FAO no Brasil

Mulheres trabalham para fortalecer e ampliar a produção rural em territórios quilombolas

13/10/2020

Na Associação dos Trabalhadores Rurais Quilombola João Pereira Gomes, Município de Itaguaçu da Bahia, vive a Agricultora familiar e Presidenta da referida Associação, Marilza Pereira Gomes. A comunidade tem o certificado da Fundação Palmares desde 2005, e este foi o primeiro passo para a construção do novo marco e nova história do Quilombo que buscou a inserção no mercado produtivo local e estadual para melhorar a vida dos quilombolas do Pereira.

Em 2016, em uma Feira Baiana da Agricultura Familiar, Economia Solidária e Reforma Agrária em Salvador, Marilza teve contato com uma grande solenidade de entrega dos Selos Quilombolas. “Logo me interessei em solicitar um para o quilombo do Pereira”, lembra. Não demorou muito para o reconhecimento chegar. No seguinte, em 2017, 18 Comunidades Quilombolas do Território de Irecê, na Bahia, participaram de uma exposição no município, que ficou marcada pela entrega dos Selos.

“Foi uma grande satisfação para a comunidade realizar essa solenidade. Um orgulho local. Na semana da entrega do selo percebi que comercializamos pela primeira vez nossos produtos, e esse foi um importante instrumento que contribuiu para alavancar e dar visibilidade aos nossos produtos”, explica Marilza.

O selo Quilombos do Brasil é uma política de valorização dos produtos oriundos das comunidades tradicionais, com o objetivo de valorizar e dar visibilidade aos empreendimentos da agricultura familiar e promover a inclusão econômica e social no campo. No estado da Bahia, um trabalho realizado pela Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), através da Superintendência de Agricultura Familiar (SUAF) e Povos e Comunidades Tradicionais (PCT), já resultou no reconhecimento de mais de 60 comunidades.

A força da mulher Quilombola

Marilza é quilombola, filha de Ornelita Pereira, produtora rural. Nasceu e foi criada no quilombo de Barreiros de Utaguaçu (BA), no território de Irecê. Desde muito nova, acompanhava o trabalho de sua mãe na agricultura para trazer sustento à família. À medida em que foi crescendo, despertou uma vontade de ver sua comunidade crescer e se tornar independente. “Foi aí que resolvi fazer parte da associação João Pereira Gomes, pois lá vi que poderíamos fazer um trabalho diferenciado”, conta.

Na época, a Associação era composta majoritariamente por homens, com a participação exclusiva de dona Dilza Bispo na secretaria. Logo em seguida, Marilza e outras 40 mulheres ingressaram ao grupo, buscando fazer a diferença na vida do quilombo. “Enfrentamos várias coisas, inclusive o preconceito dos homens. Eles falavam que já estavam lá há vinte anos, e que não tinha como uma mulher conseguir mudar alguma coisa”.

Provando que estavam errados, o grupo conseguiu aprovar, logo no primeiro ano, um Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) no valor de 40 mil reais. E de lá para cá, as conquistas e vitórias só aumentaram. Conquistaram casas, cisternas, mecanização e a liberdade de trabalho para muitas mães de família. “Depois de conquistar o selo do Quilombo do Brasil, temos uma cozinha construída com nossos próprios recursos. Agora vamos ganhar uma outra cozinha dos sonhos, pelo programa Bahia”, explica.

Esse foi um sonho realizado em conjunto com a força das mulheres quilombolas, e ficou reconhecido no território de Irecê. Por fim, Marilza não esconde a alegria que sente por todo o trabalho realizado “Quilombola que sou, me sinto uma mulher empoderada”.

15 dias de iniciativas inspiradoras

A história de Marilza Pereira Gomes foi enviada pela Secretaria de Desenvolvimento Rural/Entidade da Superintendência de Agricultura familiar (SDR/SUAF) da Bahia, e faz parte da ação “15 dias de iniciativas transformadoras”, parte da campanha #MulheresRurais, mulheres com direitos.

Durante os próximos dias, outras organizações parceiras da campanha irão compartilhar histórias de mulheres rurais promotoras da alimentação saudável, guardiãs da terra, líderes e empreendedoras, com base em três eixos principais: direitos e autonomia econômica; papel produtivo em sistemas agroalimentares; redução de lacunas e uma vida livre de violência. No dia 15 de outubro, encerra-se a ação com a celebração do Dia Internacional das Mulheres Rurais.