Programa de Cooperação Internacional Brasil-FAO

Juntos Somos Mais Algodão: webinar destacou a importância do setor algodoeiro para a geração de renda, emprego decente e oportunidades.

Projetos de cooperação sul-sul na América Latina e na África comemoram juntos o Dia Mundial do Algodão.

Santiago, 9 de outubro de 2020 - Em comemoração ao Dia Mundial do Algodão, dia 7 de outubro, países da América Latina e Moçambique trocaram experiências durante o webinar Juntos Somos Mais Algodão, promovido em conjunto pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores (ABC / MRE) e Organização Internacional do Trabalho (OIT), por meio dos projetos de Cooperação Sul-Sul + Algodão, executado em países da América Latina; Algodão com Trabalho Decente, executado no Paraguai, Peru, Mali e Moçambique; e Shire-Zambeze,  executado em Moçambique e Malawi. Mais de 400 pessoas participaram do evento entre representantes governamentais e organismos internacionais, pesquisadores, extensionistas, agricultores, sindicatos, representantes do setor têxtil, entre outros. 

O Diretor da ABC/MRE, Embaixador Ruy Carlos Pereira, abriu o webinar destacando que os projetos que fazem parte do programa brasileiro de cooperação técnica para o fortalecimento da cotonicultura em países em desenvolvimento têm obtido resultados relevantes, permitindo maior visibilidade internacional à fibra. Sobre o Dia Mundial do Algodão, o Diretor ressaltou a importância da data para a Agência: “Estamos e continuaremos alinhados com os objetivos propostos pela Organização Mundial do Comércio para a comemoração deste dia”. 

Já o Representante da FAO no Brasil, Rafael Zavala, fez um balanço dos principais resultados alcançados pelo projeto +Algodão, como a instalação de 128 parcelas demonstrativas e a formação de mais de 2.400 técnicos e profissionais e cerca de 10.000 agricultores familiares. Para Rafael Zavala, o algodão vai além de uma commodity. “Façamos o possível para que, além de fibra e vestuário, o algodão signifique para as famílias uma vida digna, emprego digno, sustentabilidade, identidade e bem-estar”, afirmou. 

Para o Diretor Regional da OIT para América Latina e Caribe, Vinícius Pinheiro, o algodão é uma das principais atividades agrícolas do mundo. “Estamos falando de 250 milhões de pessoas que trabalham na área, é algo próximo a 7% da força de trabalho agrícola mundial. Isso tem um impacto muito significativo”, avaliou. Vinícius Pinheiro também destacou o papel da cooperação brasileira para garantir trabalho decente no setor algodoeiro. 

Algodão peruano

O Diretor-Geral de Agricultura do Ministério da Agricultura e Irrigação do Peru, José Muro Ventura, apresentou a experiência do país que, nas últimas safras, cultivou 18 mil hectares de algodão, gerando 45 mil toneladas de algodão em rama. “Atualmente a safra está nas mãos de agricultores familiares que possuem propriedades com menos de 10 hectares”, disse. O Diretor destacou as vantagens da produção de algodão no país como o clima ideal e o bom material genético e, ainda, informou sobre o relançamento do algodão peruano, com o Plano Nacional do Algodão 2020-2030, para promover o desenvolvimento da cadeia, competitividade e sustentabilidade no mercado nacional e internacional. 

Panorama brasileiro

Os avanços da agricultura brasileira nos últimos 30 anos foram apresentados por Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura do Brasil e coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas. O ex-ministro destacou a importância de uma agricultura tecnológica para seu melhor desenvolvimento e afirmou que a pandemia veio evidenciar ainda mais essa urgência. Sobre a produção de algodão, Roberto Rodrigues disse que, no Brasil, durante a pandemia, o algodão foi uma das quatro commodities que conseguiu aumentar sua exportação. “Quase 70% da produção nacional de algodão foi exportada, principalmente 90% para o continente asiático. Tudo isso com muita sustentabilidade, temos uma agricultura muito sustentável.” 

O Diretor Executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (ABRAPA), Marcio Portocarrero, apresentou um panorama da cadeia produtiva do algodão no Brasil que, segundo ele, é a segunda que mais gera empregos no país. Márcio Portocarrero destacou que a fibra está presente na vida de todos, nas roupas, em casa, na área da saúde, atualmente ainda mais com o uso de máscaras contra o COVID-19. O algodão é cultivado em mais de 100 países ao redor do mundo, envolvendo 350 milhões de pessoas. Também comentou sobre as preocupações e cuidados ambientais cada vez mais necessários no mundo, sobre isso, disse que “o uso excessivo de matérias-primas não renováveis ​​nos preocupa e, portanto, temos que comemorar o dia mundial do algodão não só hoje, mas durante os 365 dias do ano ". 

Paraguai: resgate de tradições artesanais e trabalho decente

A Primeira-Dama do Paraguai, Silvana Abdo, apresentou o projeto Cimentando Sueños, iniciado em 2017. O projeto busca resgatar tradições e artesanatos por meio de uma perspectiva artística, comercial e sustentável. “Procuramos que tanto a cultura como o modelo de negócio se fundam para influenciar na melhoria da qualidade de vida das nossas artesãs, que nos lembram a cada criação o valor da nossa história e das nossas tradições”, disse a Primeira-Dama. A iniciativa conta com a participação de técnicos nacionais e internacionais que capacitam mulheres artesãs para promover empoderamento econômico, proporcionar novas oportunidades de desenvolvimento de negócios e promover espaços que tornem visível sua arte. 

A Ministra do Trabalho, Emprego e Previdência Social do Paraguai, Carla Bacigalupo, apresentou o projeto Algodão com Trabalho Decente, que enfatiza os direitos e princípios fundamentais do trabalho e a melhoria das condições de trabalho em toda a cadeia do algodão no país. “No Paraguai, a produção de algodão é uma tradição e continua sendo uma importante fonte de geração de renda para as pequenas famílias rurais”, afirma. De acordo com a Ministra, o país possui 9 mil hectares de algodão, e mais de 50 mil trabalhadores diretos e indiretos em toda a cadeia de produção do algodão, indústria têxtil e comercialização. Entre os eixos do projeto estão a fiscalização do trabalho para fortalecer e garantir os direitos dos trabalhadores em todos os elos da cadeia e combater e prevenir ao trabalho infantil na agricultura familiar e nos setores rural e têxtil. 

Algodão: cultivo importante para Moçambique

Segundo Yolanda Milena Gonçalves, Diretora Geral do Instituto Moçambicano do Algodão e Oleaginosas (IAOM), o algodão é uma cultura estratégica no país, sendo desenvolvida em grande parte pela agricultura familiar, com uma produção média anual de 70 toneladas. “Estima-se que 250 mil famílias de produtores dependam dessa cultura em Moçambique”. Yolanda Milena apontou alguns desafios para a produção no país como o aumento da produtividade, que hoje é de 400 quilos por hectare; e o aumento da renda rural, hoje estimada em cerca de US $ 500 por ano. 

O Coordenador Técnico local do Projeto de Cooperação Shire-Zambeze em Moçambique, Alexandre Pelembe, também apresentou o cenário do setor algodoeiro, fibra produzida no país desde a década de 1930. Segundo o Coordenador, 2,5% da população do país depende da produção de algodão, cerca de 1 milhão de pessoas. Na matriz algodoeira do país existem oito empresas de fomento, que geram 10 mil empregos que dependem exclusivamente do algodão, da produção ao beneficiamento. Entre as causas da baixa renda, ele destacou a baixa produtividade, sementes de baixa qualidade genética e pragas do algodão. Entre as ações desenvolvidas pelo projeto Shire-Zambeze, ele destacou que em cinco anos mais de 1.300 pessoas foram capacitadas. 

Dia Mundial do Algodão

O Dia Mundial do Algodão na América Latina foi comemorado ao longo da semana com uma série de eventos do projeto + Algodão, organizado pela FAO, ABC/MRE e países parceiros, com o objetivo de destacar os importantes avanços e iniciativas desenvolvidas por este setor em prol da agricultura familiar da região.