Programa de Cooperação Internacional Brasil-FAO

Ferramentas digitais no campo: especialistas dialogam sobre a importância da comunicação e das tecnologias digitais a serviço da agricultura familiar

A videoconferência Comunicação Rural no Tempo do COVID-19 promoveu um encontro de reflexão sobre os desafios da conectividade no meio rural.

Santiago do Chile, 17 de junho de 2020 - Em tempos de pandemia COVID-19, as ferramentas digitais assumiram um papel fundamental para levar informações ao campo, especialmente para a manutenção da assistência técnica e extensão rural aos agricultores familiares. Para refletir sobre as ferramentas tecnológicas para o campo, o projeto regional + Algodão realizou no dia 10 de junho a videoconferência Comunicação Rural nos tempos do COVID-19: Como as ferramentas digitais contribuem para os desafios da cotonicultura? 

Mais de 140 pessoas participaram, entre representantes de governos de países parceiros, pesquisadores, extensionistas, acadêmicos, representantes de sindicatos de agricultores, entre outros. 

A videoconferência foi o terceiro seminário promovido pelo projeto + Algodão desde o início da pandemia, para troca de experiências entre os parceiros países da cooperação sul-sul trilateral e demais países interessados. O projeto é uma iniciativa do governo brasileiro, representado pela ABC/MRE, Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) e sete países parceiros, com o objetivo de contribuir, por meio do sistema algodão-alimento, para o superar a pobreza rural e garantir a segurança alimentar e nutricional. 

Na abertura, o representante da Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores (ABC / MRE), Plínio Pereira, destacou que o fortalecimento da agricultura familiar e o combate à insegurança alimentar sempre foram considerados fundamentais na cooperação brasileira e, na neste contexto atual da pandemia, são ainda mais importantes. “Esse cenário, que é muito difícil para todos, exige urgência e mais trocas de experiências e ações entre os países para enfrentar os desafios que temos em nossa região”, comentou. Segundo o analista do ABC/MRE, o setor algodoeiro latino-americano, assim como o mundo, já sofre as consequências da crise econômica e social gerada pela pandemia e a recuperação do setor exigirá esforço e replanejamento da produção, incluindo agricultores, sindicatos, indústria e governo. "Que possamos encontrar soluções inovadoras para enfrentar este momento." 

O representante da FAO na Bolívia, Theodor Friedrich, destacou a importância das ferramentas tecnológicas nas áreas rurais que, em tempos de pandemia, são ainda mais relevantes. O Representante deu como exemplo o trabalho que a Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) promoverá na Bolívia por meio de canais de comunicação como as rádios comunitárias. Sobre a conectividade no campo, sublinhou: “É uma questão de desenvolvimento rural e econômico nas zonas rurais”. 

Tecnologias a serviço do campo

Segundo a chefe-geral da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Informática Agropecuária), Silvia Silveira Massruhá, para que o Brasil e outros países mantenham um papel de liderança na agricultura mundial, até mesmo para atender às demandas previstas pela ONU para alimentar 10 mil milhões de pessoas em todo o planeta, e que pode aumentar a produtividade de forma sustentável usando poucas áreas e preservando o meio ambiente, é “necessário incorporar novas tecnologias e esse será o diferencial daqui para frente”. 

Silvia Massruhá afirmou que para atingir a produtividade e cumprir os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, as tecnologias de informação e tecnologias convergentes como biotecnologia, nanotecnologia, agricultura de precisão, ciências cognitivas são fundamentais para o rural hoje. A pesquisadora destacou que desde a pré-produção até o beneficiamento, a Embrapa conta com uma série de tecnologias implantadas, como TerraClas e SATVeg, ferramentas subsidiadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, inclusive para o planejamento de políticas públicas. Segundo Silvia Massruhá, o acesso à Internet aumentou em 10 anos e a demanda por conectividade também cresceu no interior. "A pandemia aumentou a demanda por mais conectividade no campo, bem como a aceleração das tecnologias digitais." 

Para o diretor de governo da Microsoft para a América Latina e Caribe, Pedro Uribe, “o campo está ficando sem gente, o que nos obriga a automatizar nossos processos para continuar funcionando”. Segundo o diretor, o mundo não parou com a pandemia por ter a tecnologia, a inteligência artificial, a nuvem de dados e a internet que permitiram que o mundo continuasse operando, transformando o setor agrícola. “Agora com a tecnologia podemos planejar safras, conhecer o uso da água e dos insumos, obter informações de preços, entre outros. A tecnologia existe, a questão é como a fazemos chegar ao pequeno agricultor”, disse Pedro Uribe. Para o diretor da Microsoft na região, o novo agricultor deve ser capaz de compreender as informações e tecnologias adequadas para promover o desenvolvimento agrícola, destacando também a importância das parcerias público-privadas. 

Comunicação rural com jovens paraguaios

O professor Francisco Ritter, da Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, Brasil, apresentou a iniciativa Lazos, Comunicação para o Desenvolvimento (CpD), iniciada no âmbito do projeto +Algodão no Paraguai, envolvendo técnicos, produtores e estudantes de escolas agrícolas em Villarrica e Caazapá. O objetivo da iniciativa-piloto é promover a comunicação entre os diversos atores, através de ferramentas de educação e formação online para jovens de famílias de produtores. O professor explica que esta formação será realizada através do curso Rural Conectado que “vai procurar gerar uma comunidade virtual comprometida com a inovação, formar em tecnologias e gerar Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) para o setor algodoeiro e inserir os alunos no campo de tecnologias rurais”. 

Ferramentas digitais para agricultores familiares: um desafio

Para a coordenadora regional do projeto +Algodão, Adriana Gregolin, o médio e pequeno setor algodoeiro tem uma dinâmica e uma realidade diferenciada que exige pensar em como trazer o conhecimento acumulado e quais ferramentas tecnológicas podem ser utilizadas para que esses produtores, nos territórios, eles podem melhorar seus meios de subsistência. “Existem muitos desafios para a tecnologia ajudar a fortalecer a cadeia de valor do algodão desde o seu início até os mercados”, disse. 

Adriana Gregolin comentou que o setor algodoeiro gera renda para milhares de pessoas e, no momento, “temos que enfrentar os desafios para que as tecnologias disponíveis cheguem aos agricultores com quem trabalhamos”. Segundo a coordenadora, existe uma correlação direta entre a utilização das várias opções de TIC e o seu impacto positivo a nível económico, social, ambiental e institucional, bem como o seu apoio ao cumprimento dos ODS. “A agricultura digital criará sistemas altamente produtivos, prospectivos e adaptativos às mudanças, como as causadas pelas mudanças climáticas”, destacou.