FAO no Brasil

Articulação e engajamento são cruciais para avanços na alimentação escolar, dizem especialistas no Pacto de Milão

©️FAO/Aline Czezacki
18/10/2022

Rio de Janeiro – Sociedade civil, diferentes níveis de governos locais e nacionais, pais, mães, ONGs e até mesmo os estudantes devem estar mobilizados e engajados para o melhor funcionamento possível das múltiplas ações da política de alimentação escolar. Essa foi a conclusão dos especialistas reunidos no painel “Alimentação Escolar: fortalecendo sistemas alimentares locais e uso da biodiversidade”, realizado nesta segunda-feira, 17, no âmbito das ações do Dia Mundial da Alimentação 2022 e do 8º Fórum Global do Pacto de Milão sobre Política Alimentar Urbana. O painel, realizado no Rio de Janeiro, foi coordenado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e a Embrapa Alimentos e Territórios.

Gustavo Porpino, analista da Embrapa Alimentos e Territórios, abriu a cerimônia dizendo haver “muitas boas práticas de alimentação escolar capazes de serem replicadas mesmo em continentes tão distantes”. Acrescentou que o evento é uma oportunidade de se debater estratégias para incrementar os programas de alimentação escolar com valorização da produção local e maior aproveitamento da biodiversidade local.

Em seguida, Kate Mackinsey, nutricionista e diretora executiva da Secretaria de Políticas Alimentares de Nova York, contou que há 16 mil escolas na cidade e que se oferecem cerca de 1 milhão estudantes, com ao redor de 500 receitas.

“O nosso potencial de mudar os sistemas alimentares, predominantemente com compras públicas e educação, é extraordinário”, disse. “É preciso fazer com que o consumo de alimentos seja baseado no conhecimento. A educação alimentar e o consumo devem estar interconectados”. Ela finalizou destacando a necessidade de trabalhar conjuntamente com todos os públicos interessados na alimentação escolar para que a política avance cada vez mais.

Rafael Zavala, Representante da FAO no Brasil, afirmou que a alimentação escolar pode ser o divisor de águas dos sistemas agroalimentares. Mencionou a importância de as escolas ensinarem a valorização da cultura alimentar e da biodiversidade local com a alimentação escolar. “Precisamos gerar os ambientes escolares saudáveis, tanto nas escolas como nas casas”.

Também exaltou a relevância de comprar produtos da agricultura familiar para promover o desenvolvimento territorial local. E ressaltou a necessidade de se fazer monitoramento dos menus oferecidos, citando o caso do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) do Brasil, que atende diariamente e de maneira universal 41 milhões de estudantes.

Uma das ações regionais do Programa de Cooperação Internacional Brasil-FAO é o projeto Consolidação de Programas de Alimentação Escolar na América Latina e no Caribe, parceria da FAO com a Agência Brasileira de Cooperação (ABC/MRE) e o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), que apoiam os países da região a fortalecer e consolidar suas políticas de alimentação escolar para garantir o direito humano à alimentação. Também no âmbito desta iniciativa está a Rede de Alimentação Escolar Sustentável, a RAES, que busca promover o intercâmbio de conhecimentos e boas práticas em alimentação escolar.

Bent Egberg Mikkelsen, pesquisador especializado em alimentação escolar da Universidade de Copenhague, da Dinamarca, relatou sobre a experiência de se trabalhar a “alfabetização alimentar nas escolas”. Ele apresentou exemplos de como levar o alimento das cantinas para as salas de aulas, usando a educação alimentar como ferramenta pedagógica, unindo áreas como meio ambiente, tecnologias digitais, ciência, artes e alimentação.

“Não queremos apresentações de Power Point, queremos que os estudantes pensem, desenhem, criem e inovem”, explicou, citando a importância de engajá-los e motivá-los para que influenciem na transformação dos sistemas alimentares no futuro.

Harrison Freitas, analista de inteligência de negócios do Sebrae Alagoas, contou sobre a experiência de capacitação de merendeiras no Estado, que permitiu aprimorar a qualidade do cardápio escolar e aumentar as compras da agricultura familiar, superando os 30% determinados pelo PNAE. O concurso para valorizar as merendeiras foi criado em 2019, e desde então, mais de 2.800 cozinheiras e mais de 50 nutricionistas tiveram suas capacidades fortalecidas, impactando cerca de 700 escolas em 20 cidades.

“Destaco aqui Maceió, a capital de Alagoas, que atingiu 41% de participação da agricultura familiar nas compras públicas do PNAE”. Harrison afirmou que algumas receitas do concurso passaram a integrar cardápios nas escolas, exaltando o trabalho conjunto com parceiros como a Embrapa, o Sebrae e o Senac. E finalizou com o depoimento de uma merendeira que disse que concurso as fez “sair do anonimato e serem reconhecidas como reais educadoras”.

Francine Xavier, do Instituto Comida do Amanhã, disse que as falas foram importantes para pensar desde a produção de alimentos ao seu consumo e destacou a relevância de a sociedade e governos estarem mobilizados nessa causa. “Temos a oportunidade de ter o PNAE, que é muito poderoso para fazer a inclusão da agricultura familiar, dos povos tradicionais, promovendo o desenvolvimento local, a circularidade e garantindo o direito humano à alimentação. Temos condição de transformar nossa sociedade com essa ferramenta (a política de alimentação escolar)”.

O painel foi apoiado pela Embrapa Agroindústria de Alimentos, Instituto Comida do Amanhã, Sebrae Alagoas e contou com recursos do Projeto Dom Hélder Câmara, coordenado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA).