FAO in Portugal

Alterações climáticas colocam milhões de pessoas no ciclo vicioso de insegurança alimentar, desnutrição e pobreza

17/11/2017

Lisboa – A Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP 23) decorreu entre os dias 6 e 17 de novembro em Bona, na Alemanha. O Diretor-Geral da FAO, José Graziano da Silva alertou para a importância de adotar formas sustentáveis ​​e inteligentes face ao clima de produzir, transportar, processar e consumir alimentos, uma vez que as emissões de gases com efeitos de estufa dos setores agrícolas representam um contributo importante para as alterações climáticas, com pelo menos um quinto da emissão total destes gases atribuído aos setores agrícolas. Graziano da Silva referiu que "não basta apenas transformar a maneira como produzimos alimentos. A mitigação e a adaptação às alterações climáticas devem ser integradas em todo o sistema alimentar: da produção ao transporte, do processamento ao consumo de alimentos e nas áreas rurais e urbanas".

O Diretor-Geral da FAO ressalvou que "as alterações climáticas colocam milhões de pessoas num ciclo vicioso de insegurança alimentar, desnutrição e pobreza", afirmando que "devemos enfrentar a dura realidade: não estamos a fazer o suficiente para lidar com essa imensa ameaça" e chamando a atenção para a particular vulnerabilidade relativamente às alterações climáticas dos países menos desenvolvidos como os Pequenos Estados Insulares em desenvolvimento. Graziano da Silva considera que, apesar dos desafios futuros, alcançar a Fome Zero até 2030 ainda é possível e acredita que "a agricultura é onde a luta contra a fome e as alterações climáticas se unem para desbloquear soluções".

A FAO anunciou recentemente, através da publicação do relatório de 2017 sobre o Estado da Segurança Alimentar e da Nutrição no Mundo (SOFI, sigla em inglês), que o número de pessoas subnutridas aumentou pela primeira vez novamente numa década, com 815 milhões de pessoas diariamente em situação de fome. Esse aumento deve-se principalmente a conflitos e crises económicas, mas também ao impacto das alterações climáticas, em particular as secas prolongadas em África. O Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas estima que as alterações climáticas podem aumentar o risco de fome e desnutrição em 20% até 2050. Os sistemas alimentares e a agricultura representam um papel fundamental, sendo fortemente afetados pelas alterações climáticas e, ao mesmo tempo, também os principais impulsionadores destas.

O Diretor-Geral da FAO acredita que ainda existe muito mais a ser feito para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa e, ao mesmo tempo, melhorar os rendimentos e construir resiliência e explicou que para isso é necessário adotar abordagens como a agroecologia e a intensificação sustentável e inteligente face ao clima, enunciando algumas das soluções conhecidas para enfrentar a fome, a pobreza e a sustentabilidade, como a restauração de terras e florestas, a redução da desflorestação, a eliminação do desperdício de alimentos, o reforço do sequestro de carbono do solo e a produção pecuária com baixa emissão de carbono, entre outras.

O trabalho da FAO inclui apoiar os países na melhoria sustentável dos seus setores agrícolas; na adaptação e na construção da resiliência e na mitigação do aquecimento global através da agricultura. A FAO também ajuda os países a monitorizar as suas contribuições determinadas a nível nacional em termos de alterações climáticas e fornece o apoio técnico e financeiro necessário para tornar esses compromissos em realidade.

Na COP23, a FAO lançou um novo relatório de Acompanhamento da Adaptação em Setores Agrícolas que fornece uma estrutura e metodologia para apoiar a monitorização das medidas de adaptação às alterações climáticas nos setores agrícolas.

 

Foto: ©FAO/ Herman Chege