FAO no Brasil

Melhora a qualidade do emprego para os jovens rurais da América Latina

05/05/2016

Porém, para a maioria os trabalhos apresentam mais riscos, são mais precários, recebem salários menores e são menos afiliados à segurança social em comparação com os adultos

Santiago – Para o conjunto de áreas rurais da América Latina é possível ver uma melhora no emprego rural juvenil nas últimas décadas, aponta um novo estudo da FAO.

A pesquisa, Juventude rural e emprego decente na América Latina, explica que essa tendência se deve a uma importante diminuição do emprego infantil, uma queda de 20% na última década dos jovens rurais ocupados no setor agrícola, e um aumento semelhante dos ocupados no emprego rural não agrícola.

Graças ao aumento do emprego assalariado formal, atualmente existe um setor de jovens que tem maior cobertura social, maior renda e em geral melhores condições de trabalho que a grande massa da população rural.

Porém, apesar dessa relativa melhora, ainda menos da metade dos jovens tem um trabalho decente desde o ponto de vista de renda, e a maior parte sofre de uma excessiva carga horária.

Isso se deve que para o mesmo tipo de trabalho, a grande massa dos jovens rurais trabalha em piores condições que os adultos. Os trabalhos apresentam mais riscos, são mais precários, recebem menor salário e tem uma menos afiliação a segurança social.

“Os dados mostram que em muitos países da América Latina o trabalho decente ainda está muito longe para uma grande maioria da população jovem rural”, disse Martin Dirven, responsável pelo estudo.

Quem são os jovens que trabalham

Atualmente, quase 40 milhões de jovens entre 15 e 29 anos moram em áreas rurais nos 20 países da América Latina.

Desses, a maior parte – 11,9 milhões – são inativos, cerca de 9,6 milhões trabalham no setor agrícola e 8,2 milhões exercem atividades não agrícolas.

De acordo com o estudo, entre os jovens inativos, a maior parte são mulheres. Nas áreas rurais há uma proporção significativa de jovens que não estudam e não trabalham, o que enfraquece a trajetória laboral e o acesso a segurança social. Os jovens representam 58,1% dos inativos rurais, o que equivale a aproximadamente 6,7 milhões de jovens na região.

Dos que trabalham na agricultura, a maior parte são homens e assalariados. A proporção entre homens e mulheres jovens que trabalham em atividades não agrícolas é mais semelhante. No emprego não agrícola a maior parte dos jovens também é assalariada.

Estima-se que não mais de 25% da população rural ocupada está afiliada a segurança social, e entre os jovens a sindicalização costuma ser mais baixa que entre os adultos.

Atores do desenvolvimento e não pobres vulneráveis

Grande parte das políticas públicas da América Latina tratam os jovens rurais e indígenas como grupos vulneráveis em vez de enxerga-los como potenciais atores de desenvolvimento em suas comunidades.

“Vê-los como pobres e vulneráveis produz danos em sua autopercepção, baixa valorização de riquezas e círculos viciosos”, apontou Dirven.

Segundo a FAO, quando há um entorno favorável e de apoio, muitos jovens encontram caminhos inovadores para criar um futuro para eles mesmos e contribuir para suas comunidades e sociedades.

Segundo o estudo da FAO, é urgente avançar na tomada de decisões compartilhadas e co-executadas.

Aumento do emprego não agrícola

“A agricultura segue sendo a principal fonte de renda para a juventude rural na América Latina e Caribe – afirmou Martin Dirven – mas isso está mudando rapidamente”.

O emprego rural não agrícola está se torando cada vez mais importante. Segundo o estudo da FAO, em 2016 deveria haver mais jovens rurais trabalhando nesse tipo de empregos que no setor agrícola.

A queda no emprego agrícola se explica pela forte baixa (de um terço) daqueles que trabalham como “familiares não remunerados” e de uma redução de 20% no número de assalariados agrícolas.

A porcentagem de assalariados rurais não agrícolas com contrato tende a duplicar ao dos assalariados agrícolas com contrato, com diferenças importantes entre os países. Isso é importante, já que vários critérios do “emprego decente” tem uma maior probabilidade de ser cumpridos quando se tem um contrato formal.

Emprego infantil reduz na região

Na América Latina, do total de 38,4 milhões de crianças rurais menores de 15 anos, mais de 2,1 milhões trabalham em alguma atividade econômica.

Essas crianças rurais, junto com as mais de 200 mil crianças com residência urbana que trabalham no setor agrícola, representam a mais de 60% do total de crianças “ocupadas” na região.

Uma parte importante do trabalho infantil é invisível porque a maioria das crianças é, ou trabalhadoras domésticas, sobretudo as meninas, ou trabalhadoras familiares não remuneradas em pequenas propriedades rurais, agrícolas ou de outros setores econômicos. Outras trabalham em empresas grandes ou inclusive em atividades ilícitas.

Segundo a FAO, apesar da tendência ter sido uma redução importante nos últimos anos, erradicar o trabalho infantil ainda é um desafio pendente para a América Latina.