FAO no Brasil

Brasil, República Dominicana e países da América Central trocaram experiências em técnicas e boas práticas para enfrentar os desafios enfrentados pela escassez de água na agricultura

©FAO/Palova Brito
03/04/2024

Representantes de seis países estiveram no Brasil para palestras técnicas e visitas de campo sobre gestão da água e zoneamento de riscos climáticos

Brasília, Brasil – Estima-se que cerca de 10,5 milhões de pessoas vivem no Corredor Seco Centro-americano, e aproximadamente 50% dessa população vive em condições de pobreza. Com o objetivo de trocar experiências sobre novas tecnologias de monitoramento e gestão de recursos hídricos, e conhecer o funcionamento do sistema brasileiro de Zonificação Agrícola de Risco Climático (ZARC), seis países do Sistema de Integração Centro-americana/SICA (El Salvador, Honduras, Guatemala, Panamá, República Dominicana e Costa Rica) participaram de uma missão internacional no Brasil, de 18 a 23 de março. A atividade incluiu palestras técnicas e visitas de campo à região com maior escassez de água do país: o Semiárido, que abriga cerca de 28 milhões de habitantes. 

Essa troca foi uma ação conjunta entre a Agência Brasileira de Cooperação, do Ministério das Relações Exteriores (ABC/MRE) e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), no âmbito do projeto "Inovação para a redução de riscos agroambientais nos países do Corredor Seco Centro-americano: Zonificação Agrícola para Riscos Climáticos (ZARC) e Gestão de Recursos Hídricos". Essa iniciativa visa contribuir para a mitigação dos efeitos das secas nas áreas de agricultura familiar e desenvolvimento rural em três países: Guatemala, El Salvador e Honduras. 

Carolina Salles, analista de projetos da ABC/MRE, explicou que os países tiveram a oportunidade de conhecer experiências de agricultores familiares brasileiros que utilizam técnicas de manejo da água e preservação do bioma Caatinga (recaatingamento). Essas práticas permitem o sustento de suas famílias e a prevenção diante das variações climáticas por meio do uso da água para a criação de animais, bem como o cultivo de alimentos para consumo e comercialização. "Foi muito importante que os países da delegação tivessem contato com essas experiências, pois enriquecerão a elaboração do nosso plano de trabalho, que será nossa próxima atividade", comenta. As ações neste plano têm como objetivo atender às demandas dos três países que integram o projeto - El Salvador, Honduras e Guatemala - para melhorar a segurança alimentar dos agricultores familiares. 

O coordenador do projeto Iniciativa América Latina e Caribe sem Fome 2025, Ronaldo Ferraz, destacou a importância da ferramenta de Zonificação Agrícola de Risco Climático (ZARC) como uma política pública que beneficia a agricultura familiar por meio da antecipação dos efeitos climáticos. 

Segundo Julian Carrazon, oficial de Agricultura do Escritório da FAO para a Mesoamérica, muitos dos desafios enfrentados pelo Brasil e pelos países do Corredor Seco Centro-americano são semelhantes em termos de como atender às necessidades das famílias e da produção agropecuária. Para Carrazon, a missão foi a confirmação de que o projeto ZARC é muito relevante para a região do Corredor Seco. “Acredito que precisamos avançar no desenvolvimento da ferramenta para que responda de maneira mais eficaz às necessidades”, observou. Além disso, destacou que soluções como o fornecimento de água para consumo humano ou para uso agropecuário devem ser desenvolvidas em um contexto altamente participativo, “que conte com a opinião e validação das comunidades envolvidas”, enfatizou ao comentar sobre a importância da troca e colaboração para a geração de conhecimento e tecnologias. 

Experiências brasileiras 

A delegação internacional participou de palestras técnicas e trocas de experiências apresentadas por pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), incluindo as unidades Embrapa Solos, Embrapa Semiárido e Embrapa Agricultura Digital, bem como por representantes da Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA), da Agência Pernambucana de Águas e Clima (APAC), do Banco do Nordeste, do Instituto Regional da Pequena Agricultura Apropriada (IRPAA) e da Fundação Araripe. Entre os temas abordados incluíram-se o zoneamento agroecológico para o manejo e uso sustentável do solo e da água, a gestão de recursos hídricos, a tecnologia de captação e armazenamento de água para o Semiárido, os seguros agrícolas climáticos brasileiros, entre outros. Além disso, foi apresentada a experiência do projeto REDESER, executado pela FAO no Brasil para combater a desertificação no Semiárido brasileiro. 

Durante os dois dias de visitas de campo, o grupo conheceu diversas boas práticas implementadas na região para a convivência com a seca. Uma dessas experiências destacadas foi a cooperativa Coopercuc, localizada em Uauá, Bahia, onde foram apresentadas iniciativas bem-sucedidas de uso sustentável dos agrossistemas, bem como oportunidades de comercialização e agroindústria familiar, como a produção de laticínios. 

Além disso, foram visitadas iniciativas em áreas de preservação ambiental que buscam reverter a desertificação na Caatinga, um bioma exclusivo do Brasil, por meio do uso sustentável dos recursos naturais. 

Allan Caravantes, representante do Ministério da Agricultura da Guatemala, destacou a relevância de abordar a gestão dos recursos hídricos devido aos desafios enfrentados por seu país, principalmente relacionados à variabilidade climática e à irregularidade nos padrões de chuva. Durante os períodos chuvosos, observa-se a ausência de precipitações por muitos dias, apesar das previsões meteorológicas. Segundo Caravantes, essa escassez de chuva é refletida em registros que chegam a um máximo de 150 milímetros, quantidade insuficiente para satisfazer as necessidades da agricultura. "Por isso, é importante oferecer alternativas aos agricultores em relação à captação de água da chuva para que eles tenham água durante o período crítico do cultivo. Além disso, nossos agricultores de subsistência utilizam o ciclo da chuva para poder produzir. O cultivo principal é o milho, a base da segurança alimentar do país", enfatizou. 

O projeto

O projeto "Inovação para a redução de riscos agroambientais nos países do Corredor Seco Centro-americano: Zonificação Agrícola para Riscos Climáticos (ZARC) e Gestão de Recursos Hídricos" faz parte das atividades do projeto Iniciativa América Latina e Caribe sem Fome 2025, no âmbito do Programa de Cooperação Internacional Brasil-FAO. O objetivo é melhorar as capacidades institucionais para a tomada de decisões relacionadas aos sistemas produtivos do Corredor Seco e zonas áridas da região SICA, para aumentar a resiliência e adaptação às mudanças climáticas desses países.