Global Forum on Food Security and Nutrition (FSN Forum)

Vera Helena Lessa Villela

Brazil

Boa noite,

Espero que ainda seja possível contribuir com a discussão proposta pela CFS sobre Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional sob a perspectiva de gênero.

Infelizmente, não sei escrever em espanhol. Por isso, enviarei minhas contribuições em português.

Meu nome é Vera Helena Lessa Villela. Sou natural de Santos, Estado de São Paulo, Brasil, mas vivo em São Paulo – capital desde 1975.

Sou nutricionista e participo de um conselho de participação e controle social – Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional de São Paulo – COMUSAN-SP, como representante do Sindicato de Nutricionistas do Estado de São Paulo, portanto compondo o segmento da sociedade civil.

As experiências que trago aqui estão relacionadas ao que o COMUSAN vem acompanhando, construindo e propondo ao governo municipal como prioridades para a garantia do direito humano à alimentação e nutrição adequadas, ao enfrentamento da fome e das desigualdades em nossa cidade.

A pandemia de covid 19 traz cada vez mais evidências de que para prevenir nosso mundo desse tipo de situação passa por proteger as florestas e pensar em outro modelo alimentar.

Ao longo desses dois últimos anos – 2020-2021, as mulheres marcaram presença efetiva no enfrentamento da fome e das desigualdades em todos os territórios de São Paulo.

Na perspectiva dos movimentos, para resolver a crise ecológica e para implementar sistemas alimentares saudáveis, sustentáveis e solidários é preciso derrotar o sistema capitalista, responsável por destruir cada vez mais a natureza e expandir as fronteiras de dominação sobre os territórios.

Nesse sentido,  as mulheres do movimento agroecológico têm afirmado há muito tempo que “sem feminismo não há agroecologia”. Mulheres envolvidas na  luta pela agricultura urbana e periurbana relacionam a produção de alimentos saudáveis com o feminismo, afirmando que constroem não só territórios livres de agrotóxicos e transgênicos, mas também livres de violência contra a mulher.

Podemos trazer como exemplo dessas ações a Rede de Agricultoras Paulistas Periféricas Agroecológicas – RAPPA, com experiências de articulação entre as redes produtoras e as comunidades vulneráveis nos 4 cantos da cidade. Desde a Comuna Irmã Alberta, assentamento da reforma agrária e pertencente ao Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), em plena zona norte de São Paulo, que tem contribuído com a produção de alimentos e entrega de cestas, compradas por redes de doadores ou mesmo doadas pelo movimento.

E sobre as mulheres do Grupo da Agricultura Urbana – as mulheres do GAU, como são conhecidas, que mantém hortas comunitárias e viveiro escola, na zona leste de São Paulo, e sobre como a horta e as experiências dos trabalhos das mulheres se encontram na saúde da vida comunitária pela produção de alimentos sem veneno.

Bem como a pujança das agricultoras e agricultores da Zona Sul de São Paulo, que chegam a mais de 500 e que por meio da organização cooperativada – Cooperativa Agroecológica dos Produtores Rurais e de Água Limpa da Região Sul de São Paulo (Cooperapas) se estruturou para apoiar as redes de solidariedade que se constituíram por toda a cidade e que, de certa forma, foram a forma de garantir a oferta de alimentos frescos, hortaliças, legumes e frutas, às comunidades vulneráveis da periferia da cidade ao longo de 2020 e 2021

E não podemos deixar de falar da organização dos movimentos sociais da Zona Oeste da cidade que mapeou e construiu estratégias para enfrentamento da fome para mais de 100 comunidades, em conjunto com suas lideranças.

Todas essas experiências evidenciam a importância da organização coletiva, autogestionada e solidária para acessar alimentos agroecológicos, com valores e trocas justas, junto às mulheres agricultoras.

A aliança campo-cidade é parte essencial da construção de formas mais justas de se alimentar, sem enriquecer as grandes redes transnacionais de supermercados. Comprar de mulheres agricultoras coloca um desafio para a organização: a diversidade cultivada nos quintais e roças é tanta, que o processo de compra e logística precisa ser repensado.

Os moldes de comercialização baseadas no mercado, que só buscam a eficiência econômica, não comportam uma experiência que coloca no centro a soberania alimentar e dos territórios.