Programa de Cooperação Internacional Brasil-FAO

Circuitos curtos de comercialização: uma experiência para aproximar o campo e a cidade e fortalecer a agricultura familiar organizada.

O Projeto Semeando Capacidades promoveu um seminário virtual para apresentar experiências bem-sucedidas do Brasil e da Colômbia e trocar conhecimentos em termos de organização de produtores para a comercialização.

Bogotá, 8 de outubro de 2020 - Brasil e Colômbia trocaram experiências exitosas na organização da agricultura familiar para comercialização, por meio de circuitos curtos, demonstrando que é possível que redes de pequenos agricultores possam acessar mercados e encurtar distâncias com o consumidor final, principalmente urbano. Este foi um dos postos-chave do Seminário Virtual Agricultura Familiar e Circuitos Curtos: Experiências Organizacionais no Brasil e na Colômbia, do projeto Semeando Capacidades, realizado na terça-feira 6. O evento contou com mais de 130 participantes entre representantes de governos de ambos países, representantes da academia, sociedade civil, FAO, entre outros. 

A iniciativa Semeando Capacidades é realizada na Colômbia e no Brasil, no âmbito do projeto regional América Latina e Caribe sem Fome 2025, de forma conjunta pela Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores (ABC/MRE), Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil (Mapa), Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural da Colômbia (MADR).

Na abertura, Camilo Ardila Galvis, coordenador do projeto Semeando Capacidades, destacou o potencial dos circuitos curtos na construção social dos mercados, a redução do impacto ambiental, a revitalização das economias locais, o resgate do patrimônio biocultural e a coesão social. 

Redes

Da Colômbia, Alfredo Añasco, apresentou a iniciativa da Rede de Mercados Agroecológicos Campesinos do Vale do Cauca. A organização conta atualmente com 58 organizações e 300 famílias que produzem dentro dos princípios da agroecologia, tais como respeito aos ciclos naturais; uso de coberturas; práticas de conservação do solo; manejo ecológico do solo, fertilizantes, microrganismos; integração do vegetal com o animal, uso de forragens; não uso de agroquímicos, entre outros. Alfredo Añasco avaliou que a rede tem conseguido um bom relacionamento com os consumidores. “Os mercados campesinos são espaços de diálogo, de aproximação do campo à cidade”, disse Alfredo. 

Paula Silva, apresentou a Rede de Agroecologia Povos da Mata, uma iniciativa brasileira executada em mais de 30 municípios do estado da Bahia (Nordeste do Brasil); com mais de 60 grupos de agricultores; e a participação de mais de 900 famílias de agricultores familiares, assentados, quilombolas e indígenas que participam diretamente do processo. Segundo Paula Silva, a Rede já conta com 275 unidades produtivas certificadas, além de 11 agroindústrias; totalizando 607 agricultores certificados que por meio de sua produção possibilitam que “a sociedade tenha um produto justo para quem compra e justo para quem produz” e concluiu: “a agroecologia tem potencial para alimentar o mundo de forma saudável e justa”.

A iniciativa colombiana Mercados Campesinos del Meta (MercaOrinoquia), que atualmente conta com 7 mercados, foi apresentada por Duperly Martínez. O representante da MercaOrinoquia explicou que, neste momento, “diante desta nova normalidade, surgem alguns desafios como o aprendizado de novas tecnologias e plataformas de mercado; o fortalecimento do valor agregado; a sustentabilidade ambiental, sociocultural e econômica, entre outras”. 

Consumo

Adilson dos Santos, apresentou a iniciativa brasileira Central da Caatinga, que reúne 9 cooperativas e mais de 26 grupos informais que produzem e comercializam a partir de princípios como agroecologia, economia solidária e sociobiodiversidade. Segundo Adilson dos Santos, a estratégia da Central visa "fazer com que os produtos da agricultura familiar cheguem à mesa de todos os consumidores", disse.

A experiência realizada na Colômbia pela Associação de Produtores Orgânicos La Tulpa foi apresentada por Rita Maigual, que explicou que a associação é formada por 50 famílias camponesas e indígenas "que produzem sob três pilares: organização, produção e comercialização". disse. Semanalmente, os produtos agroecológicos são vendidos na Casa Tulpa, diretamente pelos produtores e produtoras, que já possuem uma sólida base de clientes fiéis na cidade, entre eles, alguns restaurantes e lojas.

Fechando as apresentações, Fernanda Maschietto apresentou a experiência brasileira desenvolvida pela Red CSA Brasília, uma aliança entre agricultores e coprodutores que, juntos, apoiam a produção familiar, local e agroecológica. Nesta Rede, o consumidor passa a ser co-agricultor, financiando o ciclo produtivo, apoiando as atividades de manejo e criando vínculos com os agricultores, a comunidade, a terra e os alimentos. Em Brasília, são mais de 30 CSAs e, em todo o Brasil, mais de 150. “Acreditamos que a agricultura é responsabilidade de todos”, finalizou.

No encerramento do seminário virtual, Rafael Dias, representando o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil (Mapa), avaliou que as experiências apresentadas podem “servir para atingir a sociedade, principalmente neste momento de pandemia que vivemos, além de contribuir para a construção de políticas públicas adequadas à realidade de cada país”. Já Joaquin Salgado, representando o Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural da Colômbia (MADR), destacou que apesar das diferenças entre o Brasil e a Colômbia em termos de logística e distribuição de alimentos, há muitas urgências e “o projeto Semeando Capacidades permite envolver experiências brasileiras na formulação de políticas públicas na Colômbia”.

Representando a Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores (ABC/MRE), Carolina Smid comentou que o seminário "destacou as vantagens dos circuitos curtos de comercialização, revelando-se uma prática muito importante principalmente neste momento de pandemia, com uma valorização dos agricultores familiares locais”. O coordenador regional do projeto Iniciativa América Latina e Caribe sem Fome 2025, Ronaldo Ferraz, parabenizou as experiências exitosas apresentadas, que “também destacaram as principais lições aprendidas e indicaram possibilidades e desafios para o Brasil e a Colômbia em termos de gestão de redes, alianças e circuitos curto de comercialização”.

Semeando Capacidades

O projeto Semeando Capacidades, iniciado em novembro de 2019 no âmbito da cooperação sul-sul trilateral entre Brasil, Colômbia e FAO, visa fortalecer políticas e instrumentos que promovam a rentabilidade e a sustentabilidade do campo colombiano, com especial ênfase na produção da agricultura familiar com enfoque agroecológico, sendo um importante instrumento de apoio para que o desenvolvimento rural do país esteja encaminhado para contribuir para a transformação econômica, social e política.