FAO no Brasil

Uma produção pesqueira e aquícola sem precedentes contribui decisivamente para a segurança alimentar global

©FAO/Fellipe Abreu
29/06/2022

Relatório da FAO sobre o Estado Mundial da Pesca e Aquicultura (SOFIA) observa o crescimento impulsionado pela aquicultura.

Roma – O crescimento significativo da aquicultura levou a pesca global e a produção aquícola a um nível recorde, uma vez que os alimentos aquáticos representam uma contribuição cada vez mais crítica para a segurança alimentar e nutricional no século XXI, de acordo com relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), divulgado no dia 29 de junho.

A edição de 2022 do Estado Mundial da Pesca e Aquicultura (SOFIA) observa que em 2020 o crescimento da aquicultura, particularmente na Ásia, fez com que a produção total de pesca e aquicultura atingisse um recorde histórico de 214 milhões de toneladas (178 milhões de toneladas de peixes aquáticos 36 milhões de toneladas de algas). 

A produção de animais aquáticos em 2020 foi 30% superior à média dos anos 2000 e mais de 60% acima da média dos anos 1990. A produção recorde de aquicultura de 87,5 milhões de toneladas de animais aquáticos impulsionou em grande parte esses resultados.

À medida que o setor continua a se expandir, a FAO diz que são necessárias mudanças transformadoras mais direcionadas para alcançar um setor de pesca e aquicultura mais sustentável, inclusivo e equitativo. Uma “Transformação Azul” na forma como produzimos, gerimos, comercializamos e consumimos alimentos aquáticos é crucial se quisermos alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. 

“O crescimento da pesca e da aquicultura é vital em nossos esforços para acabar com a fome e a desnutrição globais, mas é necessária uma maior transformação no setor para enfrentar os desafios”, disse o diretor-geral da FAO, QU Dongyu. “Devemos transformar os sistemas agroalimentares para garantir que os alimentos aquáticos sejam colhidos de forma sustentável e também que os meios de subsistência sejam salvaguardados e os habitats aquáticos e a biodiversidade sejam protegidos.”

Os alimentos aquáticos contribuem cada vez mais para a segurança alimentar e nutricional. O consumo global de alimentos aquáticos (excluindo algas) aumentou a uma taxa média anual de 3,0% desde 1961 – quase o dobro da taxa de crescimento anual da população mundial – e atingiu 20,2 kg per capita, mais que o dobro do consumo na década de 1960.

Em 2020, mais de 157 milhões de toneladas, ou seja, 89% da produção de animais aquáticos, foram destinados ao consumo humano direto, volume ligeiramente superior ao de 2018, apesar das repercussões da pandemia de COVID-19. Os alimentos aquáticos contribuíram com cerca de 17% da proteína de origem animal consumida em 2019, chegando a 23% em países de renda média baixa e mais de 50% em partes da Ásia e África.

Os países asiáticos foram a fonte de 70% da produção global de pesca e aquicultura em 2020, seguidos por países das Américas, Europa, África e Oceania. A China continua sendo o maior produtor de pescado, seguida pela Indonésia, Peru, Federação Russa, Estados Unidos da América, Índia e Vietnã. 

A aquicultura determina o futuro dos alimentos aquáticos 

A aquicultura cresceu mais rápido do que a pesca de captura nos últimos dois anos e espera-se um aumento ainda maior na próxima década. Em 2020, a produção animal aquícola alcançou 87,5 milhões de toneladas, 6% a mais que em 2018. Por outro lado, a produção da pesca de captura caiu para 90,3 milhões de toneladas, o que representa um decréscimo de 4,0% em relação à média registrada nos três anos anteriores.

A redução na produção pesqueira de captura foi impulsionada principalmente pela pandemia de COVID-19, que interrompeu severamente as atividades de pesca, o acesso ao mercado e as vendas, bem como uma redução nas capturas da China e uma queda nas capturas de anchoveta, que flutuam de forma natural. 

A crescente demanda por peixes e outros alimentos aquáticos está causando uma rápida mudança no setor de pesca e aquicultura. O consumo está projetado para aumentar em 15% e alcançará 21,4 kg per capita em 2030, impulsionado principalmente pelo aumento da renda e urbanização, mudanças nas práticas de pós-colheita e distribuição e novas tendências alimentares, com atenção especial à melhoria da saúde e nutrição.

A produção total de animais aquáticos está projetada para atingir 202 milhões de toneladas em 2030, principalmente devido ao crescimento contínuo da aquicultura, que deve atingir 100 milhões de toneladas pela primeira vez em 2027 e 106 milhões de toneladas em 2030. 

Necessidade de uma transformação azul

A FAO afirma que o trabalho deve continuar para alimentar a crescente população mundial, melhorando a sustentabilidade das reservas e ecossistemas frágeis e protegendo os meios de subsistência a longo prazo. De acordo com o SOFIA 2022, a sustentabilidade dos recursos pesqueiros marinhos continua a ser uma grande preocupação, pois em 2019 a percentagem de unidades populacionais de peixes exploradas de forma sustentável caiu para 64,6%, representando uma diminuição de 1,2% em relação a 2017.

No entanto, há sinais encorajadores, já que os estoques explorados de forma sustentável forneceram 82,5% do volume total de desembarques em 2019, o que equivale a um aumento de 3,8% desde 2017. Isso parece indicar que os estoques maiores estão sendo gerenciados de forma mais eficaz. 

A FAO promove a transformação azul, uma estratégia visionária para enfrentar os desafios duplos de segurança alimentar e sustentabilidade ambiental, garantindo resultados equitativos e igualdade de gênero.

Políticas e práticas favoráveis ao clima e ao meio ambiente, bem como a inovação tecnológica, também são fundamentais para a mudança. 

“A transformação azul é um processo baseado em resultados através do qual os membros e parceiros da FAO podem maximizar a contribuição dos sistemas alimentares aquáticos para melhorar a segurança alimentar, nutrição e dietas saudáveis acessíveis, mantendo-se dentro dos limites ecológicos”, diz o Sr. Manuel Barange, Diretor da Divisão de Pesca e Aquicultura da FAO.

A pesca e a aquicultura contribuem para o emprego, o comércio e o desenvolvimento econômico. O valor total das primeiras vendas da produção pesquera e aquícola de animais aquáticos em 2020 é estimado em US$ 406 bilhões, dos quais US$ 265 bilhões foram da produção aquícola.

De acordo com os dados mais recentes, das cerca de 58,5 milhões de pessoas que trabalhavam no setor, aproximadamente 21% eram mulheres. Estima-se que a vida e os meios de subsistência de cerca de 600 milhões de pessoas dependam de alguma forma da pesca e da aquicultura. Construir resiliência é essencial para um desenvolvimento equitativo e sustentável.

Números-chave do relatório o Estado Mundial da Pesca e Aquicultura (SOFIA) (2022):  

Produção 

  • Produção mundial total de animais aquáticos e algas: 214 milhões de toneladas 
  • Valor de primeira venda da produção de animais aquáticos: US$ 406 bilhões 
  • Pesca de captura marinha: 78,8 milhões de toneladas 
  • Pesca de captura de água doce: 11,5 milhões de toneladas
  • Produção animal de aquicultura: 87,5 milhões de toneladas, um novo recorde 

Consumo e comércio

  • Quantidade total para consumo humano (excluindo algas): 157 milhões de toneladas
  • Valor do comércio internacional de produtos da pesca e da aquicultura: USD 151 bilhões

Emprego e frotas

  • Total de trabalhadores no setor primário de pesca e aquicultura: 58,5 milhões (21% mulheres)
  • Região com maior número de pescadores e aquicultores: Ásia (84%)
  • Número de navios de pesca: 4,1 milhões 
  • Região com maior frota: Ásia (2,68 milhões de navios, aproximadamente dois terços da frota mundial)

Estoques de peixe

  • Estoques explorados de forma sustentável: 64,6% (2019), 1,2% menos que em 2017
  • Estoques explorados de forma sustentável do total de desembarques: 82,5% (2019), 3,8% a mais que em 2017

 

Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS) relacionados:

  • ODS 2 – Fome Zero e Agricultura Sustentável
  • ODS 8 – Trabalho Decente e Crescimento Econômico
  • ODS 10 – Redução das Desigualdades
  • ODS 12 – Consumo e Produção Responsáveis
  • ODS 14 – Vida Debaixo D'água