Diálogos Nacionais sobre Sistemas Alimentares em Maputo

19 de Maio de 2021, Maputo- "Não obstante os esforços dos últimos anos, dados dos relatórios de segurança alimentar e nutrição sobre a crise alimentar mundial prevêem um futuro sombrio para muitos países em desenvolvimento." O alerta veio do Representante da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) em Moçambique, Hernani Coelho da Silva, que falava, esta quarta-feira (19.05.), na abertura da reunião de lançamento dos Diálogos Nacionais sobre Sistemas Alimentares.

No evento, que decorreu sob o lema "Contribuindo para Sistemas Alimentares Integrados e Sustentáveis Rumo à Fome Zero", participaram representantes dos sectores público e privado, da academia e da sociedade civil, envolvidos na cadeia de sistemas alimentares no país. Os Diálogos Nacionais inserem-se no âmbito da preparação da Cimeira Mundial dos Sistemas Alimentares, prevista para o próximo mês de Setembro em Nova Iorque.

Relativamente a Moçambique, Coelho da Silva, que falou em representação da Coordenadora Residente da ONU no país, Myrta Kaulard, chamou a atenção para os desafios enfrentados ao longo das cadeias de valor dos produtos agrícolas e causados por "eventos climáticos extremos, como secas, cheias e ciclones, que afectaram várias regiões de Moçambique, contribuindo para agudizar os riscos de insegurança alimentar". Neste contexto, o Representante da FAO apelou à participação de todos nos Diálogos Nacionais para que se possam identificar as principais deficiências dos sistemas alimentares e propor soluções aos níveis nacional, regional e global.

Realizada sob a liderança do Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural (MADER), esta série de Diálogos estender-se-á pelos meses de Maio e Junho, culminando com o exercício de validação dos resultados das reuniões nacionais e independentes que abrangerão todos os intervenientes da cadeia dos sistemas alimentares, incluindo os pequenos produtores, antes da sua apresentação na pré-cimeira de Roma, em Julho e, posteriormente, na cimeira de Nova Iorque, em Setembro.

No seu discurso de abertura, o Vice-Ministro do MADER, Olegário Banze, afirmou que "todos nós temos estado empenhados num pensamento mais holístico para que consigamos ter um sistema agroalimentar equilibrado que responda às necessidades alimentares do nosso país e do nosso planeta". De acordo com Banze, o bem-estar nacional "não é possível sem um sistema agroalimentar que responda a todos os desafios nas áreas de distribuição de insumos, produção, armazenamento e transformação e distribuição de alimentos".

A Cimeira da ONU proporcionará uma oportunidade de reflexão sobre futuras orientações para o desenvolvimento e a aceleração da transformação dos sistemas alimentares, com vista ao alcance dos 17 Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) até 2030.

Também segundo Jacques de Graaf, consultor da FAO convidado para o evento, os sistemas alimentares são um ponto de entrada para alcançar os ODS. Factores como o crescimento populacional, a globalização e a migração, entre outros, têm uma forte influência sobre os sistemas alimentares e são necessárias "acções que promovam mudanças para alcançar sistemas alimentares mais saudáveis, sustentáveis e inclusivos".

Os Diálogos Nacionais deverão focar nas cinco áreas temáticas definidas pela ONU, nomeadamente: (i) garantia do acesso a alimentos seguros e nutritivos para todos, (ii) mudança para padrões de consumo sustentáveis, (iii) aumento da produção em escala sem prejuízo para a natureza, (iv) melhoria dos meios de subsistência de forma equitativa e (v) reforço da resiliência a choques.

Em paralelo, deverão ter lugar consultas e diálogos independentes de forma que se possam abordar as prioridades e necessidades locais de cada país. Em Moçambique, o primeiro destes diálogos independentes realizou-se no passado mês de Abril, na cidade de Quelimane, Zambézia.