/MTE) do Brasil e da Empresa de Assistência Técnica de Extensão Rural (Emater) de Minas Gerais/Brasil, entre outros parceiros.

O projeto +Algodão é uma iniciativa de cooperação Sul-Sul realizada há 10 anos pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e pela Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores (ABC/MRE), em parceria com sete países: Argentina, Bolívia, Colômbia, Haiti, Equador, Paraguai e Peru.

Preservação da cultura e transmissão entre gerações

De acordo com a pesquisa, 44% das artesãs na região pertencem a uma etnia, destacando a importância dos povos indígenas na preservação da cultura da arte tradicional. Quanto aos desafios relacionados à continuidade geracional, foi observada uma falta de renovação. A pesquisa enfatizou a experiência e a transmissão de conhecimentos, onde 45% das mulheres artesãs do algodão têm 21 anos ou mais de experiência como artesãs, e 72% delas atualmente ensinam a atividade artesanal.

Foi observada a predominância de níveis educacionais primários e secundários. Apenas 41% têm apenas o ensino fundamental, 29% das mulheres têm o ensino médio e apenas 12% chegaram à universidade.

Em relação à produção e processamento do algodão, apenas 37% das artesãs cultivam algodão e 62% produzem o fio com a fibra.

Em termos de mercados e comercialização da produção artesanal, o estudo identificou os canais pelos quais as artesãs da região da América Latina e do Caribe comercializam suas artesanias, com 68% em feiras locais, 64% com familiares e 63% com amigos, destacando desafios no desenvolvimento de planos de negócios e na construção de relacionamentos com os clientes.

De acordo com Ingrid Zabaleta, assistente executiva do projeto +Algodão, as informações coletadas servirão para que a FAO e a ABC, no contexto das ações de gênero do projeto, possam desenvolver iniciativas para fortalecer as capacidades das mulheres rurais artesãs na cadeia de produção de algodão, bem como para a implementação de metodologias de design e inovação de produtos, por meio do apoio à melhoria de técnicas.

Durante dois meses e meio, de abril a junho de 2023, a pesquisa online esteve aberta para a participação das artesãs da região. Organizada em sete seções, abordou temas fundamentais, incluindo acesso a tecnologias de comunicação e informação, participação na cadeia de valor do algodão, desenvolvimento de capacidades, associação e acesso à financiamento, igualdade e empoderamento das mulheres, bem como o enfoque de gênero nas instituições relacionadas ao algodão.

Webinar

Os resultados da pesquisa foram apresentados em 26 de outubro durante o webinar "Papéis, Desafios e Oportunidades das Mulheres Artesãs do Algodão na América Latina e no Caribe", organizado pelo projeto +Algodão e pela Rede Latino-Americana de Mulheres do Algodão.

Na abertura do evento virtual, Claudia Brito, Oficial de Gênero do escritório regional da FAO, fez um apelo para continuar o trabalho conjunto visando o empoderamento das mulheres. Ela afirmou que os resultados da pesquisa são uma oportunidade e inspiração para novas ações em prol dos direitos das mulheres rurais. Adriana Gregolin, coordenadora regional do projeto +Algodão, também destacou a importância das descobertas da pesquisa para o desenvolvimento de iniciativas conjuntas. Gregolin lembrou que há 10 anos, o primeiro estudo realizado pelo projeto foi a publicação "Mulheres do Algodão", que apresentou um mapeamento dos papéis das mulheres algodoeiras em cinco países (Argentina, Bolívia, Colômbia, Paraguai e Peru), identificando as áreas de empoderamento e falta de empoderamento que afetam, em maior ou menor medida, sua participação neste importante setor.

No encerramento, João Clementino, analista de projetos da ABC/MRE, enfatizou o papel fundamental das mulheres rurais na geração de renda e ressaltou a importância de pensar como a moda sustentável pode encontrar sinergias e agregar valor para estas mulheres.