Programa de Cooperação Internacional Brasil-FAO

Agremiações do setor algodoeiro destacaram o papel fundamental da associatividade para fortalecer a cadeia produtiva

Países parceiros do projeto +Algodão refletiram sobre os desafios para a produção e comercialização do algodão e as oportunidades de mercado para pequenos e médios produtores.

Santiago do Chile, 26 de abril de 2021 - Cerca de 520 pessoas assistiram a videoconferência virtual Encontro de Agremiações Algodoeiras, promovida pelo Fórum Regional Algodoeiro dos países parceiros da Cooperação Sul-Sul Trilateral +Algodão, no dia 22 de abril. Durante o evento, os países parceiros do projeto + Algodão dialogaram sobre os desafios e oportunidades para esta cadeia de valor, com ênfase na importância do associativismo para a reativação econômica e social durante e após a pandemia de COVID-19. Participaram representantes das agremiações algodoeiras, cooperativas, associações, setor têxtil-confecções; bem como autoridades dos governos parceiros do projeto +Algodão; e instituições de pesquisa, extensão rural, universidades, entre outros. A gravação está disponível no canal da FAO no YouTube.

O Fórum é promovido pelo projeto regional + Algodão, uma iniciativa conjunta de cooperação sul-sul trilateral entre a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores (ABC/MRE); e sete países parceiros: Argentina, Bolívia, Colômbia, Equador, Haiti, Paraguai e Peru. O objetivo do Fórum é fomentar a participação de atores públicos e privados da cadeia para mobilizar uma agenda de trabalho para enfrentar os desafios do setor, em um contexto de pandemia e de recuperação econômica e social pós-pandêmica.

No discurso de abertura da videoconferência, o Embaixador Ruy Carlos Pereira, diretor da Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores (ABC/MRE), destacou que em 2021 os desafios para o setor algodoeiro se intensificam em função da permanência da crise provocada pela pandemia, que reduziu o crescimento econômico na região, afetando diretamente a rentabilidade e a qualidade de vida dos agricultores algodoeiros. “Esses desafios exigem dos produtores de algodão uma soma de forças, um maior planejamento e uma melhor organização para superar a crise e buscar soluções para os problemas em comum”, afirmou.

Já o vice-ministro da Agricultura Familiar do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAG) do Paraguai, Ebert Benítez Villalba, disse que o algodão é um cultivo de renda muito importante para o país e que o governo nacional continuará promovendo este cultivo. Além disso, destacou o interesse do país pelo protótipo de colheitadeira desenvolvido pela Embrapa Algodão no âmbito do projeto + Algodão.

Representando o Peru, José Alberto Muro Ventura, vice-ministro do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Irrigação (MIDAGRI), indicou o compromisso do Ministério de apoiar as organizações de produtores familiares e que, para isso, foi elaborado um projeto de lei para fortalecer o desenvolvimento do cooperativismo no país. Sobre a cadeia algodoeira, comentou que o governo vai relançar o algodão peruano, conhecido como algodão pima; disse ainda que o projeto + Algodão apoiou na formulação do Plano Nacional do Algodão.

Juan Gonzalo Botero Botero, vice-ministro de Assuntos Agropecuários do Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural (MADR) da Colômbia, destacou que o algodão é uma das grandes apostas da política agropecuária nacional. “Na Colômbia, a cadeia têxtil e de confecções representa aproximadamente 8,6% do PIB e cerca de 22% do emprego industrial. É um setor que está em pleno processo de crescimento ao incluir pequenos e médios produtores de algodão, cultivo de onde tiram o seu sustento”, afirmou. O Vice-Ministro destacou as ações conjuntas para o encadeamento produtivo, destacando a contribuição do projeto +Algodão para o crescimento das áreas plantadas, a oferta de comercialização e a implementação de uma estratégia nacional.

O secretário executivo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) do Brasil, Marcos Montes, falou sobre o papel das cooperativas e associações na geração de renda e de empregos para os médios e pequenos produtores de algodão. Segundo Montes, a produção de algodão no Brasil é uma parcela importante da agricultura nacional que tem alcançado muito sucesso.

Encerrando a abertura, o representante da FAO na Colômbia, Alan Bojanic, agradeceu e destacou o apoio da cooperação brasileira, especialmente do projeto +Algodão, que tem permitido apropriar conhecimentos e gerar o crescimento da economia algodoeira em muitos dos países parceiros, reposicionando a importância desta cadeia. “Esse projeto tem nos permitido direcionar a produção para mercados diferenciados que não só pagam mais, como também se constituem em verdadeiros nichos para médios e pequenos produtores de algodão”, avaliou.

Cooperativismo brasileiro

O presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Márcio Lopes Freitas, apresentou a palestra de abertura, “A Força do Cooperativismo”. De acordo com os dados apresentados, no Brasil existem 5.314 cooperativas, que geram 427 mil empregos diretos. Destas, 1.223 são cooperativas agropecuárias de produtores rurais. “As cooperativas são pilares fundamentais no Brasil”, afirmou. Segundo o presidente da OCB, a pandemia acelerou uma mudança que já estava em andamento, rumo a um mundo mais colaborativo. Ele disse ainda que os consumidores estão cada vez mais atentos aos produtos: “Há uma mudança muito clara no perfil do consumidor, 62% estão interessados em empresas que apostam em fazer o bem e isso parece ter sido impulsionado pela pandemia”, considerou. Para Freitas, o modelo inclusivo e colaborativo está presente nas cooperativas desde sua origem: por meio de um modelo de negócios que promove a inclusão social, a geração de emprego e renda, a redução de custos e a ampliação de benefícios por meio de economias de escala. Sobre a cadeia do algodão, ele destacou que 48% do algodão produzido no Brasil segue o modelo cooperativo, incluindo médios e pequenos produtores.

Reativação econômica

Com a moderação da representante da FAO no Peru, Mariana Escobar, foi realizado o painel Representação de Agremiações - seu papel para a reativação econômica, com a participação de representantes da Argentina, Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Paraguai e Peru. O diretor-executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Marcio Portocarrero, disse que o associativismo permitiu o desenvolvimento da produção brasileira de algodão. “Na década de 2000, os produtores brasileiros decidiram retomar o cultivo de algodão com base nas seguintes premissas: adoção de alta tecnologia, investimentos em rastreabilidade, certificação socioambiental, qualidade e comercialização direcionadas aos mercados nacionais, por meio do movimento “Sou do Algodão”, e no exterior, com a iniciativa Cotton Brasil”, explicou.

Representando a Associação de Mulheres Comunitárias de Tosagua (AMUCOMT) do Equador, Yrma Dominguez comentou sobre o trabalho da associação, criada há 14 anos, e que atualmente reúne 127 mulheres. As mulheres realizam diversas atividades como a produção de milho, contam com um centro de coleta de amendoim.  “Com o projeto +Algodão estamos avançando na reativação da produção algodoeira”, disse a agricultora. Cesar Pardo, da Confederação Colombiana do Algodão (Conalgodón), falou sobre o papel da confederação como interlocutor junto ao governo para definir políticas e estratégias para o setor. Segundo Pardo, o algodão já foi, no passado, o segundo cultivo agrícola mais exportado depois do café e, agora, está em processo a reativação do cultivo algodoeiro "onde nosso principal objetivo é crescer", afirmou.

Jesús Manuel Arce Valencia, da Federação Departamental dos Produtores de Algodão (Fedepa) da Bolívia, destacou a importância da tecnologia para alcançar a rentabilidade sustentável para o algodão que seja amigável com o meio ambiente. “Temos que entrelaçar os conhecimentos, poder nos ajudar entre agremiações”. Segundo Valencia, o algodão boliviano contribui com o PIB nacional em cerca de 4%. Já o representante da Câmara do Algodoeira do Paraguai (Cadelpa), Alberto Wilfrido Zarate, disse que a cadeia de valor do algodão pode contribuir muito para o desenvolvimento, principalmente dos pequenos produtores. “O algodão agregado nas indústrias é possível”, disse Zarate, acrescentando que agregar mais valor ao algodão geraria mais competitividade na cadeia.

Da Associação Nacional dos Produtores de Algodão (Anpal) do Peru, Elvin Palma Quiroz, comentou que a associação peruana trabalha para unir os agricultores para que, juntos, busquem uma economia de escala. “É fundamental essa unidade de todos para conseguir o que se deseja com o algodão peruano”. Encerrando o painel de agremiações, da Argentina, Celso Muchut, da Associação para a Promoção da Produção Algodoeira (APPA), apresentou algumas das ações para apoiar os pequenos e médios produtores de algodão, como as inovações tecnológicas de colheita e pós-colheita por meio do desenvolvimento de duas máquinas nacionais: uma colheitadeira e uma enfardadeira de algodão.

Nas conclusões finais da videoconferência, Alberto Ramírez, especialista em cooperativismo do Escritório Regional da FAO para a América Latina e o Caribe, afirmou que: “As cooperativas permitem democratizar o acesso aos bens de capital e à renda e, isso, permitirá uma sociedade mais justa". Ramirez também mencionou o Brasil e a Argentina como exemplos exitosos de cooperativismo.