Programa de Cooperação Internacional Brasil-FAO

Colômbia resgata algodão nativo ancestral e colhe sua primeira produção na Serra Nevada de Santa Marta

Os primeiros 1.230 quilos de algodão em rama colhidos são uma iniciativa da Fundação Prosierra e do projeto +Algodão Colômbia para impulsionar a produção de algodão orgânico no país.

Foto: Prosierra

Bogotá, 6 de julho de 2020 - A cultura ancestral do cultivo de algodão nativo na Colômbia começou a escrever uma nova história. Na Serra Nevada de Santa Marta, município de Cienaga, departamento de Magdalena, na microbacia do Rio Frio, região de tradição cafeeira, os primeiros 1.230 quilos de algodão orgânico cru, produzidos sem o uso de produtos químicos, foram colhidos em uma estação experimental da Fundação Prosierra. "Este é o primeiro pacote comercial de algodão nativo não transgênico na Colômbia", disse Santiago Giraldo, diretor da Fundação Prosierra.

A Serra Nevada de Santa Marta, na Colômbia, é uma das montanhas costeiras mais altas do mundo e um dos ecossistemas mais representativos da América Tropical. O primeiro plantio gerou 7 mil plantas, cultivadas em 1 hectare da estação Prosierra, e que foram colhidas entre os meses de fevereiro e março deste ano.

Essa iniciativa é desenvolvida com o apoio do projeto de cooperação internacional +Algodão Colômbia, realizado em conjunto pelos governos do Brasil, da Colômbia e pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO). O projeto apoiou a colheita, o transporte e o descaroçamento de algodão para a primeira safra e continuará apoiando a segunda safra já iniciada.

Segundo o diretor da Fundação Prosierra, a falta de sementes de algodão nativo é um gargalo, pois ainda não há em quantidade suficiente no país para uma produção maior. No entanto, existe um interesse dos produtores de algodão. Essa primeira colheita experimental gerou 600 quilos de sementes da variedade Gossypium Barbadian, com mais de 1.500 anos de cultivo por comunidades indígenas da região. Santiago Giraldo explicou que essa variedade foi 'resgatada' para esse plantio de algumas plantas identificadas em uma área da Serra Nevada de Santa Marta.

O diretor analisa a primeira colheita como uma grande conquista, uma vez que não havia sementes de algodão orgânico em nenhuma parte da Colômbia e, no passado, muitas tentativas foram feitas, sem sucesso. "Neste primeiro plantio estávamos aprendendo com a colheita, a mil metros de altura", afirmou.

Famílias indígenas recebem as sementes

Os 1.230 quilos de algodão em rama geraram 600 quilos de sementes que estão começando a ser distribuídos a 10 famílias indígenas em diferentes áreas do país, bem como a alguns agricultores da tradicional zona de algodão da Colômbia que manifestaram interesse em plantar a variedade em áreas com condições climáticas e de solo diferentes da Serra. As famílias receberão entre 4 e 5 quilos de sementes, o que lhes permitirá plantar no mínimo dois hectares, segundo indicou Santiago Giraldo.

O algodão orgânico foi cultivado em associação com milho, feijão e pimentas. Os 1.300 quilos de milho produzidos na propriedade foram vendidos para um restaurante da região, agregando ainda mais valor ao cultivo do algodão nativo.

A técnica do sistema de policultura também é tradicionalmente utilizada pelos povos indígenas e que, segundo o coordenador nacional do projeto +Algodão na Colômbia, José Nelson Camelo, é o que tem um potencial significativo de replicação na mesma área e em outras regiões do país.

Mercado garantido para o algodão orgânico

A primeira colheita de algodão nativo foi levada ao departamento de Córdoba, para o descaroçamento, ou seja, a separação da pluma e da semente. Como a produção orgânica exige uma série de cuidados em toda a cadeia até sua transformação, foram realizados os processos de descontaminação do veículo de transporte de algodão e das descaroçadoras, bem como a separação dos tecidos para embalagens de fibras. Tudo para garantir a qualidade e as características da produção diferenciada. "Como não temos uma descaroçadora para algodão orgânico em Colômbia, tiveram que limpar toda a máquina para higienizá-la e evitar a contaminação”, disse Santiago Giraldo.

Como parte da estratégia de acesso ao mercado, a Fundação Prosierra e o projeto +Algodão conseguiram garantir a venda das três primeiras colheitas para uma empresa têxtil do país, que produzirá os tecidos para uma marca de roupas colombiana, que espera lançar o vestuário no final de 2020. “Fizemos todo o encadeamento. Agora, o fardo com a pluma já está em Medellín, esperando a empresa têxtil abrir suas operações, devido ao problema da COVID”.

A segunda safra de plantio foi iniciada, com uma expansão da área cultivada para 3,3 hectares, onde a expectativa é obter três toneladas de algodão nativo orgânico em 2021. A colheita está prevista para fevereiro do próximo ano, após a temporada de colheita de café. “Há muito interesse dos agricultores pelas sementes, mas a quantidade atual não é suficiente. Por esse motivo, o objetivo é continuar plantando e ampliando as áreas de cultivo para aumentar a quantidade de sementes", concluiu o diretor da Fundação Prosierra.

Mais algodão para a Colômbia

O projeto +Algodão Colômbia, iniciado em 2017, visa apoiar o desenvolvimento da cadeia de valor do algodão colombiano, contribuindo para a melhoria da renda, das condições de vida e da segurança alimentar de agricultores e camponeses familiares. Segundo José Nelson, o projeto busca a implementação de um sistema produtivo diversificado que combine algodão, em rotação também com culturas alimentares, por meio da adoção de boas práticas agrícolas, ambientais e sociais.

Esta iniciativa de cooperação é executada de forma conjunta pelo Governo do Brasil, representado pela Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores (ABC / MRE), pelo Governo da Colômbia, representado pelo Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural (MADR), e pelos escritórios da FAO para América Latina e o Caribe e FAO Colômbia.