FAO in Mozambique

Moamba celebra Dia Internacional da Mulher Rural

Mulheres rurais de todo o país celebraram o seu dia em Moamba
27/10/2014

A manhã ainda estava fresca e já dezenas de mulheres preparavam o almoço. Em grupos, ao redor de panelas de grandes famílias, levando à boca o que restava do matabicho, cozinhavam batata doce e arroz, lavavam folhas de alface e quilos de tomate, pilavam alho. Para a ocasião foram mortos dois bois. O dia era de festa. Afinal, era a celebração oficial do Dia Internacional da Mulher Rural. E estas mulheres, rurais, tinham vindo de todas as províncias de Moçambique para a festa, a sua festa.

O evento foi organizado pelo Movimento Moçambicano das Mulheres Rurais (MMMR), liderado pela organização de defesa da igualdade de género e promoção do desenvolvimento rural Mulher, Género e Desenvolvimento (MuGeDe) em parceria com instituições do Governo como o Ministério da Agricultura, o Ministério da Mulher e da Acção Social e o Secretariado Técnico de Segurança Alimentar e Nutricional (SETSAN).

Juntamente com a ONU Mulheres, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) participou nas comemorações da data que, desta vez, se realizaram na Escola Secundária de Moamba, no distrito de Moamba, província de Maputo.

Data importante para a FAO

No ano que foi declarado pelas Nações Unidas "Ano Internacional da Agricultura Familiar", o dia, que se assinalou no passado dia 15 de Outubro, festejou-se em Moçambique sob o lema "Mulher rural: garante da agricultura familiar e do direito à alimentação adequada". A data pretende enaltecer o papel que as mulheres rurais desempenham para o fortalecimento do sector agrícola e da economia, para o desenvolvimento rural e a segurança alimentar, revestindo-se de "um simbolismo importante para a FAO", disse, no evento, o Representante da Organização em Moçambique, Castro Camarada.

"A luta pela emancipação e pelo empoderamento das mulheres rurais está, de certa forma, ligada aos objectivos estratégicos da FAO." Entre outros, Camarada destacou a diminuição da fome e da desnutrição bem como a promoção da segurança alimentar e ainda a redução da pobreza rural. "Qualquer destes objectivos", continuou Camarada, "está muito dependente dos esforços da mulher rural".

Também o Vice-Ministro da Mulher e da Acção Social, Virgílio Mateus, realçou a importância destas mulheres "como garante da alimentação das nossas famílias". De facto, ainda hoje, cerca de 80 por cento da população moçambicana vivem no meio rural. No país, quase todas as explorações agrícolas (99 por cento) são do sector familiar e quase todas têm mulheres à sua frente. Além disso, lembrou a Representante da ONU Mulheres, Florence Raes, "de cerca de 24 milhões de habitantes em Moçambique, 53 por cento são mulheres" e "87 por cento das mulheres são mulheres rurais".

Mulher rural permanece anónima

Na Escola Secundária de Moamba reuniram-se na segunda-feira mais de cem mulheres rurais. Escutaram os organizadores, apresentaram danças das suas regiões, expuseram os seus produtos.

"A mulher rural moçambicana teve sempre um papel fundamental na produção agrícola". No seu discurso, a Directora Executiva da MuGeDe, Saquina Mucavele, afirmou mesmo que "a mulher rural não é só a que trabalha a terra, mas constitui um segmento da sociedade".

O empoderamento da mulher em geral, garantiu o Secretário Permanente do Ministério da Agricultura, Daniel Clemente, "tem recebido grande atenção do Governo". Contudo, "o seu papel ainda carece de visibilidade". Por sua vez, também a Governadora da província de Maputo, Maria Elias Jonas, afirmou que "muito está a ser feito, mas não chega".

"É necessário fazer mais"

Governo, sociedade civil e parceiros partilharam a opinião de que as mulheres rurais ainda enfrentam desafios. "Alguns deles", disse Florence Raes, "já foram ultrapassados", mencionando, como exemplo, o papel das mulheres na produção de alimentos e na agricultura em geral. Mas, para a Representante da ONU Mulheres, "o maior desafio continua a ser o desenvolvimento humano em geral", embora persistam outros mais específicos como o da "desigualdade entre homens e mulheres que ainda se faz sentir em Moçambique".

A desigualdade de direitos entre homens e mulheres reflecte-se na falta de oportunidades de desenvolvimento e empoderamento das mulheres. Além de a taxa de analfabetismo continuar muito mais alta entre mulheres, sobretudo nas zonas rurais, o facto de elas não saberem ler nem escrever limita o seu acesso à informação. Por seu lado, também o acesso a insumos agrícolas bem como a serviços de extensão e crédito permanece fraco. O acesso à água continua difícil. E também o acesso à terra, mencionado por Maria Elias Jonas, que lembrou que, na província de Maputo, "ainda não se dá a titularidade da terra à mulher".

2014, o "Ano Internacional da Agricultura Familiar" é, portanto, uma "oportunidade ímpar para direccionar as políticas públicas para a mulher rural", concluiu Daniel Clemente, enquanto Saquina Mucavele defendeu que "apoiar a mulher rural é apoiar o desenvolvimento rural e, em última instância, a sociedade em geral".