FAO in Mozambique

Mais de 27.000 produtores beneficiam de Escolas na Machamba do Camponês implementadas com apoio da FAO em Moçambique

Actualmente existem mais de 1.000 EMCs em Moçambique
10/06/2016

Cerca de 27.500 camponeses moçambicanos estão a beneficiar da metodologia das Escolas na Machamba do Camponês (EMCs), introduzida pela FAO. Ao todo, existem 1.095 escolas um pouco por todo o país.

Esta abordagem tem como objectivo dar assistência aos produtores no sentido de aumentarem a produção e produtividade, adoptarem tecnologias melhoradas orientadas para a intensificação e diversificação dos sistemas de produção bem como a melhoria da segurança alimentar e nutricional das famílias.

O Oficial de Programa da FAOMZ, Eugénio Macamo, trabalha directamente com EMCs desde que a metodologia foi introduzida. Por isso, falámos com ele sobre a sua implementação em Moçambique.

FAO Moçambique (FAOMZ): O que são as Escolas na Machamba do Camponês (EMCs)?

Eugénio Macamo (EM): As EMCs são grupos de produtores, geralmente constituídos por 25 a 30 pessoas, que se juntam livre e voluntariamente durante o ciclo de uma campanha agrícola para juntos aprenderem boas práticas nos sectores da agricultura, pecuária e silvicultura.

FAOMZ: Como surgiu a abordagem das EMCs?

EM: Esta abordagem surgiu com a FAO, nos finais dos anos 1980, e foi aplicada, pela primeira vez na cultura do arroz na Ásia. Mais tarde, a metodologia foi-se alastrando para outras regiões do mundo, passando a ser usada também noutras culturas e domínios.

FAOMZ: Que vantagens têm as EMCs?

EM: As EMCs constituem uma oportunidade para fazer ensaios sobre práticas agrícolas. As escolas têm também permitido a abordagem de temas diversos, entre os quais, água e saneamento, pós-colheita e conservação de sementes e alimentos, nutrição, questões ligadas a género e HIV e SIDA, comercialização, poupança e crédito.

FAOMZ: Como funciona uma EMC?

EM: Depois de seleccionados os membros do grupo e preparadas todas as questões em torno da organização, como por exemplo, formação dos facilitadores, entre outras, o grupo começa a reunir-se uma vez por semana, pelo menos, para realizar as suas actividades de aprendizagem. Normalmente, um ciclo de EMC dura uma época agrícola e espera-se que o grupo consiga realizar um estudo prático (sobre um tema/problema específico à escolha dos respectivos membros) que lhe permita resolver o problema identificado e estudado.

FAOMZ: Como chegaram as EMCs a Moçambique?

EM: Em Moçambique, as EMCs foram introduzidas pela primeira vez em dois distritos da Província da Zambézia (Nicoadala e Namacurra), pela Direcção Provincial da Agricultura da Zambézia através de um financiamento do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) com o apoio técnico da FAO, no quadro da cooperação Sul-Sul e no âmbito de um Programa Especial de Segurança Alimentar (2002 – 2005).

FAOMZ: Quantas escolas existem em Moçambique e quantos camponeses já se graduaram de EMCs no país?

EM: Actualmente, segundo os dados da Direcção Nacional de Extensão Agrária (DNEA) e resultados das iniciativas da FAO, o país conta com mais de mil EMCs, que beneficiam directamente cerca de 27.500 camponeses, número que resulta da colaboração dos parceiros de implementação, nomeadamente: FAO, CARE Moçambique, Fundação Agha Khan, ACID-VOCA e Instituto de Investigação Agrária de Moçambique (IIAM).
É importante salientar que, no nosso caso, as EMCs são reconhecidas e valorizadas pelo governo, constituindo uma abordagem de extensão participativa inserida no Programa Estratégico de Extensão Agrária (PRONEA 2007-2017).

FAOMZ: Que benefícios têm tido os pequenos agricultores moçambicanos e as suas comunidades ao participarem em EMCs?

EM: Os membros dos grupos das escolas têm melhorado a sua qualidade de vida, aumentando os seus rendimentos em resultado do aumento da produção e da produtividade através das novas tecnologias que aprendem a usar. Também tem sido notável a preocupação dos agricultores de manter os filhos na escola assim como os cuidados de saúde da família, a melhoria das casas e currais e a alimentação que se torna mais diversificada e regular.

Por estarem organizadas, as EMCs têm beneficiado de programas de crédito e investimentos no sector agrário, quer do sector público quer das ONGs. Beneficiam também de oportunidades para aceder a novos conhecimentos sobre saúde, nutrição, género, campanhas de saneamento do meio e geração de rendimentos.

As mulheres, sobretudo, têm-se inscrito nas campanhas de alfabetização. Portanto, as EMCs têm dado uma grande visibilidade aos grupos de produtores, o que lhes permite aceder a novos serviços nas vilas. Trata-se de uma abordagem que acaba por empoderar, de varias formas, todos os que nela participam.

FAOMZ: Porquê um projecto de mudanças climáticas que se baseia na abordagem da EMC?

EM: As EMCs são um ponto estratégico de entrada na abordagem das mudanças climáticas e na criação de mais resiliência aos choques provocados pelas crises e pela natureza. De outra forma, seria muito difícil pretender trabalhar com os produtores de forma isolada, individual e dispersa no campo. Isso seria obviamente bastante oneroso, ineficaz e insustentável. Através das EMCs, é possível abranger um maior número de beneficiários. Os seus membros podem replicar o que aprenderam nas escolas nas suas próprias machambas e com outros grupos nas suas vilas.

Com vista a abordar os aspectos ligados às mudanças climáticas na agricultura e a criar uma maior capacidade de resiliência dos produtores, as EMCs trabalham com os sistemas agro-florestais onde os produtores são encorajados a plantar árvores. Estas podem servir para criar sombra nas aldeias, podem servir de quebra-ventos nas machambas e para a fixação de nitrogénio no solo, ajudando, assim, na recuperação da fertilidade dos solos. Por outro lado, também se trabalha na melhoria dos sistemas de gestão das águas, construindo pequenas represas ou outros mecanismos de recolha e uso dos recursos hídricos.

Do ponto de vista da gestão da produção animal, os produtores são encorajados a criar diferentes espécies animais e aves, o que ajuda a proporcionar proteínas. O estrume dos animais pode ainda ser usado na preparação do composto biológico que ajuda a fertizar os solos das machambas.

A FAOMZ lançou recentemente o projecto "Fortalecimento das capacidades dos produtores agrários para gerir o impacto das mudanças climáticas para melhorar a segurança alimentar através da metodologia da Escola na Machamba do Camponês", que será implementado nas províncias de Gaza, Sofala, Manica e Tete, podendo beneficiar cerca de 90 mil famílias numa primeira fase.