Programa de Cooperação Internacional Brasil-FAO

Intercâmbio de experiências em inovação territorial e governança da água entre organizações sociais da Colômbia e do Brasil

Semeando Capacidades promoveu encontro semipresencial para troca de experiências.

Bogotá, 18 de março de 2021 – Organizações sociais da 'Rede de Inovação para a sustentabilidade dos Montes de María' e de 'Territórios Socio e Ecologicamente Resilientes e Inovadores (TISERE)' em Policarpa - Nariño, se reuniram para compartilhar suas experiências e aprender mais sobre a implementação de estratégias pela inovação territorial em prol do desenvolvimento sustentável da Agricultura Campesina, Familiar e Comunitária (ACFC). A atividade foi desenvolvida no âmbito do projeto de cooperação internacional Semeando Capacidades, realizado na Colômbia e no Brasil.

Como contribuição à dinamização dos processos destes dois Sistemas Territoriais de Inovação (STI) para TISERE Policarpa, o projeto em aliança com a Corporação Colombiana de Pesquisa Agropecuária (AGROSAVIA), realizou durante 2020 um ciclo de três oficinas virtuais de ´Fortalecimento de capacidades no sistema de produção e comercialização do limão tahiti; 'Solo, recurso vital'; e 'Governança da água'. Para a Rede de Inovação Montes de María, foi desenvolvida uma série de podcasts denominados 'A semente do saber', que buscam promover a associatividade e três iniciativas para o desenvolvimento sustentável da região: apicultura, pecuária sustentável e governança da agua.

O projeto Semeando Capacidades é executado em conjunto pela Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores (ABC/MRE), Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil (MAPA), Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural da Colômbia (MADR), integrando as ações do projeto regional América Latina e Caribe sem Fome 2025 do Programa de Cooperação Internacional Brasil-FAO.

O encontro foi dividido em dois blocos. No primeiro, foi compartilhada a experiência sobre a implementação de estratégias para o desenvolvimento de sistemas produtivos sustentáveis ​​a partir de uma visão multidimensional do território. No segundo bloco, foi abordado o diálogo sobre governança da água, do qual participaram representantes do Brasil e da Colômbia.

Iniciativas para o desenvolvimento sustentável em TISERE e Montes de María

Eliana Martínez Pachón, pesquisadora doutorada em Agroecologia do Centro de Pesquisas Obonuco (Nariño) da AGROSAVIA e pesquisadora líder da metodologia Territórios Inovadores e Socio e Ecologicamente Resilientes (TISERE), explicou a criação de um plano de ação com abordagem participativa para promover a inovação e a resiliência de territórios, por meio do diagnóstico rural com base em diferentes metodologias. Durante este processo, diferentes instituições do setor agrícola têm se articulado com os atores territoriais: “Mediante a inovação, espera-se melhorar as condições de vida dos produtores e a resiliência socio ecossistêmica deste território”, afirmou.

Por sua vez, Adolfo Araujo da Associação dos Produtores de Cacau (ASOCACAO) apresentou o fortalecimento do eixo de inovação do cacau, que envolveu mais de 200 famílias: “Policarpa é um dos 170 municípios da Colômbia priorizados para a implementação dos Programas de Desenvolvimento com Enfoque Territorial (PDET) e o cultivo do cacau nasceu como uma resposta a um apelo do governo nacional. Estamos presentes em mais de 80% do município e as famílias têm cerca de 300 hectares cultivados”, destacou.

Para finalizar as experiências de iniciativas de desenvolvimento sustentável em Policarpa, Ilder Díaz, da Associação Agropecuária do Alto de Limonar (ASOLIMONAR), apresentou o andamento das atividades realizadas no âmbito do fortalecimento do eixo citrícola da Policarpa, destacando a troca de conhecimentos, por meio de visitas técnicas a propriedades para revisão da situação atual das lavouras de limão, das características dos solos, da situação fitossanitária da lavoura e dos sistemas de irrigação. Destacaram a importância de fortalecer o diálogo de saberes, estabelecendo processos de gestão e fortalecendo capacidades.

Óscar Patrón, profissional missionário Agrícola Produtivo da FAO Colômbia, fez uma introdução sobre a Rede de Inovação para a Sustentabilidade de Montes de María, iniciativa que nasceu há 4 anos com o apoio da FAO no país, da Embaixada da Suécia e da Agência de Restituição de Terras, entre outros, para apoiar a sustentabilidade desta região, com base em três eixos: apicultura, pecuária comunitária sustentável e governança da água. “Esta iniciativa territorial apoia os esforços de conservação e recuperação ambiental, promove a integração comunitária como forma de recuperar o tecido social e procura fortalecer e comprometer-se com a replicação de modelos de produção limpa”, explicou Óscar.

Da Associação de Campesinos Produtores da Aldeia El Respaldo (ASORESPALDO), Marcelino Montes e Juan Guerrero, destacaram seu processo de reconversão pecuária sustentável “Realizamos várias ações como a criação de um viveiro com espécies nativas da área, visitas nodais para seleção de áreas de semeadura de sistemas silvipastoris, plantio de semente de capim e visitas técnicas, entre outros”. O impacto ambiental dessas ações se reflete em 45 hectares de sistema silvipastoril, um centro de manejo e pesagem bovina, 90 hectares de áreas de reserva ambiental, desenvolvimento de pecuária e práticas agrícolas ecologicamente corretas e aumento da produção de leite até 3 litros/dia de acordo com registros de área.

No encerramento das experiências dos Montes de María, Yinna Ortiz e Jairo Barreto, representantes da Associação das Vítimas de Chengue (ASOVICHENGUE), anunciaram o empreendimento 'Mel de Chengue', que visa reconstruir o tecido social, trabalhando com práticas que ajudam a proteger o meio ambiente e a reativar economicamente a região por meio de redes de solidariedade: “estamos trabalhando para recuperar este último conceito que se perdeu ao longo dos anos”, disse Jairo Barreto.

Diálogo sobre governança da água: experiências do Brasil e da Colômbia

O coordenador executivo da organização Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA) e coordenador geral do Centro Sabiá em Recife, Brasil, Alexandre Pires, apresentou o projeto ‘Um milhão de cisternas’ às organizações colombianas. De acordo com o coordenador, “a população do semiárido brasileiro caminhava até 36 dias por ano para buscar água”, comentando as dificuldades de viver em uma área de seca. Para Alexandre, as soluções dos governos para o Semiárido sempre foram o combate à seca e, por isso, na Terceira Conferência das Partes das Nações Unidas no Combate à Desertificação foi feito um apelo para a criação de cisternas para combater esse problema: “Estas têm capacidade para 16.000 litros e garantem água potável de 6 a 8 meses para uma família de cinco pessoas; a cisterna para produção tem capacidade para 52 mil litros”, explicou.

“A partir da ASA investimos em tecnologias sociais na construção das cisternas, mas também trabalhamos em bancos de sementes comunitários e na troca de conhecimentos entre os agricultores, que não são apenas produtores, mas também disseminadores de conhecimento; assim, a sistematização de seus conhecimentos é muito importante para inovar”, destacou Alexandre.

A segunda experiência brasileira foi apresentada por Cristhiane Oliveira Amâncio, pesquisadora em Sociologia e Desenvolvimento Rural da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que anunciou os desafios para a transição de modelos de inovação centrados nas pessoas: “Da inovação para produtos à inovação para as pessoas. Precisamos mudar a forma de fazer ciência, porque a inovação não se limita apenas à tecnologia, é pensar como pode ser adequada, qual é a mais-valia para o meu trabalho”, frisou a pesquisadora.

Por sua vez, Maria Sonia Lopes da Silva, pesquisadora em manejo do solo e da água da Embrapa, fez uma apresentação sobre a governança da água da chuva no Semiárido Brasileiro, destacando as cisternas subterrâneas de água para a produção de alimentos: “O objetivo é bloquear a água da chuva que flui para dentro e/ou acima do solo, através de uma parede construída no interior da terra, no sentido transversal à descida das águas”, explicou.

Para falar sobre a experiência da Colômbia em governança da água, Oscar Patron explicou a gestão social e produtiva dos Jagüeyes na cidade de Cambimba, município de Morroa, Sucre. “Seu desenvolvimento se resume em sete etapas: planejamento territorial comunitário; estudos técnicos; construção dos jagüeyes; construção do sistema de bombagem e linhas de condução de água; cerca de jagüeyes; construção do sistema de rede de água; Iniciativa Social para Integração Comunitária, Um Caminho para a Reconciliação”, afirmou Oscar.

A associação APACAMBI, de Cambimba, Sucre, completou o ciclo de experiências. “Antes a comunidade tinha que caminhar quilômetros para conseguir água, agora ela tem uma infraestrutura que nos permite ter o líquido todos os dias”, disseram Viviana Luna e Davelys Borja, que explicaram que atualmente possuem uma infraestrutura que inclui a caixa d'água por meio de jagüeyes, tubos condutores de líquidos e tanques de armazenamento, permitindo o seu consumo tanto no trabalho doméstico como nos sistemas agrícolas.

Encerramento

Ronaldo Ferraz, coordenador do projeto regional América Latina e Caribe sem Fome 2025, avaliou positivamente o encontro para troca de experiências, que permitem dinamizar os processos realizados nos Sistemas de Inovação Territorial. Por outro lado, Carolina Smid, da Agência Brasileira de Cooperação, destacou que as experiências dos dois países sobre governança da água foram muito interessantes, ressaltando que o precioso líquido não é só para a prática agrícola, mas para a vida: “Não temos que armazenar água apenas para viver mas também para manter nossos jovens no campo ”.