FAO e governo do Brasil celebram a produção de algodão latino-americano, a moda, a pesquisa e as políticas públicas para a cadeia algodoeira
Dia Mundial do Algodão foi comemorado com diversas atividades no Brasil.
Brasília, 10 de outubro de 2023 - Durante três dias, representantes de governos da Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Paraguai e Peru, do setor algodoeiro, da indústria têxtil e artesãs participaram da Semana do Algodão na América Latina, em comemoração ao Dia Mundial do Algodão 2023, ocorrida de 4 a 6 de outubro, na cidade de Brasília (DF).
A série de eventos foi organizada de maneira conjunta pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e a Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores (ABC/MRE), por meio do projeto de cooperação Sul-Sul +Algodão, que este ano completa 10 anos.
Diálogo ministerial sobre a cadeia
No dia 4 de outubro, um fórum ministerial discutiu as políticas públicas e a competitividade do setor algodoeiro regional. Na abertura, Marcelo González Ferreira, vice-ministro de Agricultura e Pecuária (MAG) do Paraguai, destacou as importantes conquistas obtidas no âmbito do projeto +Algodão naquele país, entre elas, o registro comercial de variedades de semente de algodão. Além disso, comentou que a região do Chaco paraguaio retoma a produção de algodão com uma meta de 50 mil hectares de algodão na proxima campanha e um grande potencial de desenvolvimento.
Carolina Salles, analista de projetos da ABC, ressaltou que o programa de cooperação brasileiro para a cadeia do algodão tem ajudado a ampliar a visibilidade do setor no cenário internacional. Também afirmou que a cadeia algodoeira ocupa um lugar importante na economia dos países da região e, principalmente, para a agricultura familiar.
Para o representante da FAO no Brasil, Rafael Zavala, o Dia Mundial do Algodão destaca a importância da fibra não só como commodity, mas também pela sua ligação com a humanidade, com a história de muitos países, especialmente da América Latina. Disse, ainda, que o algodão tem um papel não somente para a indústria têxtil, mas também para a segurança alimentar de milhares de famílias rurais.
Durante o fórum, os representantes de governo dos países participantes apresentaram s iniciativas, programas e políticas em implementação no setor algodoeiro, entre eles, o Estado Plurinacional da Bolívia, que destacou seu Programa Nacional de Algodões, lançado em 2022 e que segue em plena execução.
Algodão, moda, ancestralidade
No mesmo dia, as comemorações seguiram no Museu Nacional da República, que reuniu mais de 200 pessoas, incluindo representantes de governo dos países convidados, organismos internacionais, embaixadas, profissionais da indústria têxtil e estudantes de design.
O talk-show “Tendências em Moda e Materialidade na América Latina” contou com as participações do estilista colombiano Juan Pablo Martinez; da diretora de Relações Institucionais da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Silmara Ferraresi; do professor do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP), Marco Aurélio Lobo; do estilista Ronaldo Silvestre; e da representante do Instituto Lojas Renner, Fabíola Silvério. A moderação ficou a cargo de Graça Cabral, do instituto INMOD.
Em seguida, o auditório do Museu foi cenário do lançamento da coleção “América Latina veste-se de algodão”, que apresentou 30 looks produzidos com algodão da agricultura familiar e bordados por artesãs rurais do Brasil, Bolívia, Colômbia, Paraguai e Peru, apoiadas pelo projeto +Algodão.
As artesãs foram protagonistas de toda a narrativa contada durante o desfile, que buscou não somente enaltecer o processo manual do artesanato em algodão, que envolve desde o cultivo da fibra, a colheita, a fiação, a tecelagem e o bordado, mas também o trabalho das mulheres rurais artesãs, que guardam ensinamentos ancestrais. “Foi uma experiência extraordinária ver as vestimentas Ao Po’i bordadas pelas mãos das artesãs da minha comunidade Yataity apresentadas no desfile que exalta o trabalho das artesãs”, comentou Carolina Giménez, artesã paraguaia.
A coleção foi assinada por Juan Pablo Martinez, as peças brasileiras por Ronaldo Silvestri, e a curadoria do desfile sob responsabilidade de Paulo Borges, sócio criador e fundador do São Paulo Fashion Week.
Naquela noite, uma projeção na cúpula do Museu apresentou imagens da rede com mensagens sobre a importância do setor para a geração de emprego e renda.
Para a coordenadora do projeto +Algodão, Adriana Gregolin, o evento confirmou a excelência do algodão latino-americano e a força da arte e identidade do artesanato feito com esta matéria-prima. “Para a FAO e ABC essa foi a melhor forma de celebrar os 10 anos da cooperação internacional +Algodão”, disse.
Fórum regional algodoeiro
No dia 5 de outubro, a delegação internacional e brasileira participou da 5ª reunião do Fórum Regional Algodoeiro, na sede da Abrapa, onde se debateu sobre agricultura regenerativa e a contribuição da cadeia produtiva do algodão para mitigar as consequências das mudanças climáticas, ademais de ser uma fibra que se adapta através de seus sistemas diversificados de produçao. Os padrões de qualidade da produção brasileira e as boas práticas de rastreabilidade do algodão também foram temas durante a apresentação sobre o Programa Standard Brasil HVI (SBRHVI). O grupo visitou, ainda, o Centro Brasileiro de Análise de Algodão, de grande interesse para todos os paises. O Fórum Regional é impulsionado pela cooperação como uma rede de agremiações do setor algodoeiro de países da América Latina, criada em 2020, com o objetivo de trocar experiências e discutir soluções para os desafios enfrentados pela cadeia.
Ao final do evento, representantes dos países assinaram a Carta de Brasília, um convite para a continuidade do trabalho em conjunto em temas como acesso a mercados, certificações, melhor produção e enfrentamento às mudanças climáticas, destacando a urgência do planejamento de ações de cada país, com foco na sustentabilidade, a partir de suas realidades.
No dia 6 de outubro, um seminário regional promoveu o diálogo sobre os desafios e oportunidades para a disponibilidade de sementes de qualidade para o setor algodoeiro latino-americano. Entre as recomendações finais, a continuidade do trabalho em conjunto no âmbito da cooperação e dos intercâmbios de conhecimentos; a troca de germoplasma, pesquisando suas adaptações a cada país; a geração de novas variedades para melhor a qualidade da fibra e competitividade da produção; e o fomento da criação de bancos de germoplasma da agricultura familiar.
Dia Mundial do Algodão no Senado
As comemorações ao Dia Mundial do Algodão 2023 foram encerradas, no Senado Federal do Brasil, com uma sessão especial presidida pelo senador Izalci Lucas, que destacou a importância do algodão para a economia global. “É a fibra natural mais usada do mundo”. Márcio Portocarrero, diretor executivo da ABRAPA, anunciou que nesta safra o Brasil produziu 13 milhões de toneladas de pluma, passando a ocupar o primeiro lugar no ranking de exportações de algodão.
O representante da FAO no Brasil, Rafael Zavala, disse que cerca de 350 milhões de pessoas em todo o mundo desenvolvam atividades econômicas relacionadas à cadeia de valor do algodão. “Temos muitos desafios econômicos, sociais e tecnológicos ainda para impulsionar a cadeia algodoeira na nossa região, mas, com a cooperação entre as nações amigas, podemos seguir avançando”.
Representando a ABC, a ministra Andreia Rigueira, afirmou que com o amplo portfólio de projetos que englobam o programa de cooperação brasileira para fortalecimento do setor em países em desenvolvimento, “alcançamos resultados importantes, dando visibilidade internacional ao algodão”.
Aristeu Chaves, presidente da Empaer-PB, destacou a contribuição do algodão para a geração de empregos, para uma moda mais sustentável e na produção de alimentos por meios de sistemas diversificados de produção. Já Alderi Araújo, diretor executivo de governança e gestão da Embrapa, destacou a produção de algodão colorido, agroecológico e orgânico do nordeste brasileiro.
O Dia Mundial do Algodão, aprovado pela Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) em 2021 e comemorado em 7 de outubro, busca aumentar a visibilidade do setor algodoeiro e o seu papel no desenvolvimento econômico, no comércio internacional, na inclusão social e na redução da pobreza, especialmente para a agricultura familiar algodoeira em países em desenvolvimento.